Indústria discográfica: o futuro
Nick Crocker, visionário das coisas digitais, prevê o que de facto vai ser importante no 2010 feito de música
Tudo indica que a primeira era da música digital pode estar a chegar ao fim. O Napster morreu, a partilha de ficheiros P2P situou-se numa zona obscurecida pelo mercado negro, os serviços de streaming suportados por receitas publicitárias foram sufocados pelas taxas de licença insustentáveis e os serviços de assinatura revelaram-se fracos e instáveis, não tendo despertado realmente o interesse dos amantes da música. 2009 terminou com uma onda de aquisições (LaLa, iLike), lançamentos (Vevo) e encerramentos (iMeem). Estes alteraram drasticamente o panorama da música digital que, quando a poeira assentar, deverá renascer. Tendo isto em mente, eis as minhas cinco previsões para a música em 2010.
1. As Editoras encontrarão uma resposta
Há mais de uma década que a música digital se vem afirmando, mas as principais editoras discográficas começam agora a agarrar a oportunidade. Concedem licenças musicais com condições mais sustentáveis, diversificam o modelo de negócio, investem em novas tecnologias e, principalmente, compreendem melhor do que nunca o que de facto significa ser-se orientado pelo consumo.
Enquanto líderes de mercado, as maiores editoras dispõem dos recursos e das redes que lhes permitem tirar o melhor partido das mudanças em curso. A evolução do suporte físico para o digital não tem sido tão rápida como muita gente poderia desejar porque o digital não é tão rentável. Os CD, quando vendem bem, continuam a render bom dinheiro. Com o digital não é assim. Contudo, isto está a mudar. Da mesma forma que as maiores discográficas se têm contraído, a sua capacidade de mudança tem aumentado. Prevejo que 2010 será o ano em que as notícias desfavoráveis sobre as principais editoras começarão a tornar-se mais positivas.
As promessas da era digital - uma compreensão mais profunda dos consumidores de música, venda de bilhetes e promoção integradas, venda directa ao consumidor e fãs no papel de promotores - estão todas prestes a tornar-se realidade. Os principais grupos editoriais irão liderar esta investida.
2. As vendas de CD físicos continuarão a cair
Para garantir que pelo menos uma das minhas previsões se concretiza, vou prever que globalmente as vendas de CD físicos irão cair em 2010. Decididamente, podem contar com isto.
3. As estratégias de lançamento irão evoluir
O modelo tradicional de criar furor através de singles na rádio, seguidos do lançamento cuidadosamente programado do álbum, continuará a ser a norma para a música pop comercial. No entanto, à margem, começaremos a encontrar um novo modelo de edição de música, em maior sintonia com a diversificada comunidade de consumidores.
O novo modelo, descoberto pela Topspin Media, será o lançamento gradual, por categorias. Os artistas irão começar por oferecer gratuitamente músicas completas e downloads seleccionados aos curiosos e aos admiradores fervorosos, construindo as suas bases de fãs à medida que crescem. Seguir-se-ão planos de lançamento tradicionais, em simultâneo com produtos mais inovadores, a preços mais variados, para grupos de fãs segmentados de forma mais específica.
Em vez de apenas um CD de plástico, passaremos a encontrar várias categorias de produtos musicais: streams gratuitos e MP3 de baixa qualidade, pacotes simples de música digital e física, áudio melhorado e embalagens com lançamentos em suportes digitais e físicos e depois produtos de alta qualidade, incluindo vinis, artigos promocionais e alargamento do acesso ao artista. Agora, ainda pensamos em música na sua forma física, como um CD na prateleira. Gradualmente, iremos entendê-la como uma série de produtos musicais - T-shirts, canecas, livros, arte emoldurada, folhas com letras de músicas assinadas pelo autor, USB e, uma vez por outra, experiências musicais.
4. A música irá andar nas nuvens
Há algum tempo que se fala disso, mas 2010 poderá ser o ano em que pensaremos na música não tanto como um produto acabado e mais como uma reserva infinita e imediata, acessível a qualquer momento mediante o pagamento de uma taxa.
Este processo irá desenvolver--se a par da evolução dos "produtos" musicais. Mesmo sendo universalmente acessível, a música continua a ser essencial para a identidade das pessoas. Continuamos a precisar de algo para ouvir à mesa do café, algo para passar aos amigos, algo para oferecer no Natal e algo que nos ajude a dizer ao mundo que "esta música é parte de mim e quero que vocês a conheçam."
