Obama opta por objectivos minimalistas


O vice-presidente americano, Joe Biden, chegou ontem a Israel para uma visita de cinco dias com o duplo objectivo de tranquilizar os israelitas em matéria de segurança e anunciar o relançamento do processo de paz, através de conversações indirectas. É o mais alto responsável da administração a visitar Israel desde a posse de Barack Obama, em Janeiro de 2009. Trata-se, aparentemente, de manter acesa a chama da paz, sem grandes rasgos nem grandes riscos até às eleições de Novembro para o Congresso americano.

Biden foi precedido pelo enviado especial de Obama, George Mitchell, e por declarações oficiais do Governo israelita e da Autoridade Palestiniana (AP) aceitando o novo método de "negociações de proximidade".

E também por uma decisão do Mi- nistério da Defesa israelita autorizando a construção de mais 112 fogos na Cisjordânia. Perante o protesto palestiniano, o Governo negou ser uma violação do "congelamento" da colonização, visto ter sido prevista pelo anterior executivo e motivada por "razões de segurança".

Mitchell advertiu ambas as partes contra os riscos de "declarações ou acções que inflamem as tensões ou prejudiquem o desfecho destas conversações".



Um "vice" poderoso

As relações entre Israel e os EUA já conheceram melhores dias. O público israelita, habituado aos enfáticos "gestos especiais" de Bill Clinton e George W. Bush, "sentiu de repente que já não tinha um amigo na Casa Branca", escreve o diário "Ha"aretz" (esquerda). E a Casa Branca descobriu que nem israelitas nem árabes a têm ajudado na sua agenda para o Médio Oriente, bem pelo contrário.

A missão de Biden seria "abrir um novo capítulo" nas relações entre o Governo de Bibi Netanyahu e a Administração Obama, "reconhecendo a importância política de Israel e dos seus apoiantes na América, na perspectiva das eleições de Novembro".

O "Jerusalem Post" (direita) sublinha que Biden não é apenas um VIP mas um "poderoso vice-presidente", o mais influente conselheiro de Obama em política externa e, por isso, a visita pesa. Visa passar a mensagem de que os EUA permanecem empenhados no processo de paz e que, sobretudo, não descuram as preocupações de segurança israelitas, designadamente as relativas ao Irão.

Biden confirmou este propósito numa entrevista ao "Yedioth Ahronoth", sublinhando a extensão da ajuda militar americana e a firmeza perante Teerão. "Um Irão com arma nuclear não constitui apenas uma ameaça para Israel - constituiria também uma ameaça para os EUA."



Adiar para 2011

As negociações estão há meses suspensas. Mitchell, que no domingo foi recebido por Bibi e a seguir irá falar com Mahmoud Abbas, fará de "vaivém" entre as duas partes. Tanto Israel como a AP disseram preferir um diálogo directo. Mas aceitam avançar pelo "atalho indirecto", a "convite dos EUA". O prazo para obter um primeiro resultado é de quatro meses.

Para a AP, o bloqueio negocial decorre da contínua expansão dos colonatos e, sobretudo, da crescente "despalestinização" de Jerusalém, que se traduz numa acelerada reorganização demográfica da cidade em favor dos israelitas. Ramallah não pode aceitar um "Estado soberano" sem Jerusalém como capital.

Do lado israelita, argumenta-se que, perante a "secessão" de Gaza e a ascensão do Hamas, a Autoridade Palestiniana é incapaz de garantir que um "acordo final" será respeitado pelo conjunto dos palestinianos.

O "Ha'aretz" citou no domingo um documento confidencial do Centro de Investigação Política do MNE israelita que dá uma racionalização da opção americana pela "negociação indirecta". A distância entre as duas partes é neste momento insuperável nas "questões essenciais" - fronteiras, Jerusalém, refugiados ou colonatos. A meses das eleições intercalares para o Congresso, o método "indirecto" permite prolongar o diálogo por meses, sem obrigar Obama e os EUA a pronunciarem-se sobre as ditas "questões essenciais", limitando-se a falar genericamente num "Estado viável e soberano".

A prioridade da Casa Branca até ao fim do ano não seria o processo de paz, mas tão-só "o objectivo limitado de reatar as negociações", cuja ruptura final seria entendida como um grave fracasso de Obama.

Esta versão é credível no clima pré-eleitoral americano e não desagradará nem a Netanyahu, que quer ganhar tempo, nem a Abbas, demasiado fraco para impor condições. Mas suscita muitas interrogações.

O primeiro-ministro israelita declarou ontem que não haverá acordo de paz antes de os palestinianos reconhecerem a "natureza judaica" de Israel. Ora, a ideia de "Estado soberano" está em recuo entre os palestinianos, o que encerra uma ameaça: a reivindicação de um Estado "binacional", que põe em causa a "natureza judaica" de Israel.

Israel anunciou entretanto que autorizará, "a título excepcional", o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, a entrarem em Gaza pela fronteira israelita.





Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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