Barack Obama: 1 ano depois


O segundo e crítico ano da presidência de Barack Obama começa sob o signo de pressões contraditórias, no plano doméstico e no internacional. Depois das elevadas expectativas, todos lhe exigem "resultados". Se ao longo de 2009 foi a agenda doméstica que mais o ocupou, será ainda ela a marcar os grandes momentos do ano político americano, que culmina nas eleições intercalares de Novembro.

No topo das prioridades está a economia que, além de condicionar a política interna, pesará na sua margem de manobra na cena internacional. Mais do que o pagamento das promessas, e da "esperança", o que hoje a América lhe impõe não é ser um bom Presidente, mas um "Presidente excepcional".

O problema mais sensível é o desemprego. Obama foi confrontado, para lá de duas guerras, com a pior crise económica desde os anos 30. À custa de um plano de apoio maciço aos bancos e a sectores industriais, como o automóvel, foi evitada a derrocada do sistema financeiro. A economia recomeça a crescer mas o emprego não acompanha. A taxa de desemprego permanece na casa dos 10 por cento. Serão talvez necessários dois anos para que a reestruturação crie empregos em escala razoável.

"Toda a política é local", dizia Tip O"Neil, antigo speaker democrata da Câmara dos Representantes. Os democratas arriscam-se a pagar o preço do mal-estar nas eleições de Novembro, perdendo a decisiva barreira dos 60 senadores que hoje têm e que impede a obstrução. Ela já estava ontem em jogo na eleição do Massachusetts para designar o sucessor de Ted Kennedy.

A quebra da popularidade de Obama nos EUA leva analistas neoconservadores a anunciar a sua "queda" e "a vingança do sistema". No entanto, os republicanos não são de momento uma ameaça à supremacia democrata nem têm uma alternativa a Obama.

O seu esforço concentra-se na obstrução da iniciativa emblemática do Presidente: o primeiro projecto ambicioso de reforma da saúde em mais de 40 anos. Obama quer vê-lo aprovado até ao fim da Primavera, os republicanos querem o contrário: depois de Novembro, ele seria provavelmente enterrado.

Um movimento basista antifiscal, os tea-party2, difundiu-se surpreendentemente, repercutindo as acusações de Obama ter premiado os banqueiros, de aumentar o défice com o plano de saúde e de alargar a esfera de intervenção do Estado. Serão uma ajuda ímpar aos candidatos republicanos.

A agenda doméstica vai mais fundo. O frustrado atentado contra um avião no dia de Natal reacendeu a frente da segurança. Republicanos acusam Obama e os democratas de serem laxistas em matéria de segurança nacional, enquanto à esquerda se denuncia o incumprimento da promessa do total encerramento de Guantánamo. E falta a abertura de outras frentes conflituais, como o ambiente ou a imigração, prometidas para este ano.


Resultados?

Uma das marcas do sistema constitucional americano é a fraqueza do Presidente perante o Congresso na política interna e a larga extensão dos seu poderes na política externa.

No primeiro ano do mandato, Obama "repensou de alto a baixo a diplomacia americana", escreve na Foreign Affairs Zbigniew Brzezinski. Encerrou o ciclo da "guerra ao terrorismo" e estendeu a mão aos inimigos que aceitem dialogar: não é com os amigos que se faz a paz, explicou Hillary Clinton.

Tentou pôr termo à longa hostilidade do mundo árabe. Restabelecer as relações com a Rússia. Desenvolver uma parceria estratