Braga: O improvável líder
Ao fim de cinco jornadas da Liga, o impensável aconteceu: o Sp. Braga, com o melhor arranque da sua história, instalou-se no comando isolado, venceu dois dos crónicos candidatos ao título, e todos os sinais são de grande competitividade, determinação e compromisso com uma estratégia bem definida. Os observadores começaram por não dar importância mas os concorrentes já olham com desconfiança, a tentarem perceber ao que vem e aonde pode chegar a equipa de Domingos.
O começo nem fora nada encorajador, com a eliminação prematura da Liga Europa, poucos meses depois de uma campanha sensacional na Taça Intertoto e na Taça UEFA, chegando a colocar alguma pressão externa sobre a nova equipa técnica. Mas a qualidade média do plantel e a comprovada sagacidade do treinador, que tem o ‘feeling’ do jogo como factor diferenciador das novas gerações de treinadores de gabinete, acabaram por revelar-se no momento oportuno.
O Sp. Braga começou por ser a única equipa vencedora e cometer, embora involuntariamente, a proeza excepcional de ser líder isolado à 1ª jornada. A questão que se coloca a mês e meio da visita do Benfica de Jesus é: qual o objectivo realista para esta época?
Sendo prematuro falar de candidatura ao título, por causa da idiossincrasia do futebol português, não se corre qualquer risco numa previsão de que o Sp. Braga vai estar na corrida e deverá terminar entre os três primeiros, isto é, à frente de pelo menos um dos grandes, o que constituiria a melhor classificação de sempre para um emblema que há tanto tempo persegue esse objectivo, após oito quartos lugares nos últimos 30 anos.
Tendo vencido pela segunda vez o FC Porto de Jesualdo Ferreira, o treinador Domingos atingiu a maioridade no último mês e está lançado para uma carreira longa: tem passado, formação, uma carreira ascensional, um perfil moderno e de competência e uma enorme preocupação em fazer jus ao nome de família, sem precipitações nem passos em falso, inclusive nas relações com os grandes emblemas, embora não consiga distanciar-se do farol orientador, que é e será sempre o FC Porto. Ora, não há clube mais engajado com a linha triunfadora em Portugal do que o Sp. Braga.
Com a recuperação de Hugo Viana, o Sp. Braga retocou levemente o plantel, substituindo o uruguaio Luís Aguiar, figura da última época. A saída de Rentería poderá ter deixado um vazio, bem como a de César Peixoto, mas o treinador encontrou soluções no plantel e ainda fez dispensas como a do capitão Frechaut.
A folga desta gestão é o melhor elogio que se pode fazer ao grupo de jogadores, que se caracteriza por uma experiência elevada na Liga e que não parece afectado pela vontade frenética de ‘dar o salto’. A estabilidade directiva e financeira explicará esta tranquilidade.
PROTÓTIPO ALAN
O autor do golo do triunfo sobre o FC Porto, Alan, é o protótipo do jogador de equipa que serve de referência num clube ambicioso como o Braga.
Se fosse português seria internacional, ganhou dois títulos nacionais no FC Porto e marca a diferença em qualquer clube médio que pretenda chegar mais alto, contribuindo com um rendimento permanente.
Esteve no melhor Marítimo (2003-04), no melhor Guimarães (2007-08) e agora no melhor Braga, ajudando sempre a atingir qualificações europeias.
MATURIDADE
Braga:28
Benfica:25
FC Porto:25
Sporting:24
A equipa titular do Braga é a mais madura das candidatas ao título. A média de idades, de 28 anos, não explica tudo mas ajuda a compreender o perfil seguro, profissional e de concentração nos aspectos fundamentais do jogo.
EXPERIÊNCIA
Braga:108
Sporting:94
FC Porto:70
Benfica:60
O líder é também a equipa mais experiente e conhecedora da Liga, com uma média de jogos superior a 100 por jogador titular. Seis deles estão acima da centena e Paulo César é o estrangeiro em actividade com mais jogos (200).
EFICÁCIA
Braga:12
Sporting:12
FC Porto:5
Benfica:5
A média de golos por jogador só não é superior à do Sporting por causa do ‘factor Liedson’. Mas os três avançados de Domingos (Alan, Paulo César e Meyong) somam 110 golos na Liga e apenas dois dos dez titulares nunca marcaram.
AGRESSIVIDADE
Sporting:16
Braga:14
FC Porto 5
Benfica:2
O índice de agressividade no jogo, medido aqui pelo número de vermelhos no plantel, é também elevado quando comparado com FC Porto e Benfica, com sete ‘cadastrados’. Metade dos cartões (7) foram mostrados aos 3 dianteiros.
ASCENSÃO CLÁSSICA
Domingos tem tido uma ascensão clássica como treinador, desde a equipa B do FC Porto, passando por Leiria, onde derrotou os dragões de Jesualdo pela primeira vez, dois anos em Coimbra e, finalmente, Braga.
MAIS JOVEM
Por alguns meses, Paulo Bento é mais jovem do que Domingos e terminou a carreira de jogador três anos mais tarde. É um corredor de fundo, já o mais antigo em permanência na actual Liga.
MAIS VITORIOSO
Jesualdo Ferreira enriqueceu o currículo com três títulos consecutivos e o maior número de vitórias – dois recordes muito difíceis de igualar mas que servem de grande estímulo às novas gerações.
MAIS EMPATES
Jorge Jesus, a quem Domingos sucedeu em Leiria e em Braga, determina-lhe a altura da fasquia a transpor. Superá-la significa passar do nível do empate que não compromete para o desafio das vitórias.
Fonte: Correio da Manhã