Sócrates à espera que o telefone toque
Enquanto espera que o telefone toque para agendar a audiência com o presidente da República, José Sócrates está já a preparar o novo elenco governativo, que marcará a linha de equilíbrio para a estabilidade possível.
Os resultados eleitorais ditaram-lhe um novo estilo - o de negociador. É esta a nova pele que José Sócrates já começou a vestir na noite eleitoral, quando anunciou que antes de formar Governo ouvirá os líderes da Oposição, à Direita e à Esquerda, como terá de ser a sua governação. A maioria relativa obriga-o a tentar perceber qual o rumo que deverá seguir na gestão do país.
De fonte próxima do "núcleo duro" do líder socialista surge a confirmação de que não está nas intenções de Sócrates formalizar qualquer acordo com um ou mais partidos da Oposição.
Mas antes de ouvir o que os outros líderes têm para dizer, Sócrates tem que esperar que o telefone toque. O primeiro passo terá de partir de Cavaco Silva, que, de acordo com a Constituição, vai ter que chamar o líder socialista a Belém para o indigitar primeiro-ministro. A audiência ainda não foi marcada e, antes, o presidente também vai querer ouvir as razões dos partidos parlamentares.
Enquanto esses passos não são dados, o ainda chefe do Governo de maioria absoluta congemina a mudança de peças no xadrez governativo. A contestação a alguns dos ainda ministros será determinante para a formação do novo elenco, onde um par de independentes deverá refrescar o futuro Conselho de Ministros. Há, por isso, alguns "ministeriáveis" que também estão à espera que o telefone toque.
Quanto ao programa de Governo, que terá de ser apresentado no Parlamento, no prazo de dez dias após a posse do Executivo (próximo do final de Outubro), a base terá de ser a promessa eleitoral. Mas com ajustamentos que interpretarão os sinais dados pela Oposição e pelos parceiros sociais. Para hoje, estão previstas reuniões dos órgãos de cúpula das oposições. As duas centrais sindicais já apresentaram publicamente os seus "cadernos de encargos" para o Governo e o presidente da CIP já deu os seus recados (págs. 4/5).
Entre apelos, públicos e privados, para que governe mais à Esquerda ou mais à Direita, o líder socialista deverá optar por seguir sozinho, mantendo-se ao Centro e, ao mesmo tempo que usará o diálogo como forma de agir, irá desafiando as oposições a deixarem o PS governar ou a pagarem o ónus de criarem instabilidade.
Não está fora do seu cenário político a possibilidade, a prazo, dentro de dois anos, já depois de nova eleição do presidente da República, de a maioria relativa se auto-destruir com esperança de renascer absoluta. Como já foi lembrado por analistas, a Sócrates pode acontecer o mesmo que a Cavaco em 1987, quando ganhou a primeira maioria absoluta depois de ter sido derrubado no Parlamento pela aprovação de uma moção de censura, ao fim de dois anos de governação com maioria relativa.
No entanto, como sublinha o politólogo José Adelino Maltez, os resultados de domingo revelam o "enfraquecimento do centrão", ou seja, que "o cavaquismo já não funciona".
Fonte: JN