17-20.08.2011 - Ritek Paredes de Coura 2011 - Praia Fluvial do Rio Tabuão


--- Ritek Paredes de Coura 2011 ---
Praia Fluvial do Rio Tabuão, Paredes de Coura
17-20.08.2011

Texto: Ricardo Almeida
www.ricardo-almeida.com
Fotos: Hugo Lima
www.hugolima.com




Aconteceu entre os dias 17 e 20 de Agosto de 2011 a 19ª edição do Paredes de Coura, festival minhoto da Ritmos, patrocinado este ano pela Ritek, grupo de investimento angolano.

Com um cartaz apetecível, encabeçado por nomes como Pulp, Blonde Redhead, Kings of Convenience, Deerhunter, Death From Above 1979 e Mogwai, esta edição contou com a presença de cerca de 80 mil pessoas, que este ano tiveram direito a um pulseira vermelha (passe válido para os 4 dias) para iniciar ou juntar à colecção que orgulhosamente ostentam nos pulsos, como prova de participação.

A Whisper também não deixou de marcar presença.


Os milhares de campistas que todos os anos por alturas de Julho ou Agosto invadem a pacata vila minhota de Paredes de Coura, no Alto Minho, decidiram ir desta vez mais cedo (bastante mais cedo, diga-se) para reservar o quanto antes o lugar onde acampariam nos tão esperados dias que se aproximavam.

Para quebrar o jejum de concertos a todos os que por aquelas terras já se encontravam, a noite de 16 de Agosto foi de showcase da editora e promotora portuense Lovers & Lollypops, responsável pelo vizinho Festival Milhões de Festa.


Os barcelenses Black Bombaim trouxeram o stoner e o psicadelismo de “Saturdays and Space Travels” da terra do galo até ao palco secundário de Paredes de Coura, enquanto que os Larkin (de Viana do Castelo) e Mr. Miyagi (não se trata daquele japonês idoso do “Karate Kid”, mas também sabem pôr as pessoas a andar à sarda) ofereceram dose dupla de hardcore vianense a todos os que quiseram aproveitar o showcase gratuito e se deslocaram até ao recinto.

O resto da noite ficou a cargo do actor e DJ lisboeta Nuno Lopes, de regresso a este palco, dois anos depois de neste mesmo sítio ter encerrado o festival.

Para além dos habituais palcos principal (este ano designado de Palco Ritek), secundário (Palco 2 e Palco After-hours) e Jazz na Relva (localizado no relvado de uma das margens do Rio Taboão, perto da zona destinada ao campismo), esta edição contou ainda com o Palco JN, por onde passaram, nos dias 18, 19 e 20, as seis bandas finalistas do concurso promovido pelo Jornal de Notícias: The Kanguru Project, Les Meckinguipes, Meu e Teu, Erro, Sidewalkers e Cavalheiro.


DIA 17


No primeiro dia, o da habitual “recepção ao campista”, ainda a meio-gás, com apenas quatro concertos e um DJ-set, todos marcados para o palco secundário, os Quarteto de Bolso trouxeram alegria ao arranque oficial do 19º Festival Paredes de Coura. Os seis músicos (sim, é um quarteto… de seis!), munidos de guitarra, baixo, bateria, trompetes, clarinete e a voz do descalço Pedro Silva, contaram e cantaram aos presentes histórias sobre pedras, bicicletas, pescadores e passeios de mãos dadas, terminando com o tema Sempre Contente, cujo título se pode, de resto, aplicar à actuação dos aveirenses.



Túnica branca do pescoço até aos pés, turbante vermelho e branco, óculos de sol, bigode farto e um par de botas negras e brilhantérrimas (dignas de fazer inveja ao Darth Vader, dono de umas bem menos futuristas). Eis Omar Souleyman, a lenda musical da Síria que assinou pela Sublime Frequencies, editora discográfica norte-americana pela qual lançou “Highway to Hassake”, “Dabke 2020” e “Jazeera Nights”, atirando-o para palcos bem distantes do seu país, como é o caso do mítico Glastonbury, em Inglaterra, festival onde actuou já este ano. O sound check foi provávelmente o mais festejado de todo o festival, visto que o público reagia com um entusiasmo barulhento a cada vez que se faziam ouvir os distintos acordes provenientes do sintetizador de Rizan Sa'id, responsável pela composição, teclados e percussão. Um dos elementos do público, envergando um turbante semelhante ao de Omar Souleyman e uns óculos de sol, assegurava ser filho do artista sírio. Depois de uma breve introdução em inglês por parte do tradutor, Omar e Rizan dão início à viagem étnica, ao som da pop e folk dançáveis do Médio Oriente. Durante todo o concerto, Souleyman pouco mais faz para além de bater palmas, apontar com o indicador e passear-se lentamente pelo palco. Obviamente, também canta, porque é para isso que ele lá está, mas sobre o que ele pretende transmitir nas suas letras não me poderei pronunciar, pois tanto o árabe como o curdo são cenas que a mim não me assistem.



Com uma setlist repartida entre o mais recente trabalho de estúdio “Smother”, lançado em Maio, e “Two Dancers”, nomeado para o Mercury Prize Award, os britânicos Wild Beasts foram os que se seguiram, num concerto desafortunadamente desprovido do intimismo que se pode ouvir em casa. Hayden Thorpe, Tom Fleming, Ben Little e Chris Talbot voltaram a Portugal (estiveram em Lisboa em 2009), tiveram direito a uma boa recepção e fizeram-se acompanhar de uma menina de seu nome Caty (nos teclados), que os ajudou a tocar Bed of Nails, tema com que iniciam o concerto, Albatross, Loop the Loop e Reach a Bit Further, de “Smother”, tal como This is Our Lot, We Still Got the Taste Dancing On Our Tongues e All The Kings Men, de “Two Dancers”, sem no entanto ficar esquecido o álbum de estreia, “Limbo, Panto”, do qual escolheram o single The Devils Crayon para tocar. O tema Hooting & Howling é o ponto alto da actuação dos ingleses, deixando o público a cantar sozinho o refrão para, logo de seguida, se despedirem com End Come Too Soon.



