“Deus da Bíblia não é de fiar”, diz Saramago


O escritor português está surpreendido com o falatório em torno do mais novo romance: “tantos que falaram dele sem o ler”, disse. Em conferência de Imprensa, não deixou passar em claro a forma apressada como a Igreja reagiu a "Caim".


“É o livro de que mais se tem falado, embora não tivesse sido lido”, disse José Saramago, sobre a obra “Caim”, em conferência de Imprensa. “É quase magia, ou em relação a certos sectores, milagre”, acrescentou o escritor, surpreendido com o falatório que a obra suscitou.


“Todo este alvoroço se levanta não por causa do livro mas por causa de uma palavras que disse em Penafiel. E não disse nada que não se soubesse já”, referiu Saramago, sumariando o inferno que há na Bíblia: “Incesto, carnificina e violência de todo o tipo”.


"O Deus da Bíblia é rancoroso, vingativo e má pessoa. O Deus da Bíblia não é de fiar", sublinhou o Nobel da Literatura, com o exemplo da história de Sodoma, em que Deus esqueceu as crianças e os inocentes, ardendo todos no fogo.


“O que a Igreja queria, e não consegue, era ter um teólogo ao lado de cada leitor da Bíblia para explicar o que lá está”, argumentou. “Eu sou suficientemente ingénuo para ler o que lá está”, argumentou.


Escusando-se a comentar as palavras do eurodeputado do PSD, Mário David, que o exortou a desistir da nacionalidade portuguesa, o escritor estranhou a forma rápida como a Igreja respondeu. "Ainda o livro estava no forno, a sair para as livrarias, e já a Igreja estava a pronunciar-se", acrescentou.


“Não ando atrás de polémicas. Tenho umas certas convicções e digo umas certas coisas. Nada disto é gratuito. O Caim é uma companhia muito minha há muitos anos”, revelou José Saramago.


"Que há incompreensão, resistências e lóbis velhos, já se sabia", continuou. "Sou uma pessoa que desperta anti-corpos em certas pessoas, não sei bem porquê. Mas consigo viver bem com isso", argumentou.


O escritor reiterou a sua já conhecida opinião sobre a Bíblia e sobre Deus mas concedeu que o livro sagrado, não obstante ser “um rosário de incongruências", tem cosias admiráveis do ponto de vista literário e do pensamento”. E citou como exemplos positivos “O Cântico dos cânticos” e o “Livro dos Salmos”.



Fonte: JN

POSTED BY Mari
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