Ídolos: 15 minutos de fama
Audiências do programa deixam Nuno Santos a rejubilar no Facebook. Mas o júri e a produção avisam os concorrentes: fama é temporária
"Um dia todos terão direito a 15 minutos de fama." O prenúncio era de Andy Warhol, pintor e cineasta norte-americano que reinventou a pop art. Os candidatos a ídolos de Portugal terão sorte - somados castings, audiências e galas, terão direito a mais de quinze minutos. Mas, o mais provável, é ganharem apenas isso: o privilégio de cantarem para milhões de portugueses, num palco, ao vivo. Acrescente-se entrevistas, fofocas, capas de revistas, aparições em programas de televisão. Junte-se ainda seis meses numa escola de música em Londres, para o grande vencedor. Júri e produção do programa da SIC andam há demasiado tempo nisto para caírem em ilusões e garantem ser os primeiros a deixar o aviso aos concorrentes. "São estrelas naquele momento. O mais provável é que dentro de 15 meses já ninguém se lembre deles", antevê Frederico Ferreira de Almeida, produtor executivo do programa.
Enquanto nos Estados Unidos e em Inglaterra, os concorrentes alcançam, mesmo antes de ganhar, um contrato discográfico e a gestão de uma carreira, em Portugal o mercado é tão pequeno que se contam pelos dedos os vencedores que gravam discos - e discos que realmente vendem - ou têm outro destino que não fazer parte do coro dos programas televisivos da manhã ou da tarde. Sara Tavares e João Pedro Pais são excepções. "Mas demoraram anos a construírem uma carreira", lembra o membro do júri, Laurént Filipe. "O mercado discográfico português nem se pode chamar mercado. É uma coisa moribunda. Ando há 30 anos nisto, vou à FNAC e não tenho lá os meus discos", acrescenta o músico de jazz. Manuel Moura dos Santos dá um exemplo comparativo: o vencedor do programa britânico "ganha o concurso num domingo e na segunda já tem um disco, aqui, com sorte, dentro de seis meses lança um single".
Consciente das críticas de que o júri avalia mais pela imagem do que pelo talento musical, Pedro Boucherie Mendes insiste em sublinhar: "O Ídolos é um formato televisivo. Não é um conservatório. Sempre dissemos que o que se procurava era um ídolo pop." Manuel Moura dos Santos prevê que o vencedor tenha uma projecção enorme nos dois ou três meses após o programa. "Se não se passar nada, será mais um produto televisivo que morre."
Há manteiga no coração do júri? Meia dúzia de cromos - que deixam o público agarrado à barriga de tanto rir -, meia dúzia de vozes de fazer tombar o queixo, outras vozes assim assim, no corpo e na postura certa, e um júri de quatro elementos: uns com a função de serem os "doces", outros os "maus" e "implacáveis" a quem não custa dizer: "Chegaram ao vosso nível máximo de incompetência." Assim se cozinha a fórmula do programa, que foi o quarto mais visto da noite de domingo e o mais visto naquele horário. Escrevia ontem Nuno Santos, na sua página do Facebook: "O Ídolos só nos deu alegrias. Bom programa, grande produção, óptimos resultados. Maior share do dia - 44,8%."
O júri sabe que as votações do público são ingratas. Por isso, na gala de domingo, véspera de primeira eliminatória, deixou escapar elogios aos favoritos e rcados aos que votam. Boucherie Mendes pediu às mulheres para perderem a vergonha de votar em mulheres. "Há comportamentos- padrão. Há mais mulheres a votar em homens." Manuel Moura dos Santos teme que o cenário de edições anteriores se repita e que os candidatos negros sejam os primeiros a sair: "Na outra edição, certamente não foi coincidência. Os portugueses ainda mostram o seu racismo de forma cobarde." Nem um júri treinado para ser cruel escapa aos arrepios a uma boa voz. Mas, na hora dos juízos, não há lugar para corações de manteiga. "Não acho que alguma vez tenha sido cruel", diz Boucherie Mendes. "Há sonhos que são tão desajustados que o melhor é não ser hipócrita e acabar logo com eles." Moura dos Santos concorda: "Há esta ideia absurda de que qualquer um pode cantar. Mas porquê, é uma arte menor?"
