02-03.12.2011 - Vodafone Mexefest - Lisboa
--- Vodafone Mexefest ---
Lisboa (02-03.12.2011)
Fotografia: Rodrigo Vargas / Texto: Filipa Leite Rosa
Lisboa (02-03.12.2011)
Fotografia: Rodrigo Vargas / Texto: Filipa Leite Rosa
Pá, temos de ir andando!”, “então? Estou a curtir estes macacos”, “que piada gira…a sério, temos de ir se ainda queremos apanhar Fanfarlo”, “então anda! Mexe-te!” Era meia-noite menos um quarto, no Maxime, ao som de Macacos do Chinês, no primeiro dia de Vodafone Mexefest.
Dia 2 de Dezembro:
A ”road trip”, ou melhor, “Avenida trip”, começou mais cedo e noutra icónica sala da cidade de Lisboa, a sala II do cinema São Jorge. Chegámos – o meu colega fotógrafo, eu e o meu nariz ranhoso – por volta das 19h30 para dar tempo de trincar qualquer coisa antes do início do festival. Fiz questão de salientar o estado das minhas vias respiratórias para 1) dar a entender o quão forte era a minha constipação: toda a minha atenção estava direccionada ou para os concertos ou para o meu nariz e 2) para permitir a conclusão deste texto que, contudo, não será muito complicada de conjecturar.
A entrada do cinema São Jorge estava apinhada: para além do comum portador de bilhete, havia vendedores de castanhas, distribuidores de chocolate quente (que faziam sempre questão de avisar “olha que não é cerveja”, o que quase sempre recebia a resposta “ah, então deixa lá”) e distribuidores do horário da festa, pins, fitas e tudo o mais que tivesse em si inscrito as palavras Vodafone Mexefest, não fosse a grande passagem aérea sobre a avenida, vermelha e branca e com écran informativo, suficiente para confirmar que “sim, chegaste ao sítio certo, estás no Vodafone Mexefest!”
Começámos pelos Asterisco Cardinal Bomba Caveira, não sei bem porquê, talvez porque era o primeiro concerto no São Jorge. Mas até acabou por calhar bem, o ambiente de “festa do liceu” (que acho que era o que se pretendia) foi divertido q.b. e ao som do Salão Paroquial fomos à procura de música com pelo menos um bacharel. Subimos a avenida até ao Hotel Tivoli e esperámos na fila do elevador que nos levaria até ao terraço (devíamos ter previsto a pequena desgraça).
Lá em cima o ambiente era completamente diferente com o folk dos Julie & The Carjackers. O espaço ajudava, claro. Era tudo luxo e elegância, uma vista privilegiada sobre a cidade, mas foram os Julie, no seu pequeníssimo palco no canto da sala que impuseram o seu ambiente descontraído, naquele imenso terraço cheio de gente com um sorriso na cara e ancas a abanar. Com alguma pena decidimos passar ao próximo concerto que deveria ter sido Josh T. Pearson. Sim, deveria. Diz que a logística da coisa não foi muito bem engendrada e à saída do terraço foi necessário esperar quase 20 minutos na fila para o elevador. Não nos foi permitido utilizar as escadas… Por essa altura já só conseguia respirar/engolir o bafo quente que lá conseguia encontrar o seu caminho até aos meus pulmões. Não me foi permitido utilizar o meu nariz…Só pensava que devia ter aceite aquele chocolate quente que afinal não era cerveja. Quando finalmente chegámos aos Restauradores já Josh T. Pearson estava nas despedidas na Sociedade de Geografia, pelo que resolvemos saltar logo para Eleanor Friedberger ali ao lado, na Casa do Alentejo. Mas o azar não tinha terminado e ficou confirmado que este festival é já uma passagem obrigatória para muita e muita gente: não conseguimos entrar, nem sequer vislumbrar o palco, havia uma multidão a tapar a visibilidade, a fingir que era fila para entrar.
