Louça vs Ferreira Leite: incidências


Um debate esclarecedor, talvez o primeiro deste ciclo tendo em vista as Legislativas. Já seria de esperar e Manuela Ferreira Leite e Francisco Louça não esconderam diferenças. O líder do Bloco queixou-se do perigo da privatização da segurança social e da saúde; a líder social-democrata defendeu o seu programa até ao fim e até chegou a dizer que «o que pensa o eng. José Sócrates é lá com ele».


Louçã está mais habituado a este tipo de debates, enquanto Ferreira Leite se estreava neste registo. A expectativa era baixa, mas a social-democrata esteve à altura dos acontecimentos, não conseguindo manter a fasquia alta num dos últimos pontos, na questão dos casamentos entre homossexuais.



"Nunca defendi a privatização da Segurança Social."


O debate começou pelas nacionalizações e logo óbvias diferenças. Nem sempre as regras foram cumpridas, houve debate real e a moderadora Constança Cunha e Sá nem teve de intervir muito. O bloquista tentava provocar com a privatização da Galp e da EDP, naquele que considerava ser «o debate de todas as diferenças», enquanto a social-democrata frisava que defende «a redução do peso do Estado», pois «não é possível o Estado ter um grande peso sem um grande peso dos impostos».


Um dos momentos de divergência séria foi relativa ao processo de nacionalizações pós-25 de Abril, pois Ferreira Leite considera que «destruiu a economia», o que demonstra que os «problemas graves não se resolvem com nacionalizações ou privatizações», pois «estamos a empobrecer». Já para Louça, «as nacionalizações pós-25 de Abril não destruíram a economia, porque a economia já estava destruída».




Saúde não se deve reger pelos números


Um dos temas mais fortes para Ferreira Leite foi a saúde, explicando que só não refere o Sistema Nacional de Saúde no seu programa porque não acredita em siglas, para além de não ter intenção de lhe mexer. Antes pretende impor pontos concretos, no sentido de tornar o SNS «universal e com qualidade», necessariamente com ajuda dos privados.


A líder social-democrata defende o fim das taxas moderadoras, pois não são relevantes e só servem para moderar quem procura os serviços de saúde. Louçã interpelava-a, dizendo que «as parcerias público-privadas são ridículas», até porque «os bons serviços existem no público». O bloquista confrontava a sua opositora e dizia que «está a fugir do seu programa como o diabo na cruz», quando Ferreira Leite dizia que determinada crítica não se podia aplicar, porque não estava no programa.


Louça discorda de se financiar os privados, «porque não tem qualidade e serviços fundamentais», enquanto Ferreira Leite lembrou que as questões da saúde «não se podem resumir a questões financeiras»: «Para mim é pior que alguém morra porque não teve a tempo um atendimento. Não devemos brincar com essas circunstâncias e se tivermos o sector privado para ajudar, digo que pago o excesso. No caso da saúde não se pode só estar a pensar na questão financeira».




Casamentos entre homossexuais


Na ponta final, a questão dos casamentos entre homossexuais acentuou diferenças. Louçã não surpreendeu, vincando a ideia de que «o Estado não pode escolher», por uma simples «questão de humanidade». Ferreira Leite até disse que concordava em parte, mas acabou por dizer que «a nossa sociedade está organizada numa base de uma determinada forma de família baseada no casamento, com uma estrutura jurídica específica».


Reconhecendo a «evolução do conceito», diz respeitar «as diferenças das pessoas e que tenham o seu projecto de vida em comum». No entanto, vincou diferenças: «O que não aceito é que não se considere que estas situações são diferentes. Nestas uniões não se perspectiva a existência de filhos. Perante situações diferentes há tratamentos diferentes (...) Defendo o casamento, mas não o imponho. O dr. Louçã não defende o casamento, mas impõe».


Fonte: IOL

POSTED BY Mari
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