Irão deixa entrar inspectores da ONU


Os inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) vão poder visitar a nova central nuclear iraniana, localizada na proximidade da cidade santa xiita de Qom, já dentro de três semanas, anunciou esta manhã o chefe do organismo fiscalizador das Nações Unidas, Mohammed ElBaradei, numa conferência de imprensa partilhada, em Teerão, com o director da agência atómica iraniana.

Chegado na véspera ao Irão – num convite que lhe foi feito a 1 de Outubro em Genebra no reatamento das negociações a seis sobre o polémico programa de enriquecimento de urânio iraniano –, ElBaradei sublinhou que as relações do regime de Teerão com o Ocidente estão a passar da “conspiração” para a “cooperação” e que o diferendo sobre o nuclear pode ser resolvido pela via diplomática. Por seu lado, o homem forte do nuclear iraniano, Ali Akbar Salehi, congratulou-se pelo “grande sucesso” das conversações tidas hoje com ElBaradei.

O acesso dos inspectores da AIEA já a 25 de Outubro a Qom, cuja existência foi conhecida a 25 de Setembro, é um dos primeiros passos nessa via. “É importante para nós ter total cooperação na central de Qom. Tivemos diálogo, fomos esclarecidos sobre as instalações de Qom, que constitui uma central piloto de enriquecimento [de urânio]. É importante que haja transparência absoluta e que tenhamos acesso pleno a Qom e que nos possamos assegurar que a central foi construída com propósitos pacíficos”, precisou ElBaradei, sem deixar de reiterar que o Irão deveria ter informado a agência nuclear da ONU assim que decidiu construir a central.

Há pouco mais de uma semana, quando foi desvendada a existência desta segunda central nuclear iraniana, ElBaradei foi extremamente crítico, avaliando que Teerão estava a agir “do lado errado da lei” por não ter ainda informado a AIEA. Agora – depois do Irão ter acedido, logo em Genebra, a abrir as portas de Qom aos inspectores da ONU – a linguagem é de maior aproximação. ElBaradei avançou ainda que os negociadores dos seis (os cinco membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas – Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China – mais a Alemanha) voltarão a sentar-se à mesa com os representantes iranianos a 19 de Outubro para prosseguir as negociações sobre o programa nuclear de Teerão.

A já tensa desconfiança do Ocidente em relação às ambições atómicas iranianas agravou-se ainda mais no final do mês passado com a revelação da existência da central de Qom, a segunda do género no Irão. Muitas capitais ocidentais, com os Estados Unidos à cabeça, temem que o regime ultraconservador do Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, esteja a tentar desenvolver armamento nuclear – algo que o Irão nega persistentemente, sustentando que o enriquecimento de urânio se destina exclusivamente à produção de energia. Teerão tem vindo a manter-se irredutível face às pressões da comunidade internacional, recusando pôr termo ao seu programa nuclear, mesmo sob a ameaça de reforço de sanções por parte das Nações Unidas.



Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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