Fonte: Ionline
"Um dia todos terão direito a 15 minutos de fama." O prenúncio era de Andy Warhol, pintor e cineasta norte-americano que reinventou a pop art. Os candidatos a ídolos de Portugal terão sorte - somados castings, audiências e galas, terão direito a mais de quinze minutos. Mas, o mais provável, é ganharem apenas isso: o privilégio de cantarem para milhões de portugueses, num palco, ao vivo. Acrescente-se entrevistas, fofocas, capas de revistas, aparições em programas de televisão. Junte-se ainda seis meses numa escola de música em Londres, para o grande vencedor. Júri e produção do programa da SIC andam há demasiado tempo nisto para caírem em ilusões e garantem ser os primeiros a deixar o aviso aos concorrentes. "São estrelas naquele momento. O mais provável é que dentro de 15 meses já ninguém se lembre deles", antevê Frederico Ferreira de Almeida, produtor executivo do programa.
Enquanto nos Estados Unidos e em Inglaterra, os concorrentes alcançam, mesmo antes de ganhar, um contrato discográfico e a gestão de uma carreira, em Portugal o mercado é tão pequeno que se contam pelos dedos os vencedores que gravam discos - e discos que realmente vendem - ou têm outro destino que não fazer parte do coro dos programas televisivos da manhã ou da tarde. Sara Tavares e João Pedro Pais são excepções. "Mas demoraram anos a construírem uma carreira", lembra o membro do júri, Laurént Filipe. "O mercado discográfico português nem se pode chamar mercado. É uma coisa moribunda. Ando há 30 anos nisto, vou à FNAC e não tenho lá os meus discos", acrescenta o músico de jazz. Manuel Moura dos Santos dá um exemplo comparativo: o vencedor do programa britânico "ganha o concurso num domingo e na segunda já tem um disco, aqui, com sorte, dentro de seis meses lança um single".
Consciente das críticas de que o júri avalia mais pela imagem do que pelo talento musical, Pedro Boucherie Mendes insiste em sublinhar: "O Ídolos é um formato televisivo. Não é um conservatório. Sempre dissemos que o que se procurava era um ídolo pop." Manuel Moura dos Santos prevê que o vencedor tenha uma projecção enorme nos dois ou três meses após o programa. "Se não se passar nada, será mais um produto televisivo que morre."
Há manteiga no coração do júri? Meia dúzia de cromos - que deixam o público agarrado à barriga de tanto rir -, meia dúzia de vozes de fazer tombar o queixo, outras vozes assim assim, no corpo e na postura certa, e um júri de quatro elementos: uns com a função de serem os "doces", outros os "maus" e "implacáveis" a quem não custa dizer: "Chegaram ao vosso nível máximo de incompetência." Assim se cozinha a fórmula do programa, que foi o quarto mais visto da noite de domingo e o mais visto naquele horário. Escrevia ontem Nuno Santos, na sua página do Facebook: "O Ídolos só nos deu alegrias. Bom programa, grande produção, óptimos resultados. Maior share do dia - 44,8%."
O júri sabe que as votações do público são ingratas. Por isso, na gala de domingo, véspera de primeira eliminatória, deixou escapar elogios aos favoritos e rcados aos que votam. Boucherie Mendes pediu às mulheres para perderem a vergonha de votar em mulheres. "Há comportamentos- padrão. Há mais mulheres a votar em homens." Manuel Moura dos Santos teme que o cenário de edições anteriores se repita e que os candidatos negros sejam os primeiros a sair: "Na outra edição, certamente não foi coincidência. Os portugueses ainda mostram o seu racismo de forma cobarde." Nem um júri treinado para ser cruel escapa aos arrepios a uma boa voz. Mas, na hora dos juízos, não há lugar para corações de manteiga. "Não acho que alguma vez tenha sido cruel", diz Boucherie Mendes. "Há sonhos que são tão desajustados que o melhor é não ser hipócrita e acabar logo com eles." Moura dos Santos concorda: "Há esta ideia absurda de que qualquer um pode cantar. Mas porquê, é uma arte menor?"
Fonte: Ionline