'Encompassing the Globe' custou 2 milhões
A exposição Encompassing the Globe: Portugal e o Mundo nos Séculos XVI e XVII, que entre 15 de Julho e 1 de Novembro de 2009 teve 72 mil visitantes no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, custou mais de dois milhões de euros, face a um apoio mecenático residual.
Ao contrário do anunciado pelo então ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, a contribuição para a exposição por parte do Ministério da Economia, sobretudo através do Instituto do Turismo, ficou-se pelos 400 mil euros, e a única comparticipação mecenática coube à Fundação Gulbenkian, com 55 mil euros.
Esta situação contrasta com a experiência da mesma exposição em Washington, na Smithsonian Institution (Julho a Setembro de 2007), quando foi "inteiramente paga por fund-raising e sobrou dinheiro no fim", como disse Pinto Ribeiro.
No início do ano passado, ao anunciar a chegada da exposição a Portugal depois de ter passado por Bruxelas (Palais des Beaux Arts, Outubro de 2007-Fevereiro de 2008), Pinto Ribeiro disse ao PÚBLICO que a mostra seria um bom exemplo de envolvimento mecenático: "A exposição será financiada por verbas sobretudo do Instituto do Turismo, e eu comprometi-me, com o ministro da Economia [Manuel Pinho, que abandonaria a pasta ainda antes da abertura da exposição], a procurar mecenato. Mas há coisas que ainda não sabemos fazer em Portugal: fund-raising[mecenato], por exemplo. Temos uma leitura tacanha do mercado", disse o ex-ministro (ver edição de 5 de Fevereiro de 2009).
Pinto Ribeiro avançou mesmo uma estimativa de custo de 2,5 milhões de euros, incluindo as obras necessárias à adaptação do MNAA. "São fundos que tenho que arranjar, não estão no orçamento", acrescentou.
A previsão, afinal, não se confirmou. Segundo os números agora disponibilizados pelo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), mesmo tendo sido uma "mostra potenciadora do fluxo de turismo cultural, Encompassing the Globe foi também geradora de encargos acrescidos para o IMC". O custo total terá passado os 2,1 milhões de euros e, descontadas as contribuições do Turismo e da Gulbenkian, o instituto teve de assumir cerca de três quartos dessa verba - não contabilizando as receitas de bilheteira.
É um custo quatro vezes superior à comparticipação anual do Estado na aquisição de novas obras para o Museu Berardo e para o Museu de Serralves, por exemplo.
Também os 70 mil visitantes ficaram aquém das expectativas do Ministério da Cultura, que esperava fazer 100 mil entradas e decidiu mesmo prolongar a permanência da exposição no MNAA por mais três semanas do que o inicialmente previsto.
José António Pinto Ribeiro não se mostrou, ontem, disponível para comentar estes dados.
Segundo os serviços do IMC, do custo total da exposição falta ainda pagar 194 mil euros relativos ao transporte e montagem das peças.
O transporte, montagem e seguros das duas centenas de peças - marfins, ourivesaria, pinturas, escultura, gravura, desenhos, cartografia - da exposição constituíram a parcela mais dispendiosa, tendo custado metade dos dois milhões de euros. Mas no custo final estão contemplados também investimentos "em equipamentos de segurança, em vitrinas e no sistema de climatização que resultaram em mais-valias para o MNAA", realça Paulo Henriques, ex-director do museu e seu responsável aquando da exposição.
"Foi uma oportunidade bem aproveitada. Não se tratou só de um gasto temporário. E deixou marcas na abertura do MNAA para a realidade museográfica internacional", explicou ontem ao PÚBLICO o ex-director. Escusando-se a comentar a montagem financeira, Paulo Henriques recorda, no entanto, que a exposição "nasceu de uma decisão política e da vontade expressa do primeiro-ministro".
Também Nuno Vassallo e Silva, subdirector do Museu Gulbenkian e comissário de Encompassing the Globe em Lisboa, destaca a importância da realização da exposição em Portugal e diz que constituiu "uma mais-valia para o futuro, até pela oportunidade que forneceu aos técnicos do MNAA de contacto com os museus internacionais". Apesar disso, Vassallo e Silva diz-se "surpreendido" com a falta de envolvimento mecenático na sua realização. "Não sei qual foi o real empenhamento dos dois ministros [da Cultura e da Economia], nem quero fazer julgamentos, mas não deixa de ser surpreendente que uma exposição deste valor não tenha conseguido mobilizar apoios, como aconteceu em Washington."
