Contra nova lei do aborto em Madrid
Centenas de milhares de pessoas manifestaram-se, ontem, nas ruas da capital espanhola, contra a nova lei do aborto do Governo de Rodriguez Zapatero. O desfile, convocado por 44 associações provida, à qual aderiram 333 diversas organizações, das quais 243 internacionais, foi o mais sério protesto contra uma medida do Executivo socialista nos cinco anos de liderança de Zapatero.
“Só consideraremos o aborto uma questão encerrada quando não houver um único aborto em Espanha”. Foi com estas palavras, que levam o protesto além da crítica ao projecto da revisão da legislação de 1985, que Benigno Blanco, presidente do Foro da Família, concluiu o desfile de hora e meia. Contudo, no comunicado final só era pedida a retirada do novo projecto e novos apoios à maternidade. Os organizadores movem-se, assim, numa calculada ambiguidade de objectivos.
“Avé Zapatero, os que vão morrer te saúdam”, lia-se num cartaz exibido por cinco jovens na marcha das Portas do Sol à Porta de Alcalá. Um lema à margem do oficial – “pela vida, a mulher e a maternidade” –, e um dos raros momentos de criatividade cidadã numa iniciativa marcada por uma grande organização. Tudo foi preparado ao pormenor: a palavra de ordem “sim à vida, aborto não”, impôs-se sem dificuldade. “Aborto, novo holocausto” foi outra das frases não previstas no guião, mas que serviu para expressar o repúdio pela alteração da lei do aborto apresentada pelo gabinete socialista.
“Não houve debate interno”, acusou Joaquin Montero, vereador do PSOE da localidade de Paradas, nos arredores de Sevilha, e o único manifestante que afirmou a sua condição de militante do partido do “punho e da rosa”. Montero não é novato. Já participou noutros desfiles contra o aborto. Contudo, as suas palavras retratam uma situação: os socialistas, após muitas dúvidas, não inscreveram a alteração da lei da interrupção voluntária da gravidez no seu programa eleitoral. Recuperaram-na, na legislatura, como medida fracturante. Ou seja, incómoda para a oposição conservadora: o Partido Popular (PP).
Na manifestação de ontem, os “populares” não estiverem oficialmente representados. Contudo, a secretária-geral, Maria Cospedall, esteve presente a título pessoal, bem como Esperanza Aguirre, presidente da Comunidade de Madrid e líder dos conservadores madrilenos, o principal viveiro de votos do PP. Outros dirigentes conservadores, de reconhecida militância católica, desfilaram, e o partido liderado por Mariano Rajoy já anunciou votar contra um projecto-lei que divide a sociedade espanhola: 42,2 por cento dos inquiridos numa recente sondagem consideram que não há motivos para a nova legislação. Mais: 63 em cada 100 afirmam não existir consenso para alterações à lei de 85.
A posição do PP é deliberadamente ambígua, até porque, nos oito anos de governo de José Maria Aznar, entre 1986 e 2004, o aborto nunca foi tema e foram praticadas cerca de 500 mil interrupções voluntárias de gravidez. Pelo que surpreende que Aznar tenha participado na manifestação. Que, pela atonia do protesto sindical contra a crise, se transformou numa enorme vaia à governação dos socialistas.
Mais compreensível é a posição da Igreja: não participa, mas anima; não desfila, mas está presente. A Conferência Episcopal Espanhola considerou a iniciativa “legítima e conveniente”, pelo que, nas últimas semanas, convocou através de cartas pastorais. Diocese a diocese.
Fonte: Público
“Só consideraremos o aborto uma questão encerrada quando não houver um único aborto em Espanha”. Foi com estas palavras, que levam o protesto além da crítica ao projecto da revisão da legislação de 1985, que Benigno Blanco, presidente do Foro da Família, concluiu o desfile de hora e meia. Contudo, no comunicado final só era pedida a retirada do novo projecto e novos apoios à maternidade. Os organizadores movem-se, assim, numa calculada ambiguidade de objectivos.
“Avé Zapatero, os que vão morrer te saúdam”, lia-se num cartaz exibido por cinco jovens na marcha das Portas do Sol à Porta de Alcalá. Um lema à margem do oficial – “pela vida, a mulher e a maternidade” –, e um dos raros momentos de criatividade cidadã numa iniciativa marcada por uma grande organização. Tudo foi preparado ao pormenor: a palavra de ordem “sim à vida, aborto não”, impôs-se sem dificuldade. “Aborto, novo holocausto” foi outra das frases não previstas no guião, mas que serviu para expressar o repúdio pela alteração da lei do aborto apresentada pelo gabinete socialista.
“Não houve debate interno”, acusou Joaquin Montero, vereador do PSOE da localidade de Paradas, nos arredores de Sevilha, e o único manifestante que afirmou a sua condição de militante do partido do “punho e da rosa”. Montero não é novato. Já participou noutros desfiles contra o aborto. Contudo, as suas palavras retratam uma situação: os socialistas, após muitas dúvidas, não inscreveram a alteração da lei da interrupção voluntária da gravidez no seu programa eleitoral. Recuperaram-na, na legislatura, como medida fracturante. Ou seja, incómoda para a oposição conservadora: o Partido Popular (PP).
Na manifestação de ontem, os “populares” não estiverem oficialmente representados. Contudo, a secretária-geral, Maria Cospedall, esteve presente a título pessoal, bem como Esperanza Aguirre, presidente da Comunidade de Madrid e líder dos conservadores madrilenos, o principal viveiro de votos do PP. Outros dirigentes conservadores, de reconhecida militância católica, desfilaram, e o partido liderado por Mariano Rajoy já anunciou votar contra um projecto-lei que divide a sociedade espanhola: 42,2 por cento dos inquiridos numa recente sondagem consideram que não há motivos para a nova legislação. Mais: 63 em cada 100 afirmam não existir consenso para alterações à lei de 85.
A posição do PP é deliberadamente ambígua, até porque, nos oito anos de governo de José Maria Aznar, entre 1986 e 2004, o aborto nunca foi tema e foram praticadas cerca de 500 mil interrupções voluntárias de gravidez. Pelo que surpreende que Aznar tenha participado na manifestação. Que, pela atonia do protesto sindical contra a crise, se transformou numa enorme vaia à governação dos socialistas.
Mais compreensível é a posição da Igreja: não participa, mas anima; não desfila, mas está presente. A Conferência Episcopal Espanhola considerou a iniciativa “legítima e conveniente”, pelo que, nas últimas semanas, convocou através de cartas pastorais. Diocese a diocese.
Fonte: Público