A última entrevista de Larry King


Como será o mundo sem Larry King? Nos últimos 25 anos, a sua voz - e os seus suspensórios - foram omnipresentes. Cinquenta mil entrevistas depois, o King diz adeus.

Larry King sabe o que perguntaria a Deus se ele fosse ao seu programa na CNN. "Tem um filho?"

Quando se entrevistou tanta gente como Larry King, sobra muito pouco por fazer. King também preparou perguntas para Osama bin Laden, pelo sim, pelo não. Não começaria pelos atentados de 11 de Setembro, porque isso poria Bin Laden "na defensiva". Perguntar-lhe-ia "por que deixou uma das famílias mais ricas da Arábia Saudita para viver em lugares como o Afeganistão".

Se Deus ou Bin Laden descessem à terra, talvez só aceitassem ser entrevistados por Larry King. O seu programa, no ar há 25 anos, foi recentemente reconhecido pelo Livro dos Recordes Mundiais do Guinness como o mais sério caso de longevidade televisiva.

Em Junho, King entrevistou Lady Gaga. Dias depois, o comediante americano Bill Maher, que foi o convidado de Larry King, notou: "Pensei: "Quem mais é que consegue trazer a Lady Gaga ao seu programa? Nunca vi Lady Gaga em mais lado nenhum. Vi-a usar um aquário na cabeça. Mas nunca a vi a falar realmente com outro ser humano. Não fazia ideia de como ela era antes de falar contigo."

Uma das características do programa Larry King Live é, precisamente, ter convidados que não vão a mais lado nenhum. Mas, no fim de Junho, justamente no dia em que tinha Bill Maher em estúdio, Larry King anunciou que iria terminar o seu programa na CNN ao fim de 25 anos. A última entrevista vai para o ar esta noite.

O mais velho

É toda uma era da televisão americana que desaparece com os seus suspensórios. Larry King ainda faz parte da geração de entertainers que se formou na rádio antes de transitar para a televisão. Foi autor de um programa de entrevistas na TV por cabo com um estilo pioneiro: nem estritamente noticioso, nem exclusivamente showbiz, devedor dos grandes anfitriões dos programas de variedades do período clássico da televisão americana (Ed Sullivan, Johnny Carson...).

E anda nisto há tempo suficiente para ter entrevistado John Steinbeck (que morreu em 1968). Ele não é apenas a personalidade mais duradoura da televisão americana - aos 77 anos, é a mais velha.

Larry King explicou que ia deixar o programa para dedicar mais tempo à família - o entrevistador tem seis filhos, dois dos quais com 10 e 11 anos, do seu oitavo e último casamento com Shawn Southwick, uma cantora 26 anos mais nova. Também disse que saía por iniciativa própria, e que a CNN aceitou "graciosamente". Mas o anúncio surgiu após meses de especulação de que a CNN não sabia o que fazer com Larry King, cujas audiências tinham chegado ao valor mais baixo de sempre. Na Primavera, o seu programa contava com menos de 700 mil espectadores. Recentemente, quando a revista New York lhe perguntou o que faria se mandasse na CNN, King respondeu: "Ter-me-ia convencido a ficar." Não é a resposta de alguém que tem vontade de arrumar as botas - melhor dizendo, os suspensórios.

E Larry King é um homem de hábitos: todos os dias, toma o pequeno almoço no mesmo café de Los Angeles. Em 2007, depois de uma operação a uma artéria, o New York Times perguntou-lhe o que é que o faria parar. "Deus queira que não, mas só se tiver uma crise de demência ou de Alzheimer. Só assim. E o que eu desejaria é que, a acontecer, isso acontecesse enquanto eu estivesse no ar. Só para ver como é que eles lidavam com a situação."




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POSTED BY Joana Vieira
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