Fonte: Público
Ao contrário do anunciado pelo então ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, a contribuição para a exposição por parte do Ministério da Economia, sobretudo através do Instituto do Turismo, ficou-se pelos 400 mil euros, e a única comparticipação mecenática coube à Fundação Gulbenkian, com 55 mil euros.
Esta situação contrasta com a experiência da mesma exposição em Washington, na Smithsonian Institution (Julho a Setembro de 2007), quando foi "inteiramente paga por fund-raising e sobrou dinheiro no fim", como disse Pinto Ribeiro.
No início do ano passado, ao anunciar a chegada da exposição a Portugal depois de ter passado por Bruxelas (Palais des Beaux Arts, Outubro de 2007-Fevereiro de 2008), Pinto Ribeiro disse ao PÚBLICO que a mostra seria um bom exemplo de envolvimento mecenático: "A exposição será financiada por verbas sobretudo do Instituto do Turismo, e eu comprometi-me, com o ministro da Economia [Manuel Pinho, que abandonaria a pasta ainda antes da abertura da exposição], a procurar mecenato. Mas há coisas que ainda não sabemos fazer em Portugal: fund-raising[mecenato], por exemplo. Temos uma leitura tacanha do mercado", disse o ex-ministro (ver edição de 5 de Fevereiro de 2009).
Pinto Ribeiro avançou mesmo uma estimativa de custo de 2,5 milhões de euros, incluindo as obras necessárias à adaptação do MNAA. "São fundos que tenho que arranjar, não estão no orçamento", acrescentou.
A previsão, afinal, não se confirmou. Segundo os números agora disponibilizados pelo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC), mesmo tendo sido uma "mostra potenciadora do fluxo de turismo cultural, Encompassing the Globe foi também geradora de encargos acrescidos para o IMC". O custo total terá passado os 2,1 milhões de euros e, descontadas as contribuições do Turismo e da Gulbenkian, o instituto teve de assumir cerca de três quartos dessa verba - não contabilizando as receitas de bilheteira.
É um custo quatro vezes superior à comparticipação anual do Estado na aquisição de novas obras para o Museu Berardo e para o Museu de Serralves, por exemplo.
Também os 70 mil visitantes ficaram aquém das expectativas do Ministério da Cultura, que esperava fazer 100 mil entradas e decidiu mesmo prolongar a permanência da exposição no MNAA por mais três semanas do que o inicialmente previsto.
José António Pinto Ribeiro não se mostrou, ontem, disponível para comentar estes dados.
Segundo os serviços do IMC, do custo total da exposição falta ainda pagar 194 mil euros relativos ao transporte e montagem das peças.
O transporte, montagem e seguros das duas centenas de peças - marfins, ourivesaria, pinturas, escultura, gravura, desenhos, cartografia - da exposição constituíram a parcela mais dispendiosa, tendo custado metade dos dois milhões de euros. Mas no custo final estão contemplados também investimentos "em equipamentos de segurança, em vitrinas e no sistema de climatização que resultaram em mais-valias para o MNAA", realça Paulo Henriques, ex-director do museu e seu responsável aquando da exposição.
"Foi uma oportunidade bem aproveitada. Não se tratou só de um gasto temporário. E deixou marcas na abertura do MNAA para a realidade museográfica internacional", explicou ontem ao PÚBLICO o ex-director. Escusando-se a comentar a montagem financeira, Paulo Henriques recorda, no entanto, que a exposição "nasceu de uma decisão política e da vontade expressa do primeiro-ministro".
Também Nuno Vassallo e Silva, subdirector do Museu Gulbenkian e comissário de Encompassing the Globe em Lisboa, destaca a importância da realização da exposição em Portugal e diz que constituiu "uma mais-valia para o futuro, até pela oportunidade que forneceu aos técnicos do MNAA de contacto com os museus internacionais". Apesar disso, Vassallo e Silva diz-se "surpreendido" com a falta de envolvimento mecenático na sua realização. "Não sei qual foi o real empenhamento dos dois ministros [da Cultura e da Economia], nem quero fazer julgamentos, mas não deixa de ser surpreendente que uma exposição deste valor não tenha conseguido mobilizar apoios, como aconteceu em Washington."
Fonte: Público