Os Crystal Castles são um “cromo repetido” (estiveram em Paredes de Coura na edição de 2007), mas bem apetecido. De longe, a banda com maior assistência no primeiro dia do festival, Ethan Kath e a agitada Alice Glass foram recebidos com euforia e vieram de Toronto com Christopher Chartrand (na bateria) para provocar a primeira grande enchente no palco secundário, deixando bem longe muitos dos que queriam ver a actuação caótica dos canadianos. Assim que são avistados em palco, é audível a quilómetros a histeria dos muitos fãs e o prenúncio de caos que mais tarde se viria a confirmar. A electrónica lo-fi com elementos de 8-bit do duo, parece funcionar bem com o público, que vibra debaixo dos strobes descontrolados, ao som de Not In Love, Celestica, Alice Practice ou Baptism, retirados dos dois álbuns da banda, “Crystal Castles” e “Crystal Castles II”.



O valenciano Vladimir Dynamo ficou encarregue de animar o resto da noite, mantendo entretidos com um DJ-set eclético, todos aqueles que não quiseram dar ainda como terminado o primeiro dia do festival.


DIA 18

Se a meio da tarde ainda havia gente a dormir na tenda, o snooze dos despertadores que ficaram em casa, deu em Paredes de Coura lugar ao electro maximal dos sadinos SNOOZE, que inaugurou o Jazz na Relva, em substituição dos Airbag, que afinal tiveram falta.



Era escassa a assistência para os Murdering Tripping Blues. Infelizmente, porque estes três rapazes até mereciam a atenção dos muitos que não compareceram para os ver. Henry Leone Johnson, Mallory Left Eye e Johnny Dinamite, apesar dos nomes, não são oriundos do Mississipi nem tão pouco saíram de um western. São “tugas” e foram até ao Minho partilhar o fogo (feito de blues, garage rock e rock & roll) do seu segundo disco de estúdio, “Share the Fire”, com Come Into My Waters, Dead Cats on the Line, Share the Fire ou Hooked on You, terminando a actuação com I Will Be Your Narcotic, de “Knocking At the Backdoor Music”, primeiro registo de originais dos lisboetas.


A inaugurar o palco principal de Paredes de Coura, estiveram os cinco rapazes de Brooklyn: Brad Hargett, JB Townsend, Andy Adler, Keegan Cooke e Kyle Forester, que dão pelo nome de Crystal Stilts. Havia já, atendendo à hora em que tocaram, muita gente no anfiteatro natural para ver e ouvir a mistura lo-fi e por vezes soturna de noise com pós-punk e shoegaze que relembra uns The Jesus and Mary Chain. Os nova-iorquinos mostraram-se felizes por estar em Paredes de Coura, agradeceram à Super Bock pela cerveja que produz e tocaram temas como Flying Into the Sun e Through the Floor, de “In Love With Oblivion”, que viu na Primavera a luz do dia.


Também cinco, e também de Brooklyn, mas a tocar no outro palco, estiveram os Here We Go Magic que, sem se esquecerem do psicadelismo, misturam folk com pop. De camisa tropical, Luke Temple, criador do projecto, apresentou-se no Palco 2 com Peter Hale, Michael Bloch, Kristina Lieberson e Jennifer Turner. Esta gente, que já andou a tocar com Broken Social Scene, Grizzly Bear e The Walkmen, veio até Paredes de Coura mostrar, entre outros, Collector, Land of Feeling e Herbie I Love You, Now I Know, de “Pigeons”.


Apesar de tocar cedo e de recentemente ter actuado por três vezes em Portugal, o dominicano agora vizinho dos Crystal Stilts e dos Here We Go Magic, George Lewis Jr., mais conhecido pelo alter-ego Twin Shadow, era um dos nomes mais esperados do segundo dia do festival. Não necessariamente mau, antes pelo contrário, mas menos dançável ao vivo do que em disco, a synthpop de “Forget”, álbum de estreia produzido por Chris Taylor, dos Grizzly Bear, recorda-nos a new wave dos anos 80. O simpático George Lewis Jr., acompanhado pela banda, toca When We’re Dancing, At My Heels, Tyrant Destroyer, Slow (a tresandar a Morrissey), Castles in the Snow, Forget e Tether Beat, que já não tocava ao vivo há já algum tempo e guardou para o final. Para aqueles que gostaram e querem repetir a dose num ambiente diferente, Twin Shadow está de volta a Portugal já em Setembro, num concerto a acontecer no Clube Ferroviário (Lisboa).



WE TRUST é o projecto musical do realizador André Tentúgal, a quem ao vivo se juntam Gil Amado (Long Way to Alaska), Rui Maia e Nuno Sarafa (X-Wife), João André (Bandemónio) e Sérgio Freitas (Zany Dislexic Band). Com um álbum de estreia prestes a sair do forno, André e companhia, que tocaram há umas semanas no Festival Milhões de Festa, foram em Paredes de Coura recebidos por um público receptivo e curioso por ouvir mais para além do single de estreia. E foi a isso que tiveram direito. Waiting marcou o início do concerto, seguida de Within Your Stride, Them Lies, Again e Freedom Bound. O single Time (Better Not Stop) foi, sem surpresas, o tema mais aplaudido, após o qual, parte da assistência se dirigiu para o palco principal. Os que por ali ficaram, puderam ainda ouvir uma cover da Swoon, dos The Chemical Brothers, Once at a Time e Tell Me Something, gerando uma já existente mas agora dilatada espectativa em redor de “These New Countries”, com data prevista de lançamento para Setembro.


