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Mike Duvall, conservador, integrava plataforma de defesa dos valores da família. Caso voltou a trazer para a ordem do dia as relações complexas e, por vezes, promíscuas entre políticos e representantes dos grupos de interesses

"Fizemos amor uma e outra e outra vez... nem me lembro quantas vezes." Esta foi uma das frases que levaram à demissão do deputado estadual da Califórnia Mike Duvall, depois de as suas declarações serem transmitidas por algumas estações de rádio e televisão locais.

Duvall, que é membro do Partido Republicano, falava com um colega de bancada numa sessão da comissão de serviços públicos e comércio, de que era vice-presidente, apregoando as suas alegadas aventuras extraconjugais. O que Duvall não se apercebeu é que os microfones da sala estavam em funcionamento.

As declarações de Duvall, de 54 anos, foram feitas numa sessão de 8 de Julho e divulgadas a meio da semana passada por uma estação de Los Angeles, sendo retomadas por outras cadeias do estado. Suspenso de imediato pelo seu partido, Duvall apresentou a demissão no final da semana, assegurando que não teve "uma ou várias relações" fora do casamento. Na sua declaração, apenas reconhece que protagonizou "uma lamentável situação" em que terá inventado "uma história imprópria".

O seu confidente na sessão de Julho, o republicano Jeff Miller, foi também afastado.

Casado e com dois filhos maiores de idade, Duvall ter-se-á referido a uma lobista (ver caixa) ligada a uma empresa do sector de energia, que contribuiu para a campanha do republicano em diversas ocasiões. A lobista trabalhava igualmente para a Associação de Comerciantes da Califórnia, o que justificaria igualmente contactos com Duvall.

As declarações do republicano, que integra uma plataforma de defesa dos valores da família, causaram significativo mal-estar na sua área política, já que este descreve com detalhes indecorosos os encontros com a amante e, numa ocasião, afirma ter feito amor com duas mulheres em simultâneo.

Um porta-voz da estação que primeiro reproduziu as declarações de Duvall sobre as suas "conquistas" amorosas afirmou, no fim de semana, que certos segmentos das gravações pura e simplesmente não podiam ser transmitidos, "devido ao seu carácter explícito".

O caso de Duvall vem revelar, uma vez mais, o universo por vezes nebuloso e até promíscuo das ligações entre políticos e lobistas. e expor a hipocrisia de algumas figuras públicas em temas de forte mobilização nos Estados Unidos.

No caso da Califórnia, foi referido nos últimos dias que as técnicas dos lobistas são particularmente agressivas devido à dimensão e importância do estado. Em termos de Produto Interno Bruto, a Califórnia surge entre as dez maiores economias mundiais. Assim os 120 deputados estaduais são alvo permanente da acção dos lóbis.

Devido a casos semelhantes no passado, a legislação estadual impõe hoje um estrito código de conduta nas relações entre os representantes dos grupos de interesses e os políticos, forçando ambos os lados a revelar os contactos havidos. Mas, como dizia ontem um lobista ao Los Angeles Times, "levar uma mulher bonita para uma reunião com elementos da assembleia legis- lativa faz com que, pelo menos, metade dos deputados queiram falar connosco".

Fonte: DN