Bond como nunca o lemos


Reedições dos livros escritos por Ian Flemingnos anos 50 e 60 chegam agora ao mercado português.

Há muito esgotadas no mercado livreiro português, as histórias que Ian Fleming escreveu entre 1953 e 1963 voltam a estar disponíveis em novas e apelativas edições que celebram o agente secreto mais famoso de todos os tempos.

Não há exagero algum se se disser que o contacto com as histórias de 007 permite um conhecimento tão aturado sobre a geopolítica e a história do planeta no período pós-Segunda Guerra Mundial como o mais sisudo dos tratados políticos.

Afinal, mesmo com sexo e mulheres bonitas à mistura, está lá tudo: os jogos de bastidores, as batalhas fratricidas e a percepção de que tanto a política como os negócios se assemelham muitas vezes a uma partida de xadrez disputada por dois mestres em que cada jogada nunca surge por mero acaso.

Mas, por mais complexa que seja a intriga de ocasião, é impossível não resistir à suspeita de que as perseguições, o aparato tecnológico ou os maus da fita são, enfim, apenas um pretexto para a exibição de um estilo de vida faustoso que consegue fazer sonhar qualquer um. Desde que Fleming publicou em 1953 "Casino Royale" não criou apenas uma das personagens ficcionais mais célebres do século XX. Há nestas histórias de recorte maniqueísta, com uma divisão clara entre os bons e os mais, toda uma celebração de um modo de vida hedonista (os carros, as mulheres, um vodca martini, as praias...) que tantos milhões tem seduzido ao longo de mais de meio século.

Para cinéfilos e não só

É certo que, embora traduzidos para 15 idiomas e com milhões de exemplares vendidos, os livros que Ian Fleming escreveu foram sobretudo um suporte para as investidas cinematográficas protagonizadas até à data por Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig.

Ainda assim, Amaia Iglésias - editora da Contraponto, que acaba de reeditar "Casino Royale", "Vive e deixa morrer" e "Dr. No", além da estreia editorial do volume de contos "Quantum of solace" - não é da opinião que o naipe de potenciais leitores destas histórias se esgota nos apreciadores dos filmes. "Ian Fleming é um autor clássico de literatura de espionagem e, portanto, as suas obras são apelativas para um público mais amplo, com vontade de deixar-se seduzir por Bond e pelas Bondgirls", sublinha.

O calendário das edições ainda está definido, mas é intenção da Contraponto prosseguir em breve com a publicação dos restantes títulos da série.

O alter-ego Bond

Falecido prematuramente em 1964, Fleming já não pôde assistir ao desenvolvimento da sua criação maior. Se algumas das transformações ocorridas nos filmes eram inevitáveis - o colapso do regime soviético obrigou a que o inimigo deixasse de estar situado apenas no Bloco de Leste -, outras, pelo contrário, são, no mínimo, duvidosas. Em nome do politicamente correcto, Bond deixou de fumar os seus adorados "Morland Specials" e os filmes mais recentes passaram a ser um corropio de marcas publicitárias, a principal fonte de financiamento, aliás, da produção.

Do que não restam dúvidas é que Fleming, correspondente de guerra e comandante do Serviço de Inteligência da Marinha Inglesa, fez de Bond uma espécie de versão aperfeiçoada de si próprio, incutindo-lhe os mesmos gestos, vícios e manias mas acrescentando-lhe ao mesmo tempo um sentido de charme irresistível, sintetizado na forma singular como se apresentava: "Bond. James Bond".




Fonte: JN

POSTED BY Joana Vieira
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