Entrevista #7 - com José Ramos




Whisper - Como surgiu o interesse pela fotografia?
José - Olá. Antes mais quero deixar um agradecimento especial pela entrevista. É um prazer dar a conhecer o meu percurso. Passando à questão, o interesse pela fotografia surgiu de uma forma peculiar e espontânea. Há cerca de 6 anos, não tinha qualquer máquina fotográfica, e sentia a falta de ter uma máquina pequena e compacta que me permitisse ir capturando aqueles momentos importantes da vida, para que ficassem registados para a posteridade. Estava portanto muito longe de imaginar que iria seguir um percurso artístico com este meio de expressão. O que aconteceu posteriormente foi que, de entre as várias fotos que ia fazendo, de vez em quando capturava algumas cenas de natureza pelo puro prazer estético e não documental. Um dia descobri que existiam comunidades de fotografia na internet, onde era possível obter feedback sobre as nossas imagens, bem como comentar as imagens de outras pessoas. Decidi submeter 2 ou 3 fotos minhas, sem qualquer expectativa, apenas à experiência, e tudo correu tão bem que desde então isto se tornou a minha paixão.

W - Como foi o inicio da experiência como fotografo e o processo de aprendizagem?
J - O início é sempre muito bom, porque damos por nós, e sentimos instintivamente que estamos a criar “arte”, a criar “momentos”, imagens e emoções, e vemos que a sua partilha tem eco nas outras pessoas. Esta altura é muito genuína e poderosa, mas também muito importante, no sentido de começar a perceber depois que existe todo um mundo de conhecimento técnico que se torna necessário para levarmos esta expressão mais longe. Para todos os efeitos, o processo de aprendizagem foi muito gradual, autodidacta e espontâneo. Nunca fui de ler grandes manuais ou tratados, sendo que aprendi quase tudo colocando dúvidas directamente, observando o trabalho de outros, participando em fóruns, etc.

W - Quais foram os principais obstáculo e metas atingidas?
J - O principal obstáculo foi sem dúvida o financeiro. Tive que passar 2 anos a fotografar com uma simples compacta de 3 megapixel, e só depois tive dinheiro para comprar uma máquina (não-reflex) melhor, e só nos últimos 2-3 anos é que tenho utilizado equipamento mais evoluído. A fotografia é um hobby muito caro, mas felizmente sempre defini os meus objectivos de compras de forma muito pragmática, apenas avançando para produtos superiores quando soubesse que tinha esgotado as potencialidade do equipamento anterior.
Em termos de metas atingidas, posso destacar a realização de 5 exposições no nosso país, a publicação de várias imagens no início deste ano numa revista de viagens francesa, a venda de impressões em grande formato para vários pontos do mundo e, acima de tudo, o feedback diário fantástico e vital que vou recebendo das pessoas que apreciam as minhas imagens.

W - Quando paras de fotografar durante longo período de tempo sentes falta de pegar na máquina e disparar?
J - Sinto muito mesmo! Chamo-lhe “ressaca fotográfica”! Vivendo no caos de Lisboa e arredores, é para mim vital fugir com alguma regularidade para locais bem selvagens, onde me sinta longe de todo o rebuliço e confusão da metrópole. Para além disso, ter à nossa frente o poder da natureza que nos rodeia é sempre uma lição preciosa de humildade, que nos recoloca em relação ao mundo que habitamos.

W - Quais são as tuas principais influências nesta área?
J - Acima de tudo os grandes fotógrafos de paisagem por esse mundo fora, como Galen Rowell, Marc Adamus, Joe Cornish, John Shaw, Charlie Waite, entre outros, bem como os clássicos pintores de paisagem, como Turner, Thomas Cole, Paul Bril, Aert van der Neer, Salvator Ros, entre outros.

W - Consideras o tratamento de imagem essencial ou dispensável?
J - O tratamento de imagem é absolutamente essencial. Ainda hoje publiquei um artigo na página que possuo na comunidade Deviantart, onde exponho um artigo muito interessante de um fotógrafo de paisagem onde ele demonstra os passos envolvidos no processamento de uma imagem sua. Olhando para o “antes” e o “depois”, diríamos instintivamente que aquela foto tinha sido altamente pós-processada, quando no fundo foi apenas alvo de ajustes simples que permitiram extrair o máximo potencial da imagem capturada. Infelizmente, as fotos nunca saem da câmara perfeitas e prontas a mostrar ao mundo, e necessitam sempre de ser ajustadas, de forma a dar-lhes a estética final que merecem. O problema é que depois surgem imensas confusões e discussões estéreis sobre este assunto, desde o artista que diz que não pós-processa, quando obviamente o faz, passando pelo amador que vê “Photoshop” em tudo, bem como aquele que apenas está preocupado em procurar defeitos, indiferente à mensagem estética global da imagem.

W - Grande parte das tuas fotos são de temática paisagística. O que te seduz tanto nesse estilo fotográfico?
J - Eu gosto de quase todos os tipos de fotografia, e adoraria praticá-los a todos, mas desde cedo percebi que é muito complexo ser-se bom em mais do que uma coisa. Para além disso, a minha vida esteve sempre muito ligada à natureza, e aliar a fotografia a esse prazer surgiu como uma extensão muito natural desta preferência. Procurar, às vezes quase mesmo “perseguir”, um determinado ponto, um local, uma determinada luz, que nos permita contemplar um local na sua máxima beleza, e depois tentar capturá-lo e partilhar com quem não esteve lá é para mim fascinante e altamente viciante.

W - Existem projectos para o futuro?
J - Os projectos passam por conseguir transferir o conteúdo do meu domínio joseramos.net para o domínio joseramos.com , que tive muita dificuldade em conseguir (por estar previamente ocupado), optimizar o processo de venda de prints, e divulgar de forma mais eficaz o meu trabalho. Estão na calha ainda algumas exposições, colaborações e projectos dos quais não posso falar ainda.

W - Para finalizar, alguma mensagem que queiras deixar aos leitores, fotógrafos, promotoras, revistas…?
J - Quero apenas pedir que procurem, que sintam, que contemplem, que se deixem levar e, acima de tudo, que respeitem as formas de arte que ressoam dentro de vós…

POSTED BY Joana Vieira
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