Ao fundo do anfiteatro, seguiram-se os ambientes psicadélicos do art-rock produzido pelas californianas Warpaint, que tinham estado já em Portugal, mais precisamente no Teatro Aveirense, em Maio de 2010. Com o primeiro LP “The Fool” na bagagem, as meninas de Los Angeles voltaram para nos tocar Warpaint, Composure e a faixa mais conhecida, Undertow, que recebe calorosos aplausos por parte da assistência. Visívelmente agradadas com o público português, não resistiram a admitir “This is so much fun!”. Burgundy e Elephants provam que Emily Kokal e Theresa Wayman (nas guitarras), Lee Jenny Lindberg (no baixo) e Stella Mozgawa (na bateria), não se esqueceram do EP “Exquisite Corpse”.


São de Brighton, fazem uma música rock de carácter gótico e esta foi a primeira vez que actuaram em Portugal. Os Esben and The Witch, cujo nome provém de um conto de fadas dinamarquês, são um trio coposto por Rachel Davies, Daniel Copeman e Thomas Fisher. Num concerto que teve início com muito fumo (e se sobrepôs, infelizmente, ao das Warpaint) e terminou com Thomas de bombo em punho, o trio inglês apresentou o recente “Violent Cries”, com selo da Matador. Argyria, Chorea e Hexagons IV são algumas das músicas ouvidas no Palco 2. O single Marching Song, reconhecido imediatamente pelo público, marcou o auge da actuação dos britânicos.


O trio norte-americano Blonde Redhead foi buscar o nome a uma música dos DNA (a banda de Arto Lindsay). A japonesa Kazu Makino, dona de uma voz inconfundível, e os irmãos gémeos italianos Amadeo e Simone Pace já estão juntos há dezoito anos, mas não é por isso que deixam de ser criativos a cada vez que vão para o estúdio. Iniciam a belíssima actuação, rodeados de lâmpadas distribuídas pelo palco, com Elephant Woman, de “Misery is a Butterfly”, do qual ainda tocaram Messenger e Misery is a Butterfly. De “23”, tocam a lindíssima Dr. Strangeluv, The Dress, 23 e Spring and by Summer Fall. Apesar de “Penny Sparkle” ser o registo mais recente, os nova-iorquinos deixaram-no desta vez de lado e apresentaram-se em Paredes de Coura, para agrado de muitos com toda a certeza, com uma setlist assente maioritariamente nos álbuns “Misery is a Butterfly” e “23”, sem no entanto se esquecerem de “Melody of a Certain Damaged Lemons”, com In Particular ou “In an Expression of the Inexpressible”, com Suimasen. Fica registada uma excelente prestação (uma das melhores de todo o festival) não só da banda, como também do técnico de som, que também tem mérito (fica aqui o meu agradecimento), uma vez que as condições estiveram impecáveis. No final, e apesar de muitos estarem ansiosos pelo concerto de Pulp (o maior nome de todo o cartaz), ficou a desejar-se mais. No entanto, um encore não existiu, à semelhança do que aconteceu em praticamente todos os concertos deste ano.


Até parece mentira quando há gente em Paredes de Coura que diz desconhecer os Pulp, um dos maiores nomes da britpop dos anos 90, e de longe a banda mais conhecida de todo o cartaz desta edição, mas que os há, há. Talvez isso se deva a uma longa paragem de uma década. Lembre-se que os ingleses haviam já terminado em 2002, após o lançamento de “We Love Life”. Para felicidade de muitos, eles estão de volta, e a banda de “Different Class”, liderada pelo carismático Jarvis Cocker e companhia: Candida Doyle, Mark Webber, Steve Mackey, Nick Banks e Russell Senior, voltou a reunir-se. O concerto mais esperado do festival não teve início sem antes dar lugar a uma pequena (grande) brincadeira, deixando os milhares de fãs ainda mais ansiosos pelo regresso de Jarvis Cocker, indivíduo dotado de muita “polpa” em palco, que já havia estado em Paredes de Coura na edição de 2009, na altura com o seu projecto a solo. “Make some noise”, “I can’t hear you”, “Are you ready?”, e “Boa noite Paredes de Coura” são algumas das mensagens que se podem ler, com letras feitas de luzes laser, na parte superior do palco. “Do you want to see a dolphin? (…) Ok, let’s do it!” precede o momento mais random do festival, quando todos vêem um golfinho de laser verde nadar no palco. Quando por fim, a rede que até então tapava todo o palco é retirada, a banda invade o estrado mais desejado do Minho, uns néons gigantes com o nome da banda podem ver-se, e Do You Remember the First Time ecoa pelo anfiteatro acima, onde se vê agora um mar de braços no ar. O comunicativo Jarvis Cocker cumprimenta então o imenso público, com um macarrónico “Somos Pulp. Tá tudo?”. As poses excêntricas de Jarvis continuam em temas como Razzmatazz (que é o mesmo que dizer linguagem evasiva ou amígua, e que é também uma sala de espectáculos em Barcelona), O.U. (Gone Gone) e Pencil Skirt. “Who’s that yellow person?”, pergunta Jarvis, referindo-se ao espectador mais famoso de Paredes de Coura, o cão insuflável que dá pelo nome de Piruças. Enérgico, Jarvis procede com Something Changed, sobre o destino, no qual confessa não acreditar, e Disco 2000, depois de um não menos macarrónico “Querem dançar?”. F.E.E.L.I.N.G.C.A.L.L.E.D.L.O.V.E, Acrylic Afternoons e Mis-Shapes são outros temas escutados antes de This is Hardcore, sob um ambiente soturno, num palco banhado a luzes vermelhas. Era inevitável, e já toda a gente o sabia: o concerto dos Pulp termina com um muito aplaudido e festejado Common People. Não houve encore, como seria talvez de esperar em outras situações.