Frustrados avançámos até à sala SBSR na estação de metro dos Restauradores e, por incrível que pareça, só a encontrámos na última das entradas por onde procurámos. Mas vimos Capitão Fausto! Mais ou menos. Foi intermitente. Quando saltava conseguia ver algumas das cabeças dos músicos. No entanto, Capitão Fausto é o tipo de banda que mesmo quem consegue ver não está tão interessado em assistir tanto quanto está em saltar e espernear. Para quem vinha com 3 frustrações às costas e uma senhora constipação ao colo, aquela explosão de alegria foi como uma injecção de adrenalina. De tal maneira que a seguir resolvemos voltar a subir a avenida até ao Maxime. Não apanhámos o bus porque vinha sempre em sentido contrário, azar! (que novidade…).
Entrámos então nessa sala de luxúria para ouvir o hip-hop de Macacos do Chinês. Fizeram-me sorrir com Dai-me Forças (para curtir este som) e fizeram muito mais pelo público que ali se encontrava a curtir aquele som e aquele espectáculo que não deixa, como se costuma dizer, ninguém indiferente, nem mesmo quem diz “hip-hop não é comigo”.
Já mesmo no pico da minha resistência, o meu colega arrastou-me para Fanfarlo e ainda hoje lhe agradeço. Que espectáculo! A sala Manoel de Oliveira do São Jorge estava cheia, de tal modo que os seguranças desistiram de advertir que nas escadas era proibido sentar e foi aí que fiquei a assistir, para mim, ao melhor concerto dessa noite. As canções que pudemos ouvir, daquele indie pop britânico, foram mais do que suficientes para preencher o vazio que já se ia fazendo sentir àquela hora, depois de tantos concertos vistos pela metade. Este festival tem intrinsecamente essa desvantagem, ou se é muito disciplinado e nos conformamos à partida em não ver sequer um terço dos espectáculos (o que também não é o ideal, já que o bilhete vale muito mais) ou então passamos o tempo à espera que “o concerto” comece ou com pena de não ficar até ao fim. Já para não falar do factor irritante e distractivo do constante entra e sai. Mas o festival é mesmo assim e não há que ficar melindrado. Por isso, apesar de estarmos satisfeitíssimos com Fanfarlo, não quisemos ir embora sem antes entrarmos na maior sala da festa, o Teatro Tivoli.
Entrámos quase no fim do concerto de Junior Boys e devia estar a ser muito bom porque nos sentimos uns intrusos num ambiente que não vimos nascer, um momento partilhado apenas entre fãs e músicos. Saímos para dizer adeus aos Salto, apertados no bus apinhado que ia descer de novo a avenida.
Dia 3 de Dezembro:
“Chocolate quente, where are you?”, “olha que não é cerveja”, “sim, eu sei, obrigada.”
Hoje não iríamos sofrer frustrações e o meu nariz estava muito melhor (obrigada pelo interesse). Começámos na Sociedade de Geografia para ver Filho da Mãe, eram 20h30. A sala era perfeita para o blues solitário de Rui Carvalho, o público é que não. Foi incrível o fluxo de entradas e especialmente o de saídas, sobretudo no início do concerto. Eram, com certeza, pessoas que não tinham feito o trabalho de casa e não faziam a mínima ideia do que ali veriam. Foi difícil prestar atenção e o introspectivo Rui, que toca quase como se estivesse sozinho, não ajudou muito. No entanto, não vimos o concerto até ao fim, pelo que não podemos aferir sobre a qualidade do mesmo. Nem a meio ia e já nós estávamos a caminho da Igreja de S. Luís dos Franceses para ver Old Jerusalem.
O folk relaxado e quase religioso de Francisco Silva assenta bem naquelas paredes sagradas e é precisamente com um comentário deste género que o músico inicia o espectáculo. A entrada da igreja estava completamente entupida o que, ainda assim, não impediu o entra e sai já habitual, especialmente e mais uma vez, durante as primeiras canções. A igreja não era muito grande, pelo que estes indecisos perturbavam e muito.
