SMS mortal transforma anúncio de baixo custo em fenómeno mundial
Podia ser apenas mais um anúncio. Tinha tudo para o ser: baixo orçamento, actores amadores e um argumento gasto sobre acidentes na estrada. Mas o filme que a polícia de Gwent, Reino Unido, fez para alertar sobre o perigo de enviar SMS enquanto se conduz tornou-se o último fenómeno da internet.
No vídeo, a bonita Cassie Cowan, de 17 anos, diverte-se no carro com duas amigas. Enquanto conduz, escreve uma mensagem no telemóvel, alheia aos pedidos para que pare de o fazer. "Espera, já só me falta o número", responde. É tarde de mais, o carro já segue na faixa contrária e choca contra outro veículo. O airbag abre, o rosto de uma das raparigas corta-se no vidro, o pescoço da jovem do banco de trás parte e, de repente, tudo abranda. As duas amigas nos lugares da frente olham-se nos olhos. Estão vivas. Subitamente, outro carro embate contra elas. São sacudidas e, segundos depois, Cassie, coberta de sangue, repara que as colegas morreram. Começa a gritar. No outro carro, uma criança geme um pedido: "Mãe, pai, acordem!" Ao seu lado, um bebé tem os olhos abertos sem piscar.
O vídeo de 4,15 minutos custou menos de 11 500 euros (os actores não foram pagos e os carros foram doados, por exemplo), mas já foi divulgado no canal de notícias CNN, na CBS, na revista "Time" e no jornal "Washigton Post". O especialista americano em publicidade Donny Deutsch disse que era um dos filmes de informação mais poderosos de sempre. Ontem a história ocupava o 13.0 lugar na lista dos vídeos mais vistos online, a competir com videoclips de Michael Jackson. Uma versão do filme com 30 minutos será conhecida no Outono.
Polémica O autor do filme, Peter Watkins-Hughes, admite que a campanha "pode parecer grosseira", mas diz que se uma única pessoa mudar o seu comportamento "terá valido a pena". Um estudo americano (país onde em alguns estados é permitido enviar mensagens e conduzir ao mesmo tempo) provou que 80% dos que viam o filme tinham menor probabilidade de voltar a cometer o erro.
Em Portugal, o Ministério da Administração Interna (MAI) manteve em 2006 uma campanha com o tema "todos os anos a velocidade nas estradas vitima um avião cheio de crianças", apesar de a TAP e a Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária (ANSR) a considerarem "abusiva" e "chocante". O director da unidade de prevenção rodoviária da ANSR, Carlos Lopes, viu o vídeo inglês a pedido do i e garante: "Não o faria se não fosse o meu trabalho, choca a minha sensibilidade. Se passasse na televisão, mudava de canal."
O responsável explica que ainda não se conseguiu perceber quais as campanhas com melhores resultados - as pedagógicas ou as de choque - e que, por isso, é preciso "trabalhar com as duas". É por este motivo que em Portugal se continua a ver campanhas pedagógicas de alerta para os limites de velocidade e, ao mesmo tempo, anúncios televisivos com uma criança a chorar porque os pais morreram. Carlos Lopes diz que estas campanhas "jogam com o medo e têm resultados", mas ficaria muito surpreendido se visse anúncios deste tipo passar em Portugal. Para o especialista, têm um grande problema: "Conduzem a um escalar da violência. E depois, quais são os limites?"
Fonte: ionline