Para além do famoso carro que viaja no tempo de “Back to the Future”, Delorean é também uma banda de quatro moços oriundos de território basco (mais precisamente Zarautz) e liderados por Ekhi Lopetegi, neste momento a viver em Barcelona. Quem esteve no Festival Milhões de Festa 2010, pôde vê-los. Quem não esteve, teve segunda oportunidade agora, um ano depois, em Paredes de Coura, onde tocaram no Palco After-hours uma synthpop muito dançável, habitada de ambientes mediterrâneos. Se Stay Close e Real Love são os dois temas inaugurais de “Subiza”, disco mais recente da banda, inaugurais foram também na actuação dos espanhóis. Deli, do EP com nome de piloto brasileiro de Fórmula 1, “Ayrton Senna”, foi um dos outros temas a merecer destaque.

O napolitano Stefano Miele é Riva Starr, autor de “If Life Gives You Lemons, Make Lemonade” e o mais recente “The Latin American EP”. Cruza o house com elementos da world music e foi ele que ficou destinada a tarefa de animar o Palco After-hours no resto da noite, com o seu DJ-set de new house.


DIA 19

Calhou aos portuenses Susana Santos Silva Trio, com Susana Santos Silva no trompete, Gonçalo Almeida no baixo e José Marrucho na bateria, a incumbência de, no Palco Jazz na Relva, dar arranque ao terceiro dia de festival em Pardes de Coura.


Já no interior do recinto, a abrir o Palco 2, estiveram os ecléticos You can’t win, Charlie Brown, também conhecidos sob a sigla YCWCB, em cuja música pop barroca vivem um certo sentimento de melancolia à boa maneira portuguesa e a estética de Grizzly Bear, Bon Iver ou Sufjan Stevens. Após o êxito obtido com o EP homónimo de estreia, lançado pela Optimus Discos, os lisboetas Afonso Cabral, Salvador Menezes, David Santos (conhecido do projecto Noiserv), Luís Costa, João Gil e Tomás Sousa, gravam o seu primeiro longa-duração, intitulado “Chromatic”, que vieram até Paredes de Coura apresentar a um público que parecia à primeira vista adormecido, mas aparentou estar atento e aplaudia Green Grass #1, I’ve Been Lost e Sort Of (esta do EP). Over the Sun / Under the Water, que dá início ao LP, encerra o concerto, merecendo muitos aplausos.



Os galeses The Joy Formidable seguiram-se no outro palco. O trio de indie rock, composto por Ritzy Bryan (voz e guitarra), Rhydian Dafydd (no baixo) e Mark Thomas (na bateria), actuou pela primeira vez em Portugal, pedindo desculpa por nunca terem vindo tocar a este cantinho do velho continente onde existe mais para oferecer a britânicos para além de treinadores e jogadores de futebol e o sol algarvio. A simpatia contagiante de Ritzy convida todos os que se encontram no recinto a ouvir os temas de “The Big Roar”, primeiro álbum da banda, com A Heavy Abacus a marcar o início da apresentação, seguindo-se The Greatest Light is the Greatest Shade (do EP “A Balloon Called Moaning”) e Cradle. Buoy ficou marcado pelo assalto à bateria e espancamento dos pratos, por parte de Rhydian e Ritzy e Rhydian, que agradeceu à plateia e confessou uma fantasia pelo nosso país, recordando a juventude que cá passara, antes de terminar com Whirring.


O power-trio Le Butcherettes veio de Guadalajara para oferecer ao público de Paredes de Coura um concerto dotado de energia, loucura e lascívia q.b., sendo a principal culpada disso Teresa Suarez, também conhecida como Teri Gender Bender. Explosiva, imprevisível e descontrolada, a frontwoman sexy dos mexicanos é um autêntico animal de palco. Ela cospe em direcção ao público, ela sobe para cima da bateria e cospe em cima do baterista, ela toca teclados com os pés, ela bate repetidamente com o microfone na cabeça com toda a força, ela desafia o público com um olhar intimidante e canta ao ouvido de um dos seguranças da Mama Sume, que não consegue esconder o esboçar de um sorriso envergonhado. Com os joelhos todos pisados e acompanhada por Gabe Serbian e Jonathan Hischke, veio apresentar “Sin Sin Sin”, primeiro e único registo longa-duração da banda, produzido por Omar Rodríguez-Lopez (At the Drive-In e The Mars Volta). Dress Off e Henry Don’t Got Love ficam registados como os pontos altos de um espectáculo agitado, de uma banda que já fez a primeira parte para os Yeah Yeah Yeahs, os Deftones ou os The Dead Weather.


A energia poderosa dos riffs provenientes das guitarras dos …And You Will Know Us By the Trail of Dead (também conhecidos como Trail of Dead ou apenas TOD) marcou presença em Portugal, depois de terem tocado há quatro anos no Sudoeste. Liderados por Conrad Keely, os texanos já aí andam desde mil-nove-e-noventa-e-três e, desde então, passaram-se dezoito anos e sete álbuns no repertório dos americanos, sendo “Tao of the Dead” a mais recente aposta, contendo “músicas de ganhar… não sei o quê, mas são músicas de ganhar”, como alguém disse, e muito bem. Apesar da audiência, que nem era escassa, mas também não era tanta quanto a que se esperaria, os espectadores manifestaram-se pouco de início, respondendo com tímidos aplausos às primeiras músicas. O baixista Danny Wood deu provas de elasticidade e a talvez (sabe-se lá) com base nisso, a agressividade que é requerida num concerto de Trail of Dead, e que demorou a chegar, lá veio ao fim de talvez uma mão cheia de músicas. Et voilà, eis que se puderam ao longe avistar o demorado mas inevitável mosh, o querido crowdsurf (que de resto devia mudar de nome pra crowdbodyboard, uma vez que é mais frequente as pessoas andarem deitadas do que de pé) e as cervejas a voar, ao som de So Divided, Gargoyle Waiting, Perfect Teenhood ou Will You Smile Again.



