Agência de apostas adivinha um Nobel
A escritora é quase desconhecida em Portugal, mas já esteve no nosso país em 1993 e tem dois livros traduzidos. Apesar de ser uma surpresa, a escritora nascida na Roménia representava a Alemanha na 'shortlist' do Prémio Nobel
A atribuição do Prémio Nobel da Literatura provoca sempre alguma polémica e o de 2009, concedido a Herta Müller, não foge à regra e em dose dupla: por ser o nome mais comentado desde a véspera e por coincidir com a celebração dos 20 anos da queda do Muro de Berlim.
Após as reacções de surpresa verificadas nos minutos que se seguiram ao anúncio da Academia, sucedido por uma chuva de comentários vindos de todo o mundo, surgiram as especulações sobre a escolha da escritora. Principalmente porque o nome surgira esta semana, inesperadamente, no topo da tabela da agência de apostas Ladbrokes, alegadamente depois de se verificar uma fuga de informação da Academia Sueca.
"Muitos foram surpreendidos" - foi a declaração de um responsável sueco que acompanha o Nobel da Literatura três horas depois de se saber que Herta Müller era a mais recente Nobel. "Obviamente, os 20 anos da queda do Muro não são uma coincidência", acrescentou ao DN. A coincidência não passou despercebida a Angela Merkel, que deu os parabéns à escritora e considerou o prémio "um sinal maravilhoso" por ocasião das comemorações da queda do Muro.
Especulações à parte, a distinção de Herta Müller é um momento alto para a literatura que não se esquece do sofrimento de pessoas indefesas perante regimes políticos opressores e que a Academia resume numa frase bela: "Que com a concentração da poesia e a objectividade da prosa desenha as paisagens do desamparo." A escritora foi surpreendida e só disse: "Ainda nem acredito. De momento não posso dizer mais nada." O editor disse por ela: "Foi distinguida uma autora que cresceu entre a minoria alemã na Roménia e 20 anos depois do fim do conflito Leste-Oeste persiste em lembrar facetas desumanas do comunismo. É um impressionante exemplo da literatura europeia empenhada."
Müller, a 12.ª mulher a receber o galardão entre 101 atribuições, nasce em 1953, em Nitzkydorf, cidade que ontem explodiu de alegria, mesmo não sendo já a morada da escritora, mas que, segundo o seu autarca, "passou a estar no mapa". Professor, Ioan Mascovescu revelou que os seus alunos fazem regularmente estudos sobre os livros da Nobel. A autora foi impedida de publicar no seu país e vítima de perseguições da polícia política Securitate. Emigrou em 1987 para a Alemanha, reside em Berlim-Oeste e é casada com o poeta Richard Wagner. No currículo conta com inúmeros prémios.
Fonte: DN