ArteLisboa começa hoje
É um mau momento para vender, mas - e é isto que interessa a quem paga bilhete - é um bom momento para comprar. Ao longo dos próximos cinco dias, a ArteLisboa reúne na FIL 67 galerias e obras de centenas de artistas. Para lá dos negócios a acontecer, é um momento decisivo para a feira: depois de uma década de descontentamento, mais galerias portuguesas do que nunca decidiram não participar. Daqui a meses a maioria também não vai à tradicional Arco, de Madrid. Há a feira de Vigo renovada. A crise está a mudar o contexto ibérico
Uma década de descontentamento e 14 meses de crise a trazer-nos até aqui: à edição decisiva da ArteLisboa, a nona.
A partir da inauguração de hoje - às 18h - e até segunda-feira, a única grande feira portuguesa de arte contemporânea reúne na FIL, no Parque das Nações, 67 galerias e centenas de obras de escultura, pintura, desenho e fotografia de artistas nacionais e internacionais. A caminho do décimo aniversário, deveria estar a preparar-se para um ano de celebração, mas, se para o grande público este é, em certa medida, um bom momento - bom para comprar, com os galeristas obrigados pela crise a negociar valores -, nos circuitos mais especializados o ambiente não é festivo, pelo contrário: a pressão é maior do que nunca, com o maior número de galerias portuguesas de sempre a decidirem não estar presentes.
Às vezes os factos escondem a verdade e este é um desses casos: em termos estritamente numéricos, e tendo em conta a recessão, o decréscimo de presenças não parece significativo. De 70 galerias, em 2008, das quais 45 portuguesas e 25 estrangeiras, a ArteLisboa chegou a 2009 com apenas menos três participantes. Contudo, o dilema de qualquer feira esconde-se para lá deste tipo de cálculo.
Este ano, das 67 galerias, 31 são espanholas - mais dez do que em 2008 e quase tantas quantas as portuguesas - 33 -, acrescendo as escassíssimas presenças extra-ibéricas - três: uma galeria coreana, uma húngara e uma cubana. O problema de sempre num evento com falta de identidade e, por isso, sem capacidade de captação de expositores internacionais de primeira linha. O problema de sempre, sim, mas agora transformado numa incapacidade de fidelização até dos interlocutores mais imediatos: as galerias nacionais.
São nomes de referência: a Cristina Guerra, a Fernando Santos e a Luís Serpa, que há já vários anos seguidos não participam, mas agora a juntarem-se-lhes a Graça Brandão, a Mário Sequeira, a Pedro Cera, a Vera Cortês, a VPF Cream Art, a Paulo Amaro, a 3+1 Arte Contemporânea, a Sete... Um verdadeiro êxodo.
Mário Teixeira da Silva, da Galeria Módulo, que faz parte do comité de selecção da feira e que está a falar pela directora, Ivânia Gallo, de baixa médica, diz que "tem sobretudo a ver com o momento difícil, em termos financeiros". "As galerias têm que fazer opções", explica. Acrescenta que, "embora possa enfermar de um certo número de questões, a ArteLisboa é a única feira que temos e tem que ser acarinhada".
"Há aquilo que é a realidade portuguesa. Primeiro que tudo há o público consumidor - o português - que não tem o hábito de apostar no mercado internacional. Assim é difícil a feira passar a outro nível. Há realmente muito mais a fazer, mas este é um momento difícil para toda a gente. A união faz a força: fugir não resolve o problema."
É o apelo clássico em momentos de crise. "Há que fazer esforços e não entrar em derrotismos. O ano passado já foi de crise. No fundo, estamos a tentar flutuar acima da ruína, mas há que pensar a mais longo prazo", diz Teixeira da Silva.