Elizabeth Sankey, que “Nunca tinha visto tanta gente bonita!” e Jeremy Warmsley são os Summer Camp. Vieram em substituição dos franceses Jamaica (que cancelaram a actuação em Paredes de Coura, devido a problemas de costas de Florence, um dos dois membros). Acompanhados de um baterista a mascar, como se diz no norte, uma “chicla” (tradução: pastilha elástica) com um ar de entediado, o duo londrino veio até Portugal mostrar a pop lo-fi do EP “Young”. A prestação deles foi, admita-se, meio para o tímida.



A muralha de amplificadores posicionada atrás do trio de Brooklyn, fazia antever um concerto intenso de rock matemático que, de resto, os Battles souberam confirmar. Se o prato direito da bateria de John Stainer deve estar, neste momento, inscrito no livro de recordes do Guiness, como um dos pratos mais altos de todo o sempre, elevado bem acima da cabeça do baterista, a dança de pernas de Ian Williams deve constar com certeza num pódio das melhores danças de pernas da história da música, tendo talvez como únicos rivais à altura, os gajos do funk. Influenciadas pelas estruturas complexas do free jazz, as músicas cerebrais e matemáticas dos nova-iorquinos deixam os fãs a “curtir por antecipação” (expressão que aplico quando vejo alguém dançar com veemência, antevendo o clímax de uma música, bem antes de este acontecer) durante longos minutos, esperando que as progressões culminem numa explosão de desordem e rock desgovernado, tudo coisas que não habitam a música poderosa dos Battles. Dois ecrãs verticais, colocados no meio dos amplificadores, mostram imagens de Kazu Makino (dos Blonde Redhead), ao som de Sweetie & Shag e de Gary Numan, ilustrando as vocalizações de My Machine, ambos do mais recente trabalho, “Gloss Drop”. Outro destaque da performance, vai para Atlas, tema retirado de “Mirrored”. “Very, very awesome audience!”, declaram, com desejo de voltar a Portugal. No final, há muitos aplausos e assobios, pedindo um encore que, mais uma vez, não existiu.


Ainda os Battles estavam no palco principal, e já os Chapel Club tocavam no palco secundário. Trata-se de um quinteto oriundo de Londres, tocam pós-punk com influências de My Blody Valentine, New Order ou Sonic Youth e têm um álbum de estreia intitulado “Palace”. Infelizmente, não deu para assistir à prestação deles, uma vez que faltavam escassos minutos para o início do concerto de Deerhunter.


Bradford Cox, Lockett Pundt, Josh Fauver e Moses Archuleta são os Deerhunter, originários da cidade de Atlanta, na Georgia, e tocam aquilo a que chamam de ambient punk, uma mistura de noise com pós-punk e shoegaze. O líder, Bradford Cox, que achava encontrar-se no Porto (talvez por ser o aeroporto mais próximo de Paredes de Coura) e que dá também pelo nome de Atlas Sound (projecto paralelo do vocalista), a ter um sósia em Portugal, seria com certeza Nuno Rodrigues, dos The Glockenwise, com a diferença óbvia de que este último é visívelmente mais jovem. O quarteto norte-americano responsável pelo muito aclamado “Halycon Digest”, considerado por muitos como um dos melhores álbuns do ano transacto, veio a Portugal tocar demasiado alto, num concerto cujo som não estava nas melhores condições. Ainda assim, a banda soube ser competente e dar um bom espectáculo. Ouviu-se Hazel St., de “Cryptograms”, Little Kids, de “Microcastle” e uma série generosa de temas do álbum acima citado, tais como Desire Lines, Don’t Cry, Revival e Memory Boy, deixando para o final a extensa We Would Have Laughed. Durante a actuação, Cox revela o gosto que nutre por Portugal, confessando ser este país assombrado (esperemos que no bom sentido) um dos seus lugares favoritos, senão o favorito.


Como pode correr um concerto de dois noruegueses com ar de quem não faz mal a uma mosca, empunhando guitarras acústicas e a tocar canções delicadas e subtis, logo após Battles e Deerhunter? “Pode correr mal”, é uma das respostas possíveis, mas neste caso até correu bem. Demasiado bem, aliás, se é que “demasiado bem” possa existir. O público de Paredes de Coura rendeu-se aos (muitos) encantos dos Kings of Convenience. Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe, provenientes do frio setentrional de Bergen e que trazem até ao sul quente da Europa músicas quentes e melancólicas, conhecem-se desde os onze anos, tenra idade, portanto. São calorosamente recebidos pelo público português mal entram em cena. Para além deles, existem quatro bancos brancos do lounge VIP, para decorar o palco. My Ship Isn’t Pretty, cujo ritmo é acompanhado de palmas, assinala o início do concerto. “Shhhh”, ordena Øye, pedindo ao público, ironicamente, que faça (ainda mais?) silêncio. A folk-pop delicada do duo continua com 24-25, também bastante aplaudido. “É sempre divertido tocar em Portugal!” pronuncia o esquelético Erlend, de forma quase perfeita. I Don’t Know What I Can Save You From é, de seguida, entoada pelos fãs, que a trouxeram bem decorada, a seguir à qual, tocam The Girl From Back Then. Dedicam um tema ao rapaz que lhes emprestara um barco insuflável no Rio Taboão, onde já tinham feito sucesso no dia anterior e dizem que, muito embora sejam a banda mais pequena do festival, tentam soar grandes: “We’re trying to sound big”, dizem. A missão parecia estar a cumprir-se, e a prova disso era um anfiteatro repleto de gente rendida a um concerto intimista, simples e bonito. Seguem-se Me In You, Mrs. Cold e Stay Out of Trouble. Sempre muito simpáticos e divertidos, promovem uma espécie de competição amigável entre os lados esquerdo e direito da assistência. Rule My World e Toxic Girl precedem a confissão que deixou todos os presentes orgulhosos. Eirik diz que, quando estava no barco (no Rio Taboão), sentiu que aquela experiência fora o que de mais próximo tinha estado do paraíso. Já na recta final da actuação, tocam Misread, Boat Behind e I’d Rather Dance With You. Nas últimas canções foram acompanhados por dois músicos convidados: o italiano Davide (no baixo), e o alemão Tobi (no violino). Depois de abandonarem o palco, acontece algo, não se pode dizer inesperado, mas que não tinha ainda acontecido nesta edição do Paredes de Coura: os noruegueses voltam ao palco para um encore. Eirik, sozinho em palco e num ambiente obscurecido, canta em português (do Brasil). Corcovado, do brasileiro Tom Jobim, é acompanhado pelo “trombone invisível” de Erlend. Despedem-se com Homesick, durante o qual se vêem muitos isqueiros acesos, prova de agrado e agradecimento do público português. O concerto dos Kings of Convenience, com uma setlist que compreende temas de “Quiet Is the New Loud”, “Riot on an Empty Street” e “Declaration of Dependence”, foi o mais longo de todo o festival, e o único até agora a ter direito a um encore, marcando para sempre na memória dos sortudos presentes, raros momentos de beleza.


