Países em desenvolvimento frustrados


Os países em desenvolvimento estão a levantar sérias dúvidas sobre a forma como a cimeira climática de Copenhaga está a ser conduzida neste momento, quando a conferência entra na sua fase decisiva. Fortes críticas feitas hoje ameaçam atrasar ainda mais ou mesmo bloquear as negociações.

O G77-China, o grupo dos países em desenvolvimento, acusam o mundo industrializado de tentar acabar com o Protocolo de Quioto, subsituindo-o por um acordo mais fraco. No primeiro discurso de abertura do segmento de alto nível da cimeira, Nafie Ali Nafie – chefe da delegação do Sudão, falando em nome do G77-China – criticou também o modo como estão a ser feitas consultas informais num “processo multi-camadas”, complexo e para os quais as delegações com menos recursos não conseguem simplesmente acompanhar.

“Sentimos que há falta de transparência na forma como as decisões foram tomadas sobre essas consultas”, disse Nafie Ali Nafie.

Depois de uma noite infrutífera de discussões, a presidência da cimeira anunciou que distribuirá um novo texto negocial para tentar desbloquear os pontos pendentes para um novo tratado contra as alterações climáticas.

Mas este passo foi duramente criticado pelos países em desenvolvimento. Antes do início dos discursos dos líderes mundiais que já estão em Copenhaga, o plenário da conferência ouviu sucessivas manifestações de preocupação que, na prática, ameaçam novamente bloquear as negociações.

Representantes do Brasil, China, Índia, África do Sul, Bolívia e Sudão argumentaram que as negociações devem continuar com os textos que têm vindo a ser discutidos desde o princípio da conferência, e que foram debatidos durante toda a noite. A ideia de uma nova proposta diferente foi rejeitada.

Sem sucesso, o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, tentou inicialmente mover a discussão para um outro plenário, dando lugar aos discursos. “O mundo está à nossa espera. Não podemos continuar a discutir procedimentos, procedimentos, procedimentos”, disse Rasmussen, que preside agora à cimeira, em substituição à ministra Connie Hedegaard, que continua a liderar as consultas com os diferentes países para um acordo.

Mas os países em desenvolvimento continuaram a intervir, temendo que o novo texto, que deverá ser apresentado ainda hoje, ponha em causa dois anos de negociações desde a conferência climática de Bali, em 2007. A China mencionou o temor de que uma nova proposta tenha uma “agenda secreta”. A representante da Bolívia classificou a situação de “inaceitável” e o Sudão disse que não discutirá um texto “vindo do nada” .

O principal receio desses países, manifestado desde o princípio da cimeira de Copenhaga, é o de que o Protocolo de Quioto desapareça. “Opor-nos-emos a qualquer acordo que que torne o Protocolo de Quioto inútil ou redundante”, afirmou Nafie Ali Nafie, em nome dos países em desenvolvimento.





Fonte: Público

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