Hitler, o pintor bucólico
O mundo poderia ter sido diferente se Adolf Hitler tivesse entrado na Academia de Belas-Artes de Viena. Poderíamos ter ganhado um pintor mediano e perdido o maior ditador de sempre. Provavelmente, ainda estaria para acontecer a Segunda Guerra Mundial e os alemães não teriam de carregar um genocídio como pesada herança. Mas já não é possível rescrever a história do jovem órfão que deixou a aldeia de Linz e partiu para Viena com o sonho de se transformar num grande pintor e foi recusado, por duas vezes, na Academia de Belas-Artes.
O argumento para a recusa da prestigiada academia austríaca foi muito simples: Hitler não tinha jeito para a pintura. Frustrado, o Führer começou a copiar desenhos de postais, para vender a turistas e tentar sobreviver como artista. Foi por essa altura, que Adolf Hitler terá pintado três aguarelas que vão hoje a leilão em Nuremberga, com o preço base de 3 mil euros.
Um moinho crivado de balas, na pequena cidade austríaca de Weisenkirchen in der Wachen, uma casa à beira-rio e uma igreja situada numa paisagem rural são os temas das obras que datam de 1910 e 1911. "São pinturas bastante neutras. A imagem da igreja branca está muito bem desenhada, para o estilo de Hitler. Também, ele nunca conseguiu entrar na Academia de Belas- Artes", disse aos jornalistas Kerstin Weidler, da leiloeira Weidler. A aguarela da igreja, autenticada em 1963 por Peter Jahn, crítico especialista nos quadros de Hitler, considerou-a como uma das melhores do ditador.
Falta de talento O Führer viveu convencido do seu talento e há até quem diga que o seu ódio por judeus terá nascido da revolta de não ser aceite pelo sector artístico de Viena, dominado pelos judeus. Teorias à parte, o certo é que ainda hoje os críticos dizem que a arte do líder nazi era banal. "Podemos perceber porque não teve sucesso como artista. São desenhos amadores e nalguns casos muito básicos", explicou o historiador Richard Westwood-Brookes ao jornal inglês "The Telegraph".
Mas para o bem da humanidade, teria sido bom que Hitler tivesse tido sucesso como pintor. Dois artistas plásticos ingleses, Jake e Dinos Chapman, levaram essa ideia mais longe. Em 2008, compraram várias aguarelas de Hitler e acrescentaram--lhes arco-íris.
A exposição chamou-se "If Hitler had been a Hippy How Happy Would We Be" (Se Hitler tivesse sido um hippy, quão feliz teria sido). É que os temas escolhidos por Hitler, eram sempre tão bucólicos e calmos como os hippies. "As obras são iguais a tantas outras, não parecem pertencer a uma pessoa prestes a tornar-se num tirano", disse Dinos Chapman.
Hitler está na moda? Os leilões com telas de Hitler não são raros e já atingiram somas acima do esperado. Há três anos, 21 telas foram vendidas por 140 mil euros e no passado mês de Abril uma série de 13 atingiu os 107 645 euros.
A leiloeira alemã Weidler, que em 2006 vendeu uma obra por 11 mil euros, diz que não se trata de prestigiar o ditador. "As obras não são compradas por neonazis, nem servem para glorificar Hitler." O melhor é habituarmo-nos a estes leilões, porque se estima que existam cerca de 723 pinturas do ditador.
Fonte: ionline