Com uma assistência largamente em menor número, visto que muitos foram os que quiseram ir guardar lugar para o concerto dos Metronomy, Marina Lambrini Diamandis, filha de mãe galesa e pai grego, é Marina & The Diamonds. A pop que trouxe a Paredes de Coura tem influências, segundo ela, entre outros, de Patti Smith, Tom Waits, Nirvana, PJ Harvey, Yann Tiersen, Elliott Smith e Madonna. Apesar de todos estes nomes sonantes em quem diz inspirar-se, a música de Marina é considerada por muitos como deslocada do cartaz de Paredes de Coura. Com o álbum “The Family Jewels” na bagagem, a pop helenico-galesa fez-se ouvir, com Mowgli’s Road, The Outsider, Are You Satisfied? ou I Am Not a Robot. Deitada no chão do palco principal, canta Living Dead, do disco novo, a sair no próximo ano. Seguem-se Numb, tocada e cantada com Marina sozinha em palco, Obsessions, Oh No!, o single Hollywood, Shampain e Guilty, com o qual termina, com promessas de regresso a Portugal.


A new rave dos ingleses Metronomy encheu por completo, pela segunda vez, o Palco After-hours. Os únicos a conseguir a proeza até então nesta edição, tinham sido os Crystal Castles. Joseph Mount, Oscar Cash, Anna Prior e Gbenga Adelekan são de Brighton, trouxeram t-shirts com luzes no peito e “The English Riviera”, terceiro e mais recente LP. Por trás deles, existem projecções de cartoons. À frente deles, um mar intransponível de pessoas. Razão pela qual foi impossível para muitos ver a actuação de perto.



Mixhell é o projecto de “rock-trónica” do brasileiro Iggor Cavalera, baterista dos Sepultura. Com a esposa Laima Leyton e influências que vão desde o cyberpunk e o technoclash ao discopunk e o hip hop old school, combinam elementos de percussão com as técnicas usuais de DJing. No final, o resultado é uma música electrónica e dançável, com uma atitude rock.



DIA 20

De Braga vieram os governo, projecto do escritor valterhugo mãe, Miguel Pedro e António Rafael (ambos de Mão Morta, o primeiro de Mundo Cão e o segundo de Estilhaços). Marcaram presença no Jazz na Relva do último dia de Paredes de Coura 2011, com a sua “Propaganda Sentimental”.


Igualmente a minúsculas e da cidade dos bispos, tocaram no Palco 2 os peixe:avião. A fazer companhia aos cinco rapazes de Braga: André Covas, José Figueiredo, Luís Fernandes, Pedro Oliveira e Ronaldo Fonseca, estavam lâmpadas fluorescentes ao alto, que conseguiriam um melhor resultado estético num espectáculo à noite ou, pelo menos, com menos luz. Os “Radiohead portugueses”, como já se ouviu dizer, trouxeram para mostrar “Madrugada”, segundo álbum da banda e alguns temas novos, a incluir no próximo álbum.


Veio de Queluz a banda portuguesa mais esperada do festival. São sete os anos que já se passaram desde a criação dos Linda Martini, que arrastam já atrás de si um número considerável de devotos, comprovado pela assistência de dimensão anormal para o horário a que tocaram. De regresso a Paredes de Coura, quatro anos depois de um concerto muito aclamado, André Henriques, Cláudia Guerreiro, Hélio Morais e Pedro Geraldes começam com Este Mar e Nós os Outros. Amor Combate, um dos temas mais apreciados pelos fãs, abre caminho a Ameaça Menor e Dá-me a Tua Melhor Faca. Os lisboetas, que deram um excelente concerto que se tornaria mais interesante ainda, caso tocassem mais tarde, tocaram ainda Juventude Sónica e O Amor é Não Haver Polícia. “E a ti Hélio, o medo também não te assiste?”, exibia-se num dos muitos cartazes lá na frente. Belarmino VS e Cem Metros Sereia, que encerram o novo álbum “Casa Ocupada”, terminam também o óptimo concerto com que os Linda Martini brindaram, mais uma vez, o público de Paredes de Coura.


O senhor Kurt Vile, de regresso a Portugal, depois de ter tocado há um par de anos no Festival Para Gente Sentada, em Santa Maria da Feira, veio desta feita a Paredes de Coura, acompanhado dos Violators, banda que o apoia ao vivo, apresentar “Smoke Ring for My Halo”, quarto disco de originais. O songwriter de Philadelphia associado à Matador e que tem como maiores influências Bob Dylan, Bruce Springsteen e Neil Young, tocava já e ainda os Linda Martini não tinham terminado no palco principal. “Olá”, diz Kurt ao (muito) público que já lá se encontrava para ver este que foi o primeiro concerto da sua tour. Baby’s Arms, Jesus Fever e Ghost Town são três dos temas que o americano tocou no palco secundário, no qual se sentia um calor apenas comparável ao do interior das tendas que não conseguiram um lugar à sombra.


