Portugal arrisca ter prejuízo no empréstimo
É quase o equivalente ao que Portugal vai gastar com um dos troços do TGV para Madrid, a duas Pontes Vasco da Gama e um terço das receitas provenientes das privatizações previstas no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC).
Se fosse dividida pela população, a ajuda à Grécia custaria quase 200 euros a cada português. Dentro de três anos, Portugal irá reaver os cerca de dois mil milhões de euros emprestados ao Estado grego. Mas corre um risco: vir a ter prejuízo.
As taxas de juro cobradas pelos países europeus a Atenas irão rondar os cinco por cento, um valor que, actualmente, está abaixo dos juros a que são transaccionados os títulos de dívida (obrigações) com maturidade de dez anos e muito próximo dos juros das obrigações a três anos, o mesmo período de tempo do empréstimo. Isso significa que podemos vir a emprestar dinheiro a um nível muito próximo, senão inferior, àquele a que pedimos dinheiro emprestado.
Estes juros referem-se, contudo, ao mercado de revenda de títulos, o que significa que, se o Estado português agora emitisse dívida, poderia não ter de pagar juros tão altos. Porém, à falta de outros indicadores, estas taxas têm servido como referência no mercado das obrigações.
"É difícil fazer previsões, porque não sabemos como o mercado vai evoluir, mas certamente que [o empréstimo à Grécia] será um melhor negócio para a Alemanha do que para Portugal", disse ao PÚBLICO Eduardo Catroga, economista e antigo ministro das Finanças. Pina Moura, outro ex-ministro das Finanças, considera que os juros das obrigações do tesouro terão tendência a estabilizar, pelo que "as perdas poderão ser mais amortecidas". Ontem, os juros das obrigações portuguesas a dez anos estavam nos 5,333 por cento e os títulos a três anos nos 4,129.
Dívida pública aumenta
O alerta foi também deixado ontem por economistas do HSBC. Numa nota de análise, o banco britânico afirma que Portugal deverá ter prejuízos no empréstimo de dois mil milhões de euros à Grécia, um valor que corresponde a 1,24 por cento do produto interno bruto (PIB) nacional, mas é dez vezes menor do que a ajuda alemã ao Estado helénico.
"A subida dos spreads da dívida portuguesa criou dificuldades não só para as necessidades de financiamento doméstico, mas também para o contributo do pacote de ajuda à Grécia", dizem os economistas, adiantando que, "actualmente, Portugal teria de pagar um preço mais elevado para conseguir financiamento do que a taxa de cinco por cento cobrada pelos empréstimos à Grécia".
Esta opinião contraria as afirmações feitas pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, que garantiu não haver "riscos de Portugal perder dinheiro". O PÚBLICO questionou o Ministério das Finanças sobre isso e sobre como será o processo de empréstimo à Grécia, mas não obteve resposta. A única informação transmitida foi a de que o Governo apresentará na sexta-feira a proposta de lei do empréstimo no Parlamento.
Segundo Eduardo Catroga, o mais provável é que Portugal financie a Grécia através da compra de obrigações gregas. Para isso, terá de emitir obrigações para reunir capital. Com isto, a dívida pública, que está nos 125,9 mil milhões de euros (77 por cento do PIB), irá aumentar 1,5 por cento, diz o antigo ministro das Finanças.
"[Contudo], se ficarmos com os títulos de dívida gregos, não terá impacto orçamental, não contribuindo para o aumento do défice", adianta Pina Moura. Os dois economistas saúdam a ajuda à Grécia, dizendo que está em causa a defesa do euro como moeda única e a estabilidade europeia.
Apesar de o efeito de contágio da Grécia estar a dar sinais de abrandar, Portugal continua sob o olhar atento dos investidores. As emissões de obrigações agendadas para o segundo trimestre poderão ser a prova de fogo. Dos cerca de 25 mil milhões de euros de necessidades de financiamento para este ano, 60 por cento estão por concretizar. Isto sem contar com a fatia portuguesa na ajuda global de 110 mil milhões à Grécia.
