Morreu Jorge Ferreira



Das lutas políticas travadas no Liceu Gil Vicente, em Lisboa, após o 25 de Abril, até à fundação do Partido da Nova Democracia (PND), em 2003, e, mais recentemente, ao activismo espelhado no seu blogue (tomarpartido.blogs.sapo.pt), Jorge Ferreira manteve intocável uma das faculdades que mais o distinguiram na vida político-partidária: a frontalidade. É essa a qualidade mais evidenciada por quem acompanhou a sua vida política, ao seu lado e no campo adversário.

Jorge Ferreira, 48 anos, morreu esta manhã, em Lisboa, vítima de doença prolongada. O velório realiza-se hoje, a partir das 20h00, na igreja da Penha de França, em Lisboa. E o funeral sai amanhã, às 15h00, da igreja para o cemitério de Oeiras.

Na passada semana enviou aos seus alunos do Instituto Politécnico de Tomar, onde dava aulas há dez anos, uma carta de despedida. E no blogue que criou em Dezembro de 2006, o último texto que escreveu (sobre os cálculos do Governo para o défice deste ano) data da última quinta-feira, dia em que publicou 11 “posts”.

Através deste blogue, que actualizava quase diariamente, os leitores ficaram a conhecê-lo um pouco melhor: gostava dos Queen, de coleccionar postais antigos, e do filme “Era uma vez na América”, de Sergio Leone.

O activismo político deste advogado teve início nos movimentos associativos estudantis. Seguiu-se a Juventude Centrista (JC), onde conheceu Manuel Monteiro, e depois o CDS-PP. Durante a liderança de Monteiro ocupou as funções de vice-presidente do partido e, entre 1996 e 1998, foi líder da bancada parlamentar. “Já nas reuniões da JC nunca se preocupava em ter votos ou palmas, mas antes em dizer a verdade. E fez o mesmo no Parlamento”, recorda Monteiro. Que diz ter partilhado com Ferreira uma “lealdade” e uma “cumplicidade” singulares na política nacional. “Eu não perco um amigo; perco o amigo. Deu-me muito mais a mim do que eu a ele.”

Foi quando Ferreira liderava o grupo democrata-cristão que Maria José Nogueira Pinto se estreou no Parlamento, tendo sido a sua sucessora na presidência da bancada. “Foi extremamente generoso porque ensinou-me e explicou-me tudo na fase de transição”, afirma. “Tinha um feito muito especial. Era frontal e impulsivo”, lembra, sublinhando que “são pessoas assim que fazem falta.”

A frontalidade e a generosidade de Ferreira são também evocadas por Miguel Relvas, o social-democrata que, nas autárquicas, reencontrou-se com o seu amigo na corrida à câmara de Tomar – Relvas foi candidato à Assembleia Municipal, e Ferreira encabeçou o movimento independente “Tomar em primeiro lugar”. “Muitos dos seus adversários”, diz, “confundiam a sua frontalidade com uma atitude belicista, mas ele era muito generoso”.

João Almeida, secretário-geral do CDS/PP, afirmou, citado pela Lusa, que Ferreira “fez parte de uma geração que renovou o partido” em meados dos anos 90.




Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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