Maika Makovski é uma rapariga viajada, senão vejamos: é de origem macedónia, mas veio das terras de nuestros hermanos, sendo ao mesmo tempo andaluza e maiorquina; já viveu em Nova Iorque e agora vive, em part-time, em Barcelona, tendo gravado o álbum homónimo em Bristol. Desconhecida de grande parte dos presentes, veio em substituição dos californianos Foster the People, tendo a boa-sorte de tocar no palco principal de Paredes de Coura. No entanto, à espera dela estava pouca gente, talvez por muitos estarem a ver o final do concerto de Kurt Vile, ou porque simplesmente não conheciam nem tão pouco tiveram a curiosidade suficiente para o fazer. Fez-se acompanhar de David Martinez, Juan Carlos Luque e Oskar Benas, que tocaram para uma plateia sentada, muito certamente de espectadores de ocasião, e distribuída pelo anfiteatro natural mais famoso de Portugal.


A gritpop (versão acelerada da britpop) dos Viva Brother teve bastante menos assistência do que a prestação de Kurt Vile. Alguns dos que lá se encontravam no início do concerto, cedo abandonaram o perímetro, ficando este quase vazio, pelo menos para uma banda que toca como este quarteto de Slough, nos arredores de Londres. Quem estivesse nas grades e não olhasse uma única vez para trás, a julgar pela pose empenhada e vencedora de Leonard Newell, Joshua Ward, Samuel Jackson e Franklin Colucci, autores de “Famous First Words”, acharia que à frente deles se poderia encontrar uma imensidão de fãs, mas a vil verdade, pelo menos para estes jovens, é que o público masculino preferiu ir ver a bola (estava a dar o Benfica x Feirense nos ecrãs da zona reservada ao JN) e/ou os Two Door Cinema Club, que iam já de seguida tocar no palco principal e tinham temas mais conhecidos.


Os Two Door Cinema Club regressaram a Portugal, depois de terem marcado presença ao vivo em Lisboa, há meses atrás. Ao trio da Irlanda do Norte, composto por Alex Trimble, Kevin Baird e Sam Halliday, foi adicionado Benjamin Thompson, que ficou responsável pela bateria. A electrónica orelhuda, situada algures entre a cena indie e as tabelas de vendas, de “Tourist History”, disco duplo de estreia lançado pela francesa Kitsuné, fez-se ouvir no recinto. Come Back Home, I Can Talk (aquela do anúncio da TMN), Do You Want It All e This is the Life são temas tocados antes de o trio promovido a quarteto passar para o não menos esperado single Something Good Can Work. E, como o público português até é um público simpático, foi-lhes oferecido um novo tema, de seu nome Sleep Alone.


A seguir, chegaram dois gajos muito aguardados e que fazem muito barulho. Não são ainda os Death From Above 1979, mas antes os No Age, de Los Angeles, que tinham já estado em Portugal, mais precisamente no Plano B (obrigado Fua, por estas coisas que fazes). Muito ruidosos e muito lo-fi, Randy Randall e Dean Allan Spunt, debitam um noise-punk sujo que faz estabelecer o caos junto às grades, logo após a primeira música. Nem a corda rebentada de Randy o impede de tocar, deixando de imediato o público num estado de êxtase e de vontade de porrada. A dupla teve direito a mosh e crowdsurf por parte do público durante todo o concerto, como manda a lei (a dos concertos barulhentos, pois claro). Num bom show, que teve em Fever Dreaming, do novo “Everything in Between”, e no breve mas explosivo Boy Void, de “Weirdo Rippers”, dois pontos altos, as condições de som não abonaram a favor dos californianos que fizeram, apesar de tudo, muito boa figura.


Mogwai é o nome de umas criaturinhas peludas que não se podem molhar e às quais não se pode dar comida depois da meia noite ou expôr a luzes fortes, mas não foram esses Mogwais que estiveram em Paredes de Coura. Os que estiveram, representam um dos maiores nomes do pós-rock a nível mundial e são de Glasgow. Stuart Braithwaite, Dominic Aitchison, Martin Bulloch, John Cummings, Barry Burns e Graeme Ronald andam em tour pelos Estados Unidos e pela Europa e, na passagem por Portugal, de regresso a Paredes de Coura, onde já tinham estado há uma dúzia de anos, vieram apresentar o mais recente dos sete álbuns da banda: “Hardcore Will Never Die, But You Will”, cujos temas preencheram grande parte da setlist. O concerto tem início sob um ambiente obscuro, onde se tocava a música instrumental caracterizada por melodias complexas de White Noise, How To Be a Werewolf e Mexican Grand Prix. O disco “Happy Songs for Happy People” foi também recordado, com Killing All the Flies e Hunted By a Freak. É só em Mogwai Fear Satan, último tema, que o público dá um manifesto exteriorizado em condições. Ficou, de facto, a faltar alguma euforia por parte da assistência, perante uma prestação intensa dos escoceces, tal como a faltar ficou uma maior comunicação por parte da banda, demasiado discreta, cujas mensagens verbais entre as músicas, pouco passaram de um “Obrigado. Thank You. Cheers.” repetido por três vezes.