Não era este o ano para resolver os problemas estruturais: "A Associação das Indústrias Portuguesas [por detrás da ArteLisboa] é uma empresa e funciona como uma empresa. Tem os seus custos, os seus mundos. Por outro lado, para o momento que se atravessa, a ArteLisboa é uma feira nova e nada indica que uma feira internacional garanta mais resultados. É o mercado português que assegura a existência das galerias ao longo do ano. Temos deveres em relação ao nosso público." (...)
Mais em: Público
Uma década de descontentamento e 14 meses de crise a trazer-nos até aqui: à edição decisiva da ArteLisboa, a nona.
A partir da inauguração de hoje - às 18h - e até segunda-feira, a única grande feira portuguesa de arte contemporânea reúne na FIL, no Parque das Nações, 67 galerias e centenas de obras de escultura, pintura, desenho e fotografia de artistas nacionais e internacionais. A caminho do décimo aniversário, deveria estar a preparar-se para um ano de celebração, mas, se para o grande público este é, em certa medida, um bom momento - bom para comprar, com os galeristas obrigados pela crise a negociar valores -, nos circuitos mais especializados o ambiente não é festivo, pelo contrário: a pressão é maior do que nunca, com o maior número de galerias portuguesas de sempre a decidirem não estar presentes.
Às vezes os factos escondem a verdade e este é um desses casos: em termos estritamente numéricos, e tendo em conta a recessão, o decréscimo de presenças não parece significativo. De 70 galerias, em 2008, das quais 45 portuguesas e 25 estrangeiras, a ArteLisboa chegou a 2009 com apenas menos três participantes. Contudo, o dilema de qualquer feira esconde-se para lá deste tipo de cálculo.
Este ano, das 67 galerias, 31 são espanholas - mais dez do que em 2008 e quase tantas quantas as portuguesas - 33 -, acrescendo as escassíssimas presenças extra-ibéricas - três: uma galeria coreana, uma húngara e uma cubana. O problema de sempre num evento com falta de identidade e, por isso, sem capacidade de captação de expositores internacionais de primeira linha. O problema de sempre, sim, mas agora transformado numa incapacidade de fidelização até dos interlocutores mais imediatos: as galerias nacionais.
São nomes de referência: a Cristina Guerra, a Fernando Santos e a Luís Serpa, que há já vários anos seguidos não participam, mas agora a juntarem-se-lhes a Graça Brandão, a Mário Sequeira, a Pedro Cera, a Vera Cortês, a VPF Cream Art, a Paulo Amaro, a 3+1 Arte Contemporânea, a Sete... Um verdadeiro êxodo.
Mário Teixeira da Silva, da Galeria Módulo, que faz parte do comité de selecção da feira e que está a falar pela directora, Ivânia Gallo, de baixa médica, diz que "tem sobretudo a ver com o momento difícil, em termos financeiros". "As galerias têm que fazer opções", explica. Acrescenta que, "embora possa enfermar de um certo número de questões, a ArteLisboa é a única feira que temos e tem que ser acarinhada".
"Há aquilo que é a realidade portuguesa. Primeiro que tudo há o público consumidor - o português - que não tem o hábito de apostar no mercado internacional. Assim é difícil a feira passar a outro nível. Há realmente muito mais a fazer, mas este é um momento difícil para toda a gente. A união faz a força: fugir não resolve o problema."
É o apelo clássico em momentos de crise. "Há que fazer esforços e não entrar em derrotismos. O ano passado já foi de crise. No fundo, estamos a tentar flutuar acima da ruína, mas há que pensar a mais longo prazo", diz Teixeira da Silva.
Não era este o ano para resolver os problemas estruturais: "A Associação das Indústrias Portuguesas [por detrás da ArteLisboa] é uma empresa e funciona como uma empresa. Tem os seus custos, os seus mundos. Por outro lado, para o momento que se atravessa, a ArteLisboa é uma feira nova e nada indica que uma feira internacional garanta mais resultados. É o mercado português que assegura a existência das galerias ao longo do ano. Temos deveres em relação ao nosso público." (...)
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