Frente-a-frente entre Sócrates e Paulo Portas



As divergências nas políticas económicas e sociais marcaram hoje o debate televisivo entre José Sócrates e Paulo Portas, num frente-a-frente "ensombrado" pelo passado e em que o primeiro-ministro esteve ao ataque.

O líder do CDS-PP começou o debate com um retrato da actual situação económica do país, considerando que o primeiro-ministro "não percebe a realidade" e "é altamente responsável pela falta de apoio no desemprego e pela desprotecção social", sobretudo dos jovens e dos que têm mais de 55 anos.

Defendendo que é preciso baixar os impostos, que são "altíssimos", e virar as atenções para as pequenas e médias empresas (PME) para reanimar a economia, Portas lembrou que, na oposição, José Sócrates chegou a afirmar que "um desemprego de 6,4 por cento era a marca de uma governação falhada", quando hoje a taxa de desemprego supera os oito por cento.

O primeiro-ministro frisou que o seu Governo apoiou "40 mil PME" e recusou a responsabilidade pelo aumento do desemprego, afirmando que "até 2008 o desemprego não estava a crescer" o que "só aconteceu depois da crise internacional, em 2008.

O passado governativo de Paulo Portas, no Governo PSD/CDS-PP, foi largamente usado pelo primeiro-ministro, que esteve sempre ao ataque, afirmando que Portas "é perseguido pelo seu passado".

No final, Sócrates citou mesmo o título de um filme de terror: "Sei o que fizeste no Verão passado": "Eu também me lembro do que o senhor fez no governo passado e isso não pode passar sem ser apreciado", declarou.

Recusando ter uma atitude de optimismo mas sim "de determinação", Sócrates criticou desde logo a oposição por "receber com azedume" as notícias de que Portugal "saiu da recessão técnica" no segundo trimestre de 2009.

No debate, Portas considerou que José Sócrates falhou na governação económica e social, apesar de ter estado "quatro anos e meio no poder", de ter tido "uma maioria absoluta e um Presidente da República cooperante".

"Eu nunca fui primeiro-ministro e nunca tive maioria absoluta e nem a queria ter. Porque as maiorias absolutas transformam-se em arrogância e na falta de sentido de compromisso", declarou, na única alusão à questão das condições de governabilidade.

A área da Segurança Social e a política de pensões foi a que mais dividiu o líder socialista do presidente dos democratas-cristãos, com Portas a afirmar que no seu Governo "as pensões foram aumentadas 30 euros", enquanto que no Governo do PS "apenas 13 euros".

Em resposta a Sócrates, que tinha acusado Paulo Portas de ter "dormido descansado" no seu governo, o líder do CDS-PP contrapôs que o primeiro-ministro "dorme descansado com a injustiça social" do presente.

Na área da Segurança Social, José Sócrates considerou que a proposta do PSD "é pior" do que a do CDS-PP, considerando contudo que os democratas-cristãos querem "tirar dinheiro ao financiamento público para o sector privado".

Na resposta, Paulo Portas frisou que a sua proposta não obriga, mas possibilita descontos para sistemas privados a partir de seis salários mínimos nacionais e lembrou que "o sistema público de segurança social tem aplicados em bolsa 25 por cento" dos fundos.

Na educação, Paulo Portas acusou Sócrates de querer "virar os pais contra os professores" e defendeu que haja liberdade de escolha na escolha da escola, enquanto o secretário-geral do PS acusou o CDS-PP de querer "desviar recursos da escola pública". Nesta matéria, o líder do CDS disse que Sócrates passou "de zangado a delicado" em relação aos professores, numa alusão à entrevista do primeiro-ministro na RTP na terça-feira.


Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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