O iTunes, como sempre, está em posição para impulsionar grande parte desta mudança. Com a aquisição do site LaLa, poderemos vê-lo a dominar o mercado do streaming, tal como domina actualmente o da música digital. O furor do Spotify parece ter acalmado, mas continua a ser o serviço de streaming mais bem colocado para tirar partido do potencial do sector. O crescimento do Grooveshark, caso se mantenha, irá torná-lo um importante actor na cena do streaming.
O MySpace, com o iMeem e o iLike na retaguarda, também poderá consolidar o seu lugar no campo do streaming. Por fim, o Google - que detém a ponte sobre o fosso, digitalmente falando - poderá puxar o tapete a todos e fornecer músicas devidamente integradas na sua plataforma de pesquisa. Deste conjunto, quem se chegar à frente estará em território novo, fornecendo acesso à música mundial, a qualquer momento, em qualquer lugar e em qualquer dispositivo.
5. Quem sabe?
Existem ainda alguns modelos de consumo a ganhar impulso. A Guvera promete o mundo não só à indústria da música como também aos anunciantes. Porém, ainda falta saber se os consumidores vêem os seus anúncios em troca dos conteúdos. O Rdio, com progenitores de peso e muito dinheiro a apoiá-lo, ainda não se revelou completamente mas podem ter a certeza de que, independentemente do que venha a oferecer, não será trivial.
No meio de tanto frenesi, esquece-se o facto de que algumas empresas de música digital - Last.FM, Pandora e MySpace, para nomear apenas algumas - contam ainda com as marcas estabelecidas, a base de consumidores e os meios de rendimento que preservam a sua existência para além do entretenimento da blogosfera tecnológica e musical.
E, claro, há o Facebook, o maior país do mundo (ou prestes a sê--lo). O Facebook e a música têm sido sempre parceiros incómodos. Se a Zuckerberg and Co. descobrir uma forma de integrar música na plataforma do Facebook, a base de utilizadores existente garantir-lhe-á uma grande parcela do mercado, da noite para o dia.
Tudo isto redunda numa grande incerteza. O vazio será preenchido da forma que a Web melhor conhece - pelos seus utilizadores finais. O que os utilizadores decidirem que preferem acabará por determinar os vencedores e os vencidos na economia da música digital. Enquanto apreciador apaixonado de música, mal posso esperar que a competição aqueça. Para os que se encontram na fronteira digital, a música está realmente melhor do que alguma vez esteve.
Nick Crocker é director-executivo da Native Digital e co-fundador do We Are Hunted (www.wearehunted.com)
Fonte: ionline
Tudo indica que a primeira era da música digital pode estar a chegar ao fim. O Napster morreu, a partilha de ficheiros P2P situou-se numa zona obscurecida pelo mercado negro, os serviços de streaming suportados por receitas publicitárias foram sufocados pelas taxas de licença insustentáveis e os serviços de assinatura revelaram-se fracos e instáveis, não tendo despertado realmente o interesse dos amantes da música. 2009 terminou com uma onda de aquisições (LaLa, iLike), lançamentos (Vevo) e encerramentos (iMeem). Estes alteraram drasticamente o panorama da música digital que, quando a poeira assentar, deverá renascer. Tendo isto em mente, eis as minhas cinco previsões para a música em 2010.
1. As Editoras encontrarão uma resposta
Há mais de uma década que a música digital se vem afirmando, mas as principais editoras discográficas começam agora a agarrar a oportunidade. Concedem licenças musicais com condições mais sustentáveis, diversificam o modelo de negócio, investem em novas tecnologias e, principalmente, compreendem melhor do que nunca o que de facto significa ser-se orientado pelo consumo.
Enquanto líderes de mercado, as maiores editoras dispõem dos recursos e das redes que lhes permitem tirar o melhor partido das mudanças em curso. A evolução do suporte físico para o digital não tem sido tão rápida como muita gente poderia desejar porque o digital não é tão rentável. Os CD, quando vendem bem, continuam a render bom dinheiro. Com o digital não é assim. Contudo, isto está a mudar. Da mesma forma que as maiores discográficas se têm contraído, a sua capacidade de mudança tem aumentado. Prevejo que 2010 será o ano em que as notícias desfavoráveis sobre as principais editoras começarão a tornar-se mais positivas.
As promessas da era digital - uma compreensão mais profunda dos consumidores de música, venda de bilhetes e promoção integradas, venda directa ao consumidor e fãs no papel de promotores - estão todas prestes a tornar-se realidade. Os principais grupos editoriais irão liderar esta investida.
2. As vendas de CD físicos continuarão a cair
Para garantir que pelo menos uma das minhas previsões se concretiza, vou prever que globalmente as vendas de CD físicos irão cair em 2010. Decididamente, podem contar com isto.
