Air: Música amena para Coliseu
Air
Lisboa, Coliseu dos Recreios.
Sábado, 21h30.
Lotação esgotada.
3 estrelas (em 5)
Lisboa, Coliseu dos Recreios.
Sábado, 21h30.
Lotação esgotada.
3 estrelas (em 5)
Não chegou a ser mau, mas também não entusiasmou, aquele que foi o primeiro grande concerto de 2010 em Lisboa. Os franceses Air, perante um coliseu repleto e rendido desde o primeiro momento, que lhes dispensou aplausos ao longo da noite, deram um espectáculo ameno, reflectindo alguns dos conflitos que atravessam, mais de 12 anos depois do início.
Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel são estetas, homens de estúdio capazes de criar canções através de rendilhados electrónicos e sugestões exteriores, que vão da dissonância psicadélica ao perfume da canção ligeira francesa, conseguindo perceber o contexto pop global onde se inserem e, conjunturalmente, revitalizando-o, de forma estilizada. Mas quem acompanhou o seu percurso sabe que os espectáculos ao vivo nunca foram o seu forte. Os próprios têm essa consciência.
Ao longo do tempo foram conseguindo diluir essa imagem apresentando concertos com algum aparato cénico ou formações de músicos mais ambiciosas. Agora são apenas eles dois e um baterista, como se quisessem mostrar que já não precisam de se proteger. Ninguém deseja mais músicos pop a dizer banalidades entre canções ou a fazer malabarismos técnicos. Não é isso. Mas exigia-se uma presença mais intensa em palco.
Com a agravante, nesta fase da carreira, em que se sente que já não tocam com o mesmo prazer renovado as canções que lhes granjearam culto, mostrando outro investimento quando abordam o mais recente álbum, "Love 2". É normal. O problema é que as canções dos últimos anos não têm a mesma vitalidade.
A primeira metade do concerto foi marcada, precisamente pelas canções mais recentes, como "Do the joy", "So light is her footfall" ou o tropicalismo de "Love", entrecortadas por outras "pertencentes ao álbum "talkie walkie", como "space maker e "venus". Foi a fase mais densa da noite, com os músicos vestidos de branco, compenetrados, entregando-se a digressões instrumentais, em teclados, bateria, guitarra eléctrica e acústica, que transgridem aquilo que se ouve em disco.
Depois vieram interpretações mais pragmáticas, e também mais envolventes em termos de criação de ambiente, de canções como "Cherry blossom girl", "Be a bee", "How does it make you feel?" ou a versão instrumental do excelente "Playground love". Houve também alguma comunicação com a plateia pelo meio, apesar de reconhecerem que a única palavra portuguesa que conhecem, além de “obrigada”, é “beijos”. Antes de se fazer ouvir o assobio de "Alpha beta gaga" ironizaram, dizendo que “tanto podia ser cantada em português como em francês”.
Para o final ficou "Kelly watch the stars", recebida com entusiasmo, antes de no encore se fazerem ouvir os inevitáveis "Sexy boy" e "La femme d’ argent". Resultado, um concerto mediano, apresentado sem mácula, mas também sem rasgos.
Fonte: Público