Selecção: O talento de Portugal
Uma selecção que já esteve em quatro Mundiais e cinco Europeus contra uma que nunca esteve numa grande prova internacional. O 10.º país do ranking da FIFA contra o 42.º dessa tabela. Uma equipa sem o seu melhor jogador contra uma formação na máxima força. E a segunda melhor defesa entre as oito equipas presentes no play-off contra o melhor ataque. Há muito a separar Portugal e Bósnia-Herzegovina mas, entre hoje (jogo às 20h30) e quarta-feira, ambas têm um objectivo comum: garantir uma das últimas quatro vagas europeias para o Mundial de futebol de 2010 na África do Sul.
Mesmo sem Cristiano Ronaldo e apesar da motivação do momento, Portugal tem na qualidade dos jogadores a principal força. É uma das “nações do mundo com maior concentração de talentos”, diz mesmo Ciro Blazevic, seleccionador da Bósnia. Já o adversário de hoje até tem bons jogadores, mas a sua principal arma estará na motivação. Na Bósnia vive-se um clima de euforia. É o jogo de uma vida para os jogadores de um dos mais jovens países europeus. “A motivação dos nossos jogadores é indescritível. Não pelo dinheiro, mas pelo brilho dos olhos das crianças da Bósnia”, sublinhou ao PÚBLICO o jornalista bósnio Adnan Burazerovic, em declarações por e-mail.
Neste contexto, Portugal tenta também maximizar a motivação dos seus jogadores. E há razões para isso. Dos 22 futebolistas convocados por Carlos Queiroz, só sete (Miguel, Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Ricardo Costa, Tiago, Deco e Simão) sabem o que é estar num Mundial. Os outros 15 tentam estrear-se num Campeonato do Mundo.
O jogo de uma carreira
“É um jogo importante para todos nós. É talvez o jogo mais importante da nossa carreira”, disse ontem Simão, ele que (como alguns dos seus colegas de selecção) terá provavelmente a última oportunidade de estar num Mundial dada a sua idade.
Carlos Queiroz está “tranquilo, confiante e optimista”: “ Temos uma boa equipa. A palavra mais importante é nós. Estamos prontos”, afirmou o seleccionador, que preferiu não falar muito de um adversário que respeita e que tem as “mesmas possibilidades” que Portugal. “É um jogo 50/50” em que tudo é para o vencedor e nada para o perdedor: “Não vai ser um jogo fácil, mas também não vai ser tranquilo para a Bósnia.”
Ronaldo é o grande ausente destes dois jogos decisivos. “É importante, mas não está aqui. Temos bons jogadores e uma boa equipa”, desvalorizou Queiroz, que aposta no colectivo para derrotar a Bósnia. “O sábado perfeito seria ganhar sem sofrer golos”, acrescentou Simão, pensando já na segunda mão, em Zenica, onde um ambiente escaldante aguarda a selecção portuguesa.
Além de Ronaldo, Portugal não tem Bosingwa e Pedro Mendes, também lesionados. Pepe regressará ao meio-campo, estando as maiores dúvidas nas laterais. Miguel e Duda são a opção mais conservadora. Mas se contrariar a elevada estatura dos bósnios for uma prioridade, então Paulo Ferreira e Veloso (ou Coentrão) podem entrar nas cogitações do seleccionador.
Cheira a África do Sul
A selecção estreia-se num play-off. Para Queiroz, é o momento de “desfrutar”. Não interessa a polémica com o Real Madrid, nem as declarações de Nani a exigir a titularidade, nem se Portugal sentiu dificuldades em bater os adversários directos na qualificação. Tão pouco importa a pressão de uma eliminatória decisiva. “Conto com a maturidade dos nossos jogadores, que já passaram por momentos de alta tensão nos clubes”, garantiu o seleccionador. E acrescentou: “Somos profissionais. Trabalhamos uma vida inteira para chegar a estes momentos. Chegados aqui, vamos falar de pressão? Não. É o contrário. Sonhamos com estes momentos.”
Esta é, pois, a hora da verdade para jogadores experientes e talentosos. Agora é preciso demonstrá-lo dentro do campo. Queiroz e companhia só pensam num triunfo. E hoje quando entrar no lotado Estádio da Luz (60 mil espectadores), há uma letra que passará pela cabeça do seleccionador: “Cheira bem, já cheira a África do Sul.”
Fonte: Público