3. As estratégias de lançamento irão evoluir
O modelo tradicional de criar furor através de singles na rádio, seguidos do lançamento cuidadosamente programado do álbum, continuará a ser a norma para a música pop comercial. No entanto, à margem, começaremos a encontrar um novo modelo de edição de música, em maior sintonia com a diversificada comunidade de consumidores.
O novo modelo, descoberto pela Topspin Media, será o lançamento gradual, por categorias. Os artistas irão começar por oferecer gratuitamente músicas completas e downloads seleccionados aos curiosos e aos admiradores fervorosos, construindo as suas bases de fãs à medida que crescem. Seguir-se-ão planos de lançamento tradicionais, em simultâneo com produtos mais inovadores, a preços mais variados, para grupos de fãs segmentados de forma mais específica.
Em vez de apenas um CD de plástico, passaremos a encontrar várias categorias de produtos musicais: streams gratuitos e MP3 de baixa qualidade, pacotes simples de música digital e física, áudio melhorado e embalagens com lançamentos em suportes digitais e físicos e depois produtos de alta qualidade, incluindo vinis, artigos promocionais e alargamento do acesso ao artista. Agora, ainda pensamos em música na sua forma física, como um CD na prateleira. Gradualmente, iremos entendê-la como uma série de produtos musicais - T-shirts, canecas, livros, arte emoldurada, folhas com letras de músicas assinadas pelo autor, USB e, uma vez por outra, experiências musicais.
4. A música irá andar nas nuvens
Há algum tempo que se fala disso, mas 2010 poderá ser o ano em que pensaremos na música não tanto como um produto acabado e mais como uma reserva infinita e imediata, acessível a qualquer momento mediante o pagamento de uma taxa.
Este processo irá desenvolver--se a par da evolução dos "produtos" musicais. Mesmo sendo universalmente acessível, a música continua a ser essencial para a identidade das pessoas. Continuamos a precisar de algo para ouvir à mesa do café, algo para passar aos amigos, algo para oferecer no Natal e algo que nos ajude a dizer ao mundo que "esta música é parte de mim e quero que vocês a conheçam."
O iTunes, como sempre, está em posição para impulsionar grande parte desta mudança. Com a aquisição do site LaLa, poderemos vê-lo a dominar o mercado do streaming, tal como domina actualmente o da música digital. O furor do Spotify parece ter acalmado, mas continua a ser o serviço de streaming mais bem colocado para tirar partido do potencial do sector. O crescimento do Grooveshark, caso se mantenha, irá torná-lo um importante actor na cena do streaming.
O MySpace, com o iMeem e o iLike na retaguarda, também poderá consolidar o seu lugar no campo do streaming. Por fim, o Google - que detém a ponte sobre o fosso, digitalmente falando - poderá puxar o tapete a todos e fornecer músicas devidamente integradas na sua plataforma de pesquisa. Deste conjunto, quem se chegar à frente estará em território novo, fornecendo acesso à música mundial, a qualquer momento, em qualquer lugar e em qualquer dispositivo.
5. Quem sabe?
Existem ainda alguns modelos de consumo a ganhar impulso. A Guvera promete o mundo não só à indústria da música como também aos anunciantes. Porém, ainda falta saber se os consumidores vêem os seus anúncios em troca dos conteúdos. O Rdio, com progenitores de peso e muito dinheiro a apoiá-lo, ainda não se revelou completamente mas podem ter a certeza de que, independentemente do que venha a oferecer, não será trivial.
No meio de tanto frenesi, esquece-se o facto de que algumas empresas de música digital - Last.FM, Pandora e MySpace, para nomear apenas algumas - contam ainda com as marcas estabelecidas, a base de consumidores e os meios de rendimento que preservam a sua existência para além do entretenimento da blogosfera tecnológica e musical.
E, claro, há o Facebook, o maior país do mundo (ou prestes a sê--lo). O Facebook e a música têm sido sempre parceiros incómodos. Se a Zuckerberg and Co. descobrir uma forma de integrar música na plataforma do Facebook, a base de utilizadores existente garantir-lhe-á uma grande parcela do mercado, da noite para o dia.
Tudo isto redunda numa grande incerteza. O vazio será preenchido da forma que a Web melhor conhece - pelos seus utilizadores finais. O que os utilizadores decidirem que preferem acabará por determinar os vencedores e os vencidos na economia da música digital. Enquanto apreciador apaixonado de música, mal posso esperar que a competição aqueça. Para os que se encontram na fronteira digital, a música está realmente melhor do que alguma vez esteve.
Nick Crocker é director-executivo da Native Digital e co-fundador do We Are Hunted (www.wearehunted.com)
Fonte: ionline