Sócrates sem vontade de ceder


É o braço-de-ferro anunciado entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho. A pensar na negociação do Orçamento do Estado (OE) de 2011 e a duas semanas da sua apresentação no Parlamento. O Governo acredita que, com o plano de austeridade apresentado esta semana, colocou o PSD com pouco espaço de manobra para não deixar passar o Orçamento do Estado (OE) de 2011. Daí ser reduzida a disponibilidade para ceder na discussão do orçamento quando chegar o momento para negociar, na Assembleia da República, depois de 15 de Outubro.

A dimensão e a dureza das medidas de corte da despesa, que incluem um corte nos salários dos funcionários públicos e o congelamento das pensões, força o PSD à difícil tarefa de ter de encontrar medidas credíveis adicionais do lado da despesa para apresentar como alternativas à subida de impostos. É esta a leitura actual do balanço de forças que o Governo faz e, por isso, uma negociação da proposta de OE e a cedência em algumas das medidas consideradas não são colocadas como cenários prováveis.

Hoje à noite, em tom menos crispado numa entrevista à RTP, José Sócrates insistiu que está disposto a conversar com a oposição - por três vezes fez um apelo “à responsabilidade das forças políticas” - mas com limites. E deixou a pergunta. “Alguém pode pedir a um Governo que governe com o orçamento dos outros? Se a oposição acha que tem um orçamento melhor deve ir para o Governo e comprometer-se com os resultados”, afirmou o chefe do Governo numa entrevista a Judite de Sousa.

Sócrates usa Cavaco
Daí que perante a possibilidade de um chumbo da proposta de Orçamento, o Executivo não admita a possibilidade de tentar fazer passar uma nova proposta – foi essa a ameaça que fizeram, na semana passada, tanto o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, como Sócrates. Apesar de na quinta-feira, no Parlamento, o chefe do Executivo ter dito o contrário e que nunca lhe passou pela cabeça sair, mas que o seu gabinete corrigiu horas depois. Até porque, usando uma expressão do Presidente Cavaco Silva, confessou ontem na RTP não lhe “passar pela cabeça” que o Orçamento não seja aprovado.

Mas e se não for? A demissão seria a única resposta possível, passando-se à oposição a responsabilidade de formar um novo Governo e apresentar uma nova proposta.

Do outro lado da barricada, no PSD de Pedro Passos Coelho, a estratégia continua a ser pressionar Sócrates e o Governo a dizerem porque falhou o PEC II, viabilizado pelos sociais-democratas e já previa o aumento de impostos - a pergunta insistentemente feita por Miguel Macedo, líder parlamentar social-democrata, e que o primeiro-ministro nunca respondeu no debate quinzenal de quinta-feira na Assembleia da República.

E até à apresentação do documento a estratégia do PSD é não dizer o quer que seja de mais concoreto além do que o líder disse. Numa frase: o PSD está disposto a negociar no “quadro parlamentar” sim, mas sem esquecer a condição das condições: não ao aumento dos impostos. Por outras palavras, num cenário de viabilização do orçamento, o PSD quer deixar claro aos portugueses que a culpa da crise é de Sócrates. E a ideia que a direcção laranja quer passar é que o líder tem respaldo para ir até ao “chumbo”. Até porque entre os membros da Comissão Permanente há alguns acérrimos defensores do voto contra.

Ainda o TGV
Na catadupa de entrevistas que deu, ao The New York Times, Financial Times e The Wall Street Journal, divulgadas durante o dia e depois na RTP [hoje é na TVI], Sócrates repetiu explicações, garantiu que não tinha alternativa e culpou os mercados pela forma como penalizaram o país por não ter adoptado mais cedo estas medidas de austeridade. O Financial Times escreve que admitiu o erro, mas na RTP não foi tão longe, apesar da pergunta directa de Judite de Sousa. As medidas eram necessárias para tentar “recuperar a confiança” e a indefinição de Passos não ajuda, voltou ontem a dizer. Também na RTP, Sócrates defendeu a manutenção do TGV, apesar da crise e do anunciado adiamento do projecto. Ao mesmo tempo que, sobre o aumento do salário mínimo para 500 euros em 2011, admitiu indirectamente um adiamento, dizendo que o acordo com sindicatos e patrões tem que ser “adaptado aos novos tempos”.



Fonte: Público

POSTED BY Mari
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