Como é que, com um baixo e uma bateria, se faz um colosso basqueiral, capaz de colocar uma plateia imensa em ebulição? Os canadianos Death From Above 1979 parecem saber a resposta (que parece passar por um som pesado e, ao mesmo tempo, dançável) e demonstraram exactamente isso, na derradeira oportunidade de dirigir robustos e esfodaçantes encontrões aos indivíduos circundantes e passear por cima das cabeças dos restantes membros da assistência. Da mesma forma que não é preciso guitarras para se fazer rock, não é só nos terrenos da electrónica que há drum and bass. Meia dúzia de anos depois, Jesse F. Keeler e Sebastien Grainger, estão de volta com um baixo e uma bateria a Paredes de Coura, após um concerto que contou com um punhado de gatos pingados a curtir à frente das grades, sendo que desta vez, a assistência foi multiplicada por números com zeros à direita. Quando já todos achavam que os Death From Above tinham terminado para todo o sempre, deixando apenas um solitário mas épico álbum “You’re a Woman, I’m a Machine” e um EP “Heads Up”, eis que estes dois fulanos de Toronto regressam e tocam no enorme Coachella. Agora que finalmente estão de volta, resta-nos esperar que fiquem para algo mais do que dar concertos e nos brindem com mais rodelas de acrílico com barulho dentro (façam-no num futuro próximo, se faz favor). São uma banda de anormal dimensão e reputação, se tivermos em conta o reduzido repertório de que dispõem (apenas um LP e um EP, como já foi dito), mas nem por isso deixam de ter imensos seguidores sendo, sem surpresa, incluídos no restrito leque das actuações mais esperadas do Paredes de Coura 2011. Exactamente por ser curto, o repertório do duo é praticamente esgotado no concerto que começa com Turn It Out, seguido de Going Steady, debaixo de muito fumo. A rapidinha musical que é Too Much Love (curta e desenfreada) é o tema que se segue, após o qual Sebastien agradece com “Obrigado” e “Obrigada”, demonstrando saber a diferença no agradecimento em português, quando pronunciado por um homem ou por uma mulher. Muitos devem ter sido os objectos de valor que voaram e as cervejas que se entornaram nas imediações das grades em frente ao palco onde os canadianos tocaram, e devem abundar as pisaduras guardadas como recordação do último grande concerto desta edição do festival. Antes de Black History Month, Sebastien deixa um pedido para que se crie um circle pit e um aviso para que se tenha cuidado com as meninas. Go Home, Get Down, Little Girl e Blood on Our Hands são malhas que justificam o crowdsurf fluído em direcção aos “pescadores” de pessoas (os seguranças) que se encontram no fosso. Também eles (os Death From Above 1979) pensam encontrar-se no Porto, como se pôde supor pelo “Obrigado Oporto”. You’re a Woman, I’m a Machine, Romantic Rights e Do It! faziam aproximar o inevitável final, que aconteceu pouco tempo depois, após If We Don't Make It, We'll Fake It e Losing Friends. Muitos foram os que vieram aqui esgotar as últimas reservas de energia, despedindo-se em grande com uma boa dose de basqueiro, suor e agressividade, num concerto onde o volume sonoro podia ser superior, sentia-se isso, infelizmente, a partir da reggie.


O hip hop e o funk convivem no projecto Orelha Negra, do famoso rapper de Chelas, Samuel Mira, mais conhecido como Sam the Kid. Neste projecto, assume o nome de guerra Mira Professional e é responsável pelos samples e o MPC. Já o brasileiro DJ Cruzfader, outro nome grande do hip hop “tuga” da velha guarda, é o responsável pelos scratches. Rebelo Jazz Bass (no baixo e na guitarra), Ferrano (na bateria) e Gomes Prodigy (no teclado e no sintetizador) completam o colectivo. Com um Palco After-hours bem composto, mas bem longe da enchente do dia anterior, para ver Metronomy, os Orelha Negra apresentaram o LP homónimo com Lord, M.I.R.I.A.M e 961 919 169. Depois daquilo que começou por ser um concerto nos moldes habituais (apesar de não ser habitual ver um concerto de hip hop com bateria e baixo), os temas originais dão lugar a um DJ-set acompanhado de instrumentos, onde se ouvem Groove is in the Heart, de Dee-lite, I’ve Got the Power, de Snap, U Can’t Touch This, de MC Hammer, Crazy In Love, de Beyoncé, Jump, de Kriss Kross, Jump Around, de House of Pain, Ante Up, de M.O.P, Block Rockin’ Beats, de The Chemical Brothers, Smack My Bitch Up, de The Prodigy e Organ Donor, de DJ Shadow (que Vladimir Dynamo tinha já passado no primeiro dia do festival). Esta sucessão de clássicos deixa que se respire boa disposição no Palco After-hours.

Coube a Terry Hooligan vs. Rico Tubbs, responsáveis pela editora Bass=Win, o encargo de “fechar o tasco”, não só do After-hours, como de todo o festival Paredes de Coura deste ano. Quem por lá ainda ficou até ao fim, até à inevitável e dolorosa despedida, teve a oportunidade de escutar as linhas de baixo do hip hop e do dubstep que os finlandês e inglês passaram.



Numa edição cuja assistência foi superior à das anteriores, ultrapassando os 80 mil espectadores, durante os quatro dias em que decorreu o festival, o Paredes de Coura de 2011 ficou marcado por concertos brilhantes como Blonde Redhead, Pulp, Battles, Kings of Convenience, Mogwai ou Death From Above 1979.

O balanço foi, portanto, positivo, sem prejuízo de terem sucedido algumas situações negativas. A maior quantidade de bandas sacrificou o tempo de actuação destas, ficando registadas durações de concerto menores em relação às das edições transactas, provocando também uma ausência de encores e uma muito indesejada e comentada sobreposição de concertos.

Os problemas com o som do palco secundário foram uma constante, retirando o brilho que algumas das actuações podiam ter alcançado.

A colocação de bandas como Crystal Castles e Metronomy num palco pequeno, como é o secundário, provocou enchentes desagradáveis que impediram ou, pelo menos, desencorajaram de o fazer, muitos dos que queriam ver estas bandas.

Acarinhado por uns, ódio de estimação de outros (por tapar a vista e irritar pela omnipresença), o insuflável Piruças também não faltou.

Quem faltou este ano foi, para agrado de todos, a chuva. Na verdade, ela até apareceu, mas apenas por breves minutos, revelando-se inofensiva.

E para o ano há mais Paredes de Coura!

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