John Landis: Curso intensivo de cinema de terror


Esteve no MOTELx (festival de cinema de terror que decorre no São Jorge, em Lisboa, até amanhã) para apresentar a reedição de "Um Lobisomem Americano em Londres", agora em Blu-Ray, revisto e recuperado. Conquistou o público com comédias de grande sucesso, mas por essa altura já tinha encontrado no cinema fantástico a sua principal motivação criativa. Viciado em coca-cola, esfomeado depois de uma viagem, encontrámo-lo, ainda assim, perplexo com a multidão que procurava "horror" numa tarde de semana, com os cartazes que apresentavam os filmes em cena e com Stuart Gordon, outra lenda viva do género, com quem, num fugaz encontro entre corredores, trocou elogios. Ao i revelou regras e recordou o essencial da arte que o apaixonou.


Lição um
Quais os três melhores filmes de terror da história do cinema e porquê?

Antes da resposta, o esclarecimento obrigatório: John Landis não é fã da palavra “terror”. Prefere classificar os seus filmes de referência como “filmes de fantasia”. De acordo com o cineasta, “os melhores filmes fantásticos de sempre são ‘O Exorcista’ [1973], ‘O Feiticeiro de Oz’ [1939] e ‘King Kong’ [1933]. Tudo porque “nenhum deles será alguma vez melhorado. São filmes poderosos, primários na sua força, feitos de modo brilhante.” Pausa nos esclarecimentos para uma adenda fundamental: “‘O Exorcista’, em especial, é extraordinário. Sou ateu, não acredito no diabo, não quero saber de Jesus Cristo. Mas durante todo o filme, que vi com vinte e poucos anos, acreditei em tudo. Aquela era de facto a luta pelo bem e pela alma eterna.”

Lição dois
Quais são os segredos da realização de um filme de terror com sucesso?

John Landis é modesto nas suas explicações, afirmando sempre que o trabalho de outros que vieram antes dele é, de facto, a referência – “não existe nada em cinema que não tenha sido feito antes de 1945”, explica. Ainda assim, diz-nos que as poucas certezas que tem são “absolutas”. “Posso ser criticado uma e outra vez por isto, mas...”, afirma, “... a história, o guião, não é o aspecto principal de um filme de terror. Os ingredientes fundamentais não estão na ideia, no conceito, mas sim na execução.” E como qualquer pedagogo, Landis recorre aos exemplos: “Quantos pintores já assinaram obras com mulheres nuas? E quantas destas são realmente importantes na história? As personagens e a forma como são construídas são o importante.”

Lição três
Recordando a filmografia do género, quais são os actores fundamentais?

Sentado num confortável sofá, John Landis recorda dias de infância e juventude passados em frente à televisão, uma coisa “mágica mas perigosa, que nos altera as vontades”. No entanto, acabou por ser a melhor escolha para um realizador em potência, ao revelar sonhos e ídolos. Entre estes, recordamos os nomes fundamentais do cinema de terror (ou de fantasia, no caso de Landis): Boris Karloff, Christopher Lee, Vincent Price e Peter Cushing. “Esta gente não queria saber de palavras como horror ou terror. O importante para estes actores era o suspense, mostrar não o que era óbvio mas sim o que ninguém via. Estava tudo nas expressões, nas sombras ou nos movimentos mais subtis. Tudo o resto era susto e funcionava.”

Lição quatro
O cinema de terror ainda encontra novas fontes de inspiração, ainda se renova?

O realizador de “Um Lobisomem Americano em Londres” tem a certeza de que nada está esgotado, desde que não se repita o erro de tentar o remake ou o director’s cut: “A revisão de um realizador sobre o seu próprio filme só resultou bem uma vez, com o ‘Blade Runner’, do Ridley Scott”, assegura. O cinema de terror passou por duas fases – até meados de 70 e depois. Ou seja, “as realizações de série B, exploitation, e a chegada das grandes produções e dos orçamentos generosos, sobretudo com George Lucas, Steven Spielberg e as fantasias destes criativos.” Resultado: hoje, o espectador de terror já não é só “o adolescente enamorado ou louco por bestsellers. O público é vasto e isso justifica investimentos que permitem tudo.”

Lição cinco
Esqueçamos o terror. Qual o género favorito de John Landis: a comédia, o musical?

Na verdade, o homem que fez sucesso com filmes como “Um Príncipe em Nova Iorque” ou “Os Ricos e os Pobres” é um apaixonado incorrigível pelo western. Explica-nos a sua preferência da seguinte forma: “Eu penso como Walter Hill: se os produtores soubessem o prazer que dá fazer um western, não deixavam que os realizássemos. E eu só fiz um, ‘Os Três Amigos’.” Fiquemos com este ensinamento – não existem géneros melhores ou piores. “O ‘Pinóquio’ é brilhante e o Buñuel é um realizador notável. Mas não são comparáveis”. E uma dica: “O que não é saudável é repetir o exercício de Tarantino. O que ele faz é apenas académico, recriar as regras, fazer tudo o que os outros já fizeram.”

Lição seis
Sobre realização de telediscos, Michael Jackson e os efeitos secundários da fama

Já o álbum “Thriller” era um sucesso quando Michael Jackson resolveu convidar John Landis para realizar o teledisco para o tema que dá título ao disco – single lançado em 1983. Landis aceitou mas recorda como e porquê. “Michael era um cantor de grande sucesso e aquela pareceu-me uma excelente oportunidade para fazer um vídeo fora do normal. Decidi que só aceitaria se fizesse uma curta-metragem, a apresentar nas salas de cinema. Assim foi, até porque Michael tinha apenas uma preocupação: transformar-se em monstro.” Anos mais tarde (em 1991), Landis volta a trabalhar com Michael Jackson, em “Black Or White”. “Já era uma pessoa diferente”, lembra, “sobretudo rodeado de gente errada, como o pai. A morte dele não foi uma surpresa.”


Fonte: ionline

POSTED BY Joana Vieira
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