Fonte: Público
Se fosse dividida pela população, a ajuda à Grécia custaria quase 200 euros a cada português. Dentro de três anos, Portugal irá reaver os cerca de dois mil milhões de euros emprestados ao Estado grego. Mas corre um risco: vir a ter prejuízo.
As taxas de juro cobradas pelos países europeus a Atenas irão rondar os cinco por cento, um valor que, actualmente, está abaixo dos juros a que são transaccionados os títulos de dívida (obrigações) com maturidade de dez anos e muito próximo dos juros das obrigações a três anos, o mesmo período de tempo do empréstimo. Isso significa que podemos vir a emprestar dinheiro a um nível muito próximo, senão inferior, àquele a que pedimos dinheiro emprestado.
Estes juros referem-se, contudo, ao mercado de revenda de títulos, o que significa que, se o Estado português agora emitisse dívida, poderia não ter de pagar juros tão altos. Porém, à falta de outros indicadores, estas taxas têm servido como referência no mercado das obrigações.
"É difícil fazer previsões, porque não sabemos como o mercado vai evoluir, mas certamente que [o empréstimo à Grécia] será um melhor negócio para a Alemanha do que para Portugal", disse ao PÚBLICO Eduardo Catroga, economista e antigo ministro das Finanças. Pina Moura, outro ex-ministro das Finanças, considera que os juros das obrigações do tesouro terão tendência a estabilizar, pelo que "as perdas poderão ser mais amortecidas". Ontem, os juros das obrigações portuguesas a dez anos estavam nos 5,333 por cento e os títulos a três anos nos 4,129.
Dívida pública aumenta
O alerta foi também deixado ontem por economistas do HSBC. Numa nota de análise, o banco britânico afirma que Portugal deverá ter prejuízos no empréstimo de dois mil milhões de euros à Grécia, um valor que corresponde a 1,24 por cento do produto interno bruto (PIB) nacional, mas é dez vezes menor do que a ajuda alemã ao Estado helénico.
"A subida dos spreads da dívida portuguesa criou dificuldades não só para as necessidades de financiamento doméstico, mas também para o contributo do pacote de ajuda à Grécia", dizem os economistas, adiantando que, "actualmente, Portugal teria de pagar um preço mais elevado para conseguir financiamento do que a taxa de cinco por cento cobrada pelos empréstimos à Grécia".
Esta opinião contraria as afirmações feitas pelo ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, que garantiu não haver "riscos de Portugal perder dinheiro". O PÚBLICO questionou o Ministério das Finanças sobre isso e sobre como será o processo de empréstimo à Grécia, mas não obteve resposta. A única informação transmitida foi a de que o Governo apresentará na sexta-feira a proposta de lei do empréstimo no Parlamento.
Segundo Eduardo Catroga, o mais provável é que Portugal financie a Grécia através da compra de obrigações gregas. Para isso, terá de emitir obrigações para reunir capital. Com isto, a dívida pública, que está nos 125,9 mil milhões de euros (77 por cento do PIB), irá aumentar 1,5 por cento, diz o antigo ministro das Finanças.
"[Contudo], se ficarmos com os títulos de dívida gregos, não terá impacto orçamental, não contribuindo para o aumento do défice", adianta Pina Moura. Os dois economistas saúdam a ajuda à Grécia, dizendo que está em causa a defesa do euro como moeda única e a estabilidade europeia.
Apesar de o efeito de contágio da Grécia estar a dar sinais de abrandar, Portugal continua sob o olhar atento dos investidores. As emissões de obrigações agendadas para o segundo trimestre poderão ser a prova de fogo. Dos cerca de 25 mil milhões de euros de necessidades de financiamento para este ano, 60 por cento estão por concretizar. Isto sem contar com a fatia portuguesa na ajuda global de 110 mil milhões à Grécia.
Fonte: Público