E se os museus do Estado fossem gratuitos?
Não há uma decisão, mas a questão está na mesa. A dúvida: como poderá o ministério compensar a perda dessas receitas.
A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, tem dito que é um dos seus sonhos: conseguir que os museus do Estado sejam gratuitos. Por enquanto não há uma decisão definitiva, mas a ideia é essa, confirma ao PÚBLICO João Brigola, director do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC).
Para já, o Ministério da Cultura (MC) está apenas a ouvir argumentos a favor e contra e Brigola não admite mais do que avançar "a título de ensaio" num ou dois museus em período experimental. "É um problema complexo, com implicações sociais e financeiras. Não estamos sob pressão para decidir", diz.
O que o IMC sabe neste momento, por um lado, é que "60 por cento das entradas [nos seus 28 museus] já são gratuitas" (criando concentrações nos horários com esse tipo de acesso). Sabe, por outro lado, que tem "vindo a aumentar substancialmente o número de entradas mas a diminuir receitas". Será a gratuitidade uma solução?
Sim, defendeu o director-geral do Museu Berardo, Rui Silvestre, num seminário sobre modelos de gestão de museus organizado no início do mês pelo IMC. A estratégia do Museu Berardo tem sido essa, para "maximizar o número de visitantes".
"Vivemos numa sociedade cada vez mais grátis e há uma geração Web que não tem uma cultura de pagar", explicou Rui Silvestre. "É muito difícil, quando não há hábitos de consumo cultural, vender preços para museus." E como se garante a sustentabilidade? "Através da venda de outros produtos [ateliers, serviços educativo, lojas]." O pagamento de entradas é, diz Silvestre, "uma barreira ao desenvolvimento de públicos".
Além disso, ainda segundo este responsável, "quanto mais público se tem mais atractivo se é para os mecenas". Em Inglaterra, por exemplo, "houve um crescimento de 83 por cento de público nos museus desde a aplicação da gratuitidade". O próprio Museu Berardo teve em 2008 "mais 223 por cento de visitantes do que o Centro Cultural de Belém [que geria anteriormente o mesmo espaço de exposições] em 2006".
Mas há outras perspectivas. É verdade que o número de visitantes dos museus britânicos aumentou, concorda José Alberto Ribeiro, director da Casa Museu Dr. Anastásio Gonçalves. Só que os estudos mostram que "são as mesmas pessoas". Ou seja, "a entrada livre não forma novos públicos, atrai os mesmos mais vezes". Para Ribeiro, isso significa o fim de uma fonte de receitas significativa para o IMC. "Porque é que o Estado quererá abdicar dessa receita? É uma questão política. Seria o único serviço público pelo qual não se pagaria."
Odete Patrício, directora-geral da Fundação Serralves, é também contra a ideia. Em Serralves "75 por cento das entradas são gratuitas", explicou. Mas manter um pagamento é um princípio. "Cada pessoa que entra nos portões de Serralves custa 25 euros; nós cobramos cinco."
Fonte: Público
A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, tem dito que é um dos seus sonhos: conseguir que os museus do Estado sejam gratuitos. Por enquanto não há uma decisão definitiva, mas a ideia é essa, confirma ao PÚBLICO João Brigola, director do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC).
Para já, o Ministério da Cultura (MC) está apenas a ouvir argumentos a favor e contra e Brigola não admite mais do que avançar "a título de ensaio" num ou dois museus em período experimental. "É um problema complexo, com implicações sociais e financeiras. Não estamos sob pressão para decidir", diz.
O que o IMC sabe neste momento, por um lado, é que "60 por cento das entradas [nos seus 28 museus] já são gratuitas" (criando concentrações nos horários com esse tipo de acesso). Sabe, por outro lado, que tem "vindo a aumentar substancialmente o número de entradas mas a diminuir receitas". Será a gratuitidade uma solução?
Sim, defendeu o director-geral do Museu Berardo, Rui Silvestre, num seminário sobre modelos de gestão de museus organizado no início do mês pelo IMC. A estratégia do Museu Berardo tem sido essa, para "maximizar o número de visitantes".
"Vivemos numa sociedade cada vez mais grátis e há uma geração Web que não tem uma cultura de pagar", explicou Rui Silvestre. "É muito difícil, quando não há hábitos de consumo cultural, vender preços para museus." E como se garante a sustentabilidade? "Através da venda de outros produtos [ateliers, serviços educativo, lojas]." O pagamento de entradas é, diz Silvestre, "uma barreira ao desenvolvimento de públicos".
Além disso, ainda segundo este responsável, "quanto mais público se tem mais atractivo se é para os mecenas". Em Inglaterra, por exemplo, "houve um crescimento de 83 por cento de público nos museus desde a aplicação da gratuitidade". O próprio Museu Berardo teve em 2008 "mais 223 por cento de visitantes do que o Centro Cultural de Belém [que geria anteriormente o mesmo espaço de exposições] em 2006".
Mas há outras perspectivas. É verdade que o número de visitantes dos museus britânicos aumentou, concorda José Alberto Ribeiro, director da Casa Museu Dr. Anastásio Gonçalves. Só que os estudos mostram que "são as mesmas pessoas". Ou seja, "a entrada livre não forma novos públicos, atrai os mesmos mais vezes". Para Ribeiro, isso significa o fim de uma fonte de receitas significativa para o IMC. "Porque é que o Estado quererá abdicar dessa receita? É uma questão política. Seria o único serviço público pelo qual não se pagaria."
Odete Patrício, directora-geral da Fundação Serralves, é também contra a ideia. Em Serralves "75 por cento das entradas são gratuitas", explicou. Mas manter um pagamento é um princípio. "Cada pessoa que entra nos portões de Serralves custa 25 euros; nós cobramos cinco."
Fonte: Público