Abertos cofres com espólio de Kafka
Manuscritos e cartas do autor examinados num banco suíço, no âmbito da batalha legal pela sua posse.
"Caríssimo Max, a minha última vontade: Tudo o que eu deixar é para ser queimado sem ser lido." Se Max Brod, o grande amigo de Franz Kafka e seu executor literário, tivesse, à morte do escritor, de tuberculose, em Praga, em 1924, cumprido a sua derradeira vontade, o mundo nunca teria conhecido obras como A Metamorfose ou O Julgamento. E também nunca teria acontecido o imbróglio legal que conheceu ontem uma nova fase em Zurique, na Suíça, com a abertura de quatro cofres contendo manuscritos, cartas, diários e desenhos de Franz Kafka, bem como do próprio Brod.
Muito deste espólio está inédito e foi descoberto no curso do processo que se prolonga há dois anos em redor do espólio de Max Brod, e que está guardado em vários cofres depositados em bancos de Israel e da Suíça, sob a alçada de Eva e Ruth Hoffe, filhas de Esther Hoffe, a secretária e amante de Brod, falecida em 2008.
Eva e Ruth, que vivem em Telavive, estão em disputa legal com o Estado de Israel pelo espólio de Max Brod, alegando que o herdaram da mãe, que o recebeu de presente do seu patrão e amante, à morte deste, em 1968. As autoridades israelitas avançam que não só Esther Hoffe não tinha o direito de legar o espólio às filhas, como também ele é propriedade de Israel, já que Max Brod imigrou para a Palestina em 1939, com a mulher, Elsa Taussig, antes de as tropas alemãs terem invadido a Checoslováquia. Mais tarde, Brod doou os manuscritos de O Castelo e América à Universidade de Oxford, tendo guardado para si o de O Julgamento. Assim, o conteúdo dos cofres pertenceria à Biblioteca Nacional de Israel.
Os quatro cofres foram abertos no Banco UBS de Zurique (após já ter sucedido o mesmo na semana passada aos do banco de Telavive), mas segundo o diário Haaretz, citando fontes da instituição, não foi permitida a Eva Hoffe, uma das duas filhas de Esther, a entrada quer na caixa-forte do banco, quer na sala onde o conteúdo daqueles foi examinado, o que a deixou "visivelmente irada". O mesmo havia acontecido quando da abertura dos cofres depositados no banco de Telavive. Ambas as aberturas foram testemunhadas pelos advogados nomeados pelo tribunal.
Estes, assistidos por peritos literários e um especialista em manuscritos, farão o inventário do conteúdo dos cofres para o tribunal. Um juiz decidirá em seguida se os documentos serão repostos nos cofres e continuarão na posse das irmãs Hoffe, entregues à Biblioteca Nacional de Israel ou ao Arquivo Literário Alemão, em Marbach, que se ofereceu para os comprar, por já possuir espólio de Kafka vendido por Esther Hoffe na Sotheby's em 1988.
Entre os manuscritos de Zurique, estão os originais dos contos Um Médico Rural, Um Sonho e Preparativos de uma Boda no Campo, ou a carta que Kafka escreveu em 1919 ao seu autoritário pai, criticando-o pelo seu trato severo e distante. Pode ainda haver um livro inacabado.
Fonte: DN
"Caríssimo Max, a minha última vontade: Tudo o que eu deixar é para ser queimado sem ser lido." Se Max Brod, o grande amigo de Franz Kafka e seu executor literário, tivesse, à morte do escritor, de tuberculose, em Praga, em 1924, cumprido a sua derradeira vontade, o mundo nunca teria conhecido obras como A Metamorfose ou O Julgamento. E também nunca teria acontecido o imbróglio legal que conheceu ontem uma nova fase em Zurique, na Suíça, com a abertura de quatro cofres contendo manuscritos, cartas, diários e desenhos de Franz Kafka, bem como do próprio Brod.
Muito deste espólio está inédito e foi descoberto no curso do processo que se prolonga há dois anos em redor do espólio de Max Brod, e que está guardado em vários cofres depositados em bancos de Israel e da Suíça, sob a alçada de Eva e Ruth Hoffe, filhas de Esther Hoffe, a secretária e amante de Brod, falecida em 2008.
Eva e Ruth, que vivem em Telavive, estão em disputa legal com o Estado de Israel pelo espólio de Max Brod, alegando que o herdaram da mãe, que o recebeu de presente do seu patrão e amante, à morte deste, em 1968. As autoridades israelitas avançam que não só Esther Hoffe não tinha o direito de legar o espólio às filhas, como também ele é propriedade de Israel, já que Max Brod imigrou para a Palestina em 1939, com a mulher, Elsa Taussig, antes de as tropas alemãs terem invadido a Checoslováquia. Mais tarde, Brod doou os manuscritos de O Castelo e América à Universidade de Oxford, tendo guardado para si o de O Julgamento. Assim, o conteúdo dos cofres pertenceria à Biblioteca Nacional de Israel.
Os quatro cofres foram abertos no Banco UBS de Zurique (após já ter sucedido o mesmo na semana passada aos do banco de Telavive), mas segundo o diário Haaretz, citando fontes da instituição, não foi permitida a Eva Hoffe, uma das duas filhas de Esther, a entrada quer na caixa-forte do banco, quer na sala onde o conteúdo daqueles foi examinado, o que a deixou "visivelmente irada". O mesmo havia acontecido quando da abertura dos cofres depositados no banco de Telavive. Ambas as aberturas foram testemunhadas pelos advogados nomeados pelo tribunal.
Estes, assistidos por peritos literários e um especialista em manuscritos, farão o inventário do conteúdo dos cofres para o tribunal. Um juiz decidirá em seguida se os documentos serão repostos nos cofres e continuarão na posse das irmãs Hoffe, entregues à Biblioteca Nacional de Israel ou ao Arquivo Literário Alemão, em Marbach, que se ofereceu para os comprar, por já possuir espólio de Kafka vendido por Esther Hoffe na Sotheby's em 1988.
Entre os manuscritos de Zurique, estão os originais dos contos Um Médico Rural, Um Sonho e Preparativos de uma Boda no Campo, ou a carta que Kafka escreveu em 1919 ao seu autoritário pai, criticando-o pelo seu trato severo e distante. Pode ainda haver um livro inacabado.
Fonte: DN
