Berlusconi recusa tirar crucifixos
"Oito países da Europa têm cruzes nas suas bandeiras. Também deverão retirar de lá as cruzes?", questiona primeiro-ministro italiano, dizendo que não cumprirá decisão da justiça europeia
Silvio Berlusconi garantiu ontem que os crucifixos não sairão das salas de aulas italianas, deixando claro que nenhuma instituição da União Europeia obrigará o Estado italiano a proceder dessa maneira. Uma reacção que contraria frontalamente o veredicto do Tribunal Europeu de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo, mas que agrada sem dúvida ao Vaticano e a uma parte significativa da população italiana, católica na sua esmagadora maioria.
"Trata-se de uma decisão não vinculativa, que não pode impedir a exibição dos crucifixos nas escolas do nosso país", declarou o chefe do Governo italiano, considerando "inaceitável" a decisão do órgão máximo da justiça comunitária. Num veredicto tornado público na semana passada, o tribunal deu provimento à queixa de uma cidadã italiana, Soile Lautsi, que em 2002 exigiu a retirada dos crucifixos na escola pública de Vittorino da Feltre, em Abano Treme, onde os seus filhos estudavam. A imagem de Cristo na cruz, alegou, punha em causa os princípios do laicismo em que pretendia educar os filhos. O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos deu-lhe agora razão, também em nome do laicis- mo, que deve prevalecer no Velho Continente.
"Oito países da Europa têm cruzes nas suas bandeiras nacionais. Esta decisão do tribunal significa que esses países deverão retirar igualmente as cruzes das respectivas bandeiras só porque lá vivem alguns cidadãos que poderão sentir-se incomodados com tal símbolo?", questionou Berlusconi.
Entre os países da União Europeia que têm cruzes nas bandeiras incluem-se o Reino Unido, a Dinamarca, a Finlândia, a Grécia, a Suécia, a Eslováquia e Malta. Suécia, Islândia e Noruega, que não estão integradas na UE, são outras nações europeias igualmente com cruzes nas bandeiras.
"Quem caminha por qualquer cidade italiana não pode fazê-lo sem encontrar, a cada 300 metros, por qualquer direcção que vá, o símbolo que representa as raízes e tradições cristãs. Até mesmo um ateu, suponho, pode reconhecer o facto de que o crucifixo está profundamente ligado à nossa história", declarou Berlusconi.
O Governo de Roma contestou a decisão de Estrasburgo apelando ao Parlamento Europeu e ao Conselho Europeu para se pronunciarem sobre este polémico assunto. Também o Tribunal Constitucional e o Conselho de Estado, em Itália, deverão emitir pareceres.
Fonte: DN