Panorama arranca hoje no São Jorge


A quinta edição do Panorama - Mostra do Documentário Português, que começa esta sexta-feira, vai incluir uma maratona, já neste fim-de-semana, de «filmes raros» feitos imediatamente a seguir ao 25 de Abril.

A secção Percursos no Documentário Português, este ano dedicada ao cinema no pós-Abril, vai mostrar vários filmes feitos no Processo Revolucionário Em Curso (PREC), «obras raramente vistas em sala», segundo a organização do Panorama citada pela agência Lusa.

De sábado para domingo, há uma «maratona cinematográfica», com o objectivo declarado de «avivar a memória cinéfila de Lisboa e prestar homenagem às míticas maratonas do Cinema Quarteto», onde se podia «ver filmes pela noite dentro».

Entre as 21h30 de sábado e as 05h00 de domingo, a maratona inclui os filmes «Revolução» (1975), de Ana Hatherly; «As Armas e o Povo» (1975), do Colectivo dos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica; «Caminhos da Liberdade» (1974), de Cinequipa; «Terra de Pão, Terra de Luta» (1977), de José Nascimento; «Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia» (1976), de António Cunha Telles; «Fatucha Superstar - Ópera Rock... Bufa!» (1976), de João Paulo Ferreira; e «Que Farei Eu Com Esta Espada?» (1975), de João César Monteiro.

A mostra de filmes da altura do PREC não se esgota na maratona e continua ao longo dos dez dias de duração do Panorama. A sessão de abertura, esta sexta-feira às 21h30, no Cinema São Jorge, em Lisboa, cabe a «Cenas da Luta de Classes em Portugal», de Philip Spinelli e Robert Kramer.

Vários debates em agenda

Na secção Programação Central - que responde este ano à questão «Como se relaciona o documentário português com o mundo de hoje?» - poderá ser visto «o melhor da produção documental portuguesa» em 2010, anuncia a organização.

Estão ainda previstas algumas estreias, nomeadamente «Emboscada por Dez Lados», de Vítor Jorge Alves, «Golden Dawn», de Salomé Lamas, «IP3«, de José Costa Barbosa, «A Banana do Pico», de Luís Bicudo, e «Cátia Sofia», de Miguel Clara Vasconcelos, todos de 2010.

O Panorama vai promover também debates entre realizadores, convidados e público: no dia 6 de Abril, a relação da produção documental com o mundo será abordada por José Neves e Margarida Cardoso; no dia 7 vai debater-se a importância da produção documental no pós-Abril com Adelino Gomes, José Filipe Costa, Rui Simões e Henrique Espírito Santo; no dia 10 haverá um debate final com estudantes de cinema sobre o panorama geral do documentário português.

«Há muita coisa por fazer»

Em declarações à agência Lusa, o realizador e investigador José Filipe Costa defende que documentários realizados logo após o 25 de Abril deviam estar mais acessíveis ao público lamentando que sejam filmes «muito pouco conhecidos».

Naquela altura, havia «a ideia de que o cinema deve ser um participante na transformação do país» e os realizadores mostravam «uma grande vontade não só de registar o que estava a acontecer, mas acreditavam que o cinema tinha uma palavra a dizer».

Hoje, esses filmes «têm um interesse incrível, mesmo que sejam muito militantes, desde logo para obter uma emoção daquilo que nós somos, daquilo que nos formou e daquilo que ficou pelo caminho», considera José Filipe Costa, que vai integrar o debate do dia 7.

Já no que toca ao estado do documentário português no presente, José Filipe Costa reconhece que «há muita coisa por fazer «e que «faltam meios e oportunidades». E exemplifica com o facto de haver «muitos documentários sobre os mais pobres, os mais vulneráveis, os mais marginais em Portugal», mas nada sobre os mais favorecidos, «porque as pessoas com mais meios, as pessoas que fazem parte das elites, protegem-se, não se deixam filmar» - «eu achava interessante que o documentário pudesse também chegar aí».

O Panorama decorre até ao dia 10 de Abril no Cinema São Jorge.



Fonte: IOL

POSTED BY Joana Vieira
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