Invictus: Um ensaio sobre a vida
Estreia hoje, quinta-feira, "Invictus", o novo filme de Clint Eastwood. Apesar de se centrar na figura mítica do líder sul-africano Nelson Mandela, a obra, como sempre na filmografia do realizador norte-americano, é um ensaio sobre a vida. Com Morgan Freeman e Matt Damon. Veja o trailer.
"Invictus" é muito mais do que uma biografia do líder sul-africano, algo que, aliás, nunca o chega a ser, no sentido mais académico do chamado "biopic", designação sob a qual recaem quase sempre obras de interesse social, mas muitas vezes limitadas enquanto objectos cinematográficos.
Atente-se, aliás, no cartaz do filme. Nelson Mandela, ou, melhor, Morgan Freeman, aparece em segundo plano, e de costas voltadas para nós. À frente, quem vemos é Matt Damon, com a camisola da selecção sul-africana de rugby, personificando o seu capitão, François Pienaar.
O filme ambienta-se nos primeiros tempos do mandato presidencial de Mandela, na época em que, sob a batuta do homem que passara a maior parte da sua vida na prisão, o país vivia um tempo de reconciliação nacional organizado de forma única, colocando frente a frente vítimas e carrascos, para resolver de uma vez por todas, e de forma pacífica, os traumas que um regime anti-apartheid - e anti-natura - durante tanto tempo criara.
"Invictus" centra-se no feito da equipa de rugby da África do Sul, que, contra todas as expectativas, e de forma dramática, venceria a toda poderosa selecção da Nova Zelândia, na final do campeonato do Mundo da modalidade, organizado naquele país em 1995.
Mas 1995 e 2010 são realidades de todo distintas e o que o filme aborda é a visão de um homem de enorme generosidade, apesar de mais de um quarto de século passado a dormir no chão de uma cela numa ilha isolada. Aliás, a selecção de rugby da África do Sul sempre foi uma "coutada" particular da elite branca que dominou o país de maioria negra durante décadas, enquanto a equipa nacional de futebol, a quem também se devem alguns enormes feitos desportivos, era maioritariamente constituída por jogadores de cor.
E é precisamente em aparente paradoxo que Mandela envolve a equipa de rugby num momento de reunificação nacional, que, como os portugueses sabem bem pela experiência do Euro 2004, é bem mais fácil de conseguir através de uma selecção que congregue os desejos colectivos de uma nação do que através de um qualquer decreto de um Governo, por mais maioritário que seja.
Jovem com mais de 80 anos
Mas se este é o "tema" do filme, decerto nunca teria o mesmo alcance se fosse vertido para filme por um qualquer tarefeiro de serviço a um estúdio norte-americano.
Pelo contrário, Clint Eastwood, apesar dos seus mais de 80 anos, continua um cineasta jovem, ambicioso e corajoso. Além de inteligente, na forma como orquestrou a narrativa, e talentoso, enquanto contador único de histórias. A que agora nos conta é das mais extraordinárias que o Homem viveu num século XX que nem sempre será recordado pelos melhores motivos.
Fonte: JN
"Invictus" é muito mais do que uma biografia do líder sul-africano, algo que, aliás, nunca o chega a ser, no sentido mais académico do chamado "biopic", designação sob a qual recaem quase sempre obras de interesse social, mas muitas vezes limitadas enquanto objectos cinematográficos.
Atente-se, aliás, no cartaz do filme. Nelson Mandela, ou, melhor, Morgan Freeman, aparece em segundo plano, e de costas voltadas para nós. À frente, quem vemos é Matt Damon, com a camisola da selecção sul-africana de rugby, personificando o seu capitão, François Pienaar.
O filme ambienta-se nos primeiros tempos do mandato presidencial de Mandela, na época em que, sob a batuta do homem que passara a maior parte da sua vida na prisão, o país vivia um tempo de reconciliação nacional organizado de forma única, colocando frente a frente vítimas e carrascos, para resolver de uma vez por todas, e de forma pacífica, os traumas que um regime anti-apartheid - e anti-natura - durante tanto tempo criara.
"Invictus" centra-se no feito da equipa de rugby da África do Sul, que, contra todas as expectativas, e de forma dramática, venceria a toda poderosa selecção da Nova Zelândia, na final do campeonato do Mundo da modalidade, organizado naquele país em 1995.
Mas 1995 e 2010 são realidades de todo distintas e o que o filme aborda é a visão de um homem de enorme generosidade, apesar de mais de um quarto de século passado a dormir no chão de uma cela numa ilha isolada. Aliás, a selecção de rugby da África do Sul sempre foi uma "coutada" particular da elite branca que dominou o país de maioria negra durante décadas, enquanto a equipa nacional de futebol, a quem também se devem alguns enormes feitos desportivos, era maioritariamente constituída por jogadores de cor.
E é precisamente em aparente paradoxo que Mandela envolve a equipa de rugby num momento de reunificação nacional, que, como os portugueses sabem bem pela experiência do Euro 2004, é bem mais fácil de conseguir através de uma selecção que congregue os desejos colectivos de uma nação do que através de um qualquer decreto de um Governo, por mais maioritário que seja.
Jovem com mais de 80 anos
Mas se este é o "tema" do filme, decerto nunca teria o mesmo alcance se fosse vertido para filme por um qualquer tarefeiro de serviço a um estúdio norte-americano.
Pelo contrário, Clint Eastwood, apesar dos seus mais de 80 anos, continua um cineasta jovem, ambicioso e corajoso. Além de inteligente, na forma como orquestrou a narrativa, e talentoso, enquanto contador único de histórias. A que agora nos conta é das mais extraordinárias que o Homem viveu num século XX que nem sempre será recordado pelos melhores motivos.
Fonte: JN