Dessa maneira e como não queríamos perder mais nenhum concerto, aumentámos em número de dois o frenesim que ali se passava e fomos ao encontro de doismileoito. Mais uma vez a sala SBSR estava a abarrotar com muitos dos fãs (já?) desta banda tão recente. A maior parte sabia as letras todas e gritava-as aos pulos e pontapés. Deixámos os fãs com os seus jovens ídolos e rumámos aos nossos, Dead Combo.
Tivoli lotado, como quase todas as salas neste festival. Os Dead Combo não surpreenderam mas agradaram bastante. Os espectáculos que proporcionam não são (compreensivelmente) muito diferentes entre si mas, em contrapartida, isso implica que a qualidade seja constante. Não se esqueceram dos fãs mais antigos e tocaram algumas das velhinhas. Assim e pela primeira vez, ficámos quase até ao fim de um concerto.
Seguiram-se os When Saints Go Machine, no Maxime. Ao contrário da sala SBSR, no Maxime o estilo de música variava drasticamente, agora com o electro-pop (descrição muito diminuída da realidade) destes dinamarqueses. Não deu para perceber se havia entre o público verdadeiros conhecedores desta banda mas, a julgar pela atitude geral e pela falta da tão comum saída de pessoal ao início dos concertos, havia sem dúvida muita gente bastante agradada (incluindo nós).
E assim fomos ficando e deixámos passar demasiado tempo, tanto que quando saímos com intenção de assistir a James Blake, no Tivoli, encontrámos uma fila de gente que chegava quase até ao Marquês. Ao menos os verdes e barulhentos Farra Fanfarra, fizeram-lhes companhia ali mesmo no meio da rua. Só entrámos porque havia entrada exclusiva para membros da imprensa (facto que deverá provocar sentimentos de ódio em muitos fãs...).
Depois de algum exercício à procura pelos camarotes de um espacinho para colocar os pés (não valia a pena tentar na plateia), pudemos finalmente tentar ouvir alguma coisa. Digo tentar porque ao meu lado se encontravam três super hiper mega fãs cujo entusiasmo significava bater palmas sem motivo aparente, proferir pequenas declarações de amor (gritadas) e muito "remeximento" nas cadeiras. Pareceu-me até vislumbrar pequenos sentimentos de competição entre uma destas três fãs e uma outra que se encontrava na plateia: num momento de maior silêncio entre canções, essa outra fã grita "I love you, James" para toda a sala ouvir, ao que a "minha" fã responde num misto de desprezo e alguma tristeza "pronto, ganhaste..." Mas ainda bem, os ânimos no meu camarote acalmaram um bocado a partir desse ponto. Aproveitei para rodar a cabeça para verificar a lotação do resto da sala e, realmente, nunca tinha visto o Tivoli assim. As paredes pareciam forradas a fãs. Foi sem dúvida o concerto mais esperado deste Mexefest e tenho a sensação que não desiludiu (e com isto confesso que eu não fazia parte do forro das paredes do Tivoli...).
Saímos antes do fim, não queríamos dar por terminada a nossa noite e o festival sem passarmos pelo São Jorge, por isso, demos um pulinho em Toro Y Moi, mas pouco ficou na memória para além da sensação de que, naquele momento, o festival se dividia em fãs de James Blake e fãs de Toro Y Moi.
Fomos embora, o meu colega, eu, o meu nariz quase curado e, depois desta trip frenética, dois pares de pernas cansadas. E, como prometido, aqui vai a óbvia conclusão: apesar de todos os inconvenientes, problemas de logística, concertos menos bons, frio de rachar, constipações exageradas para tornar o texto um pouco mais interessante e mais uma data de coisas, apesar disso tudo, este festival não vale a pena apenas, o Vodafone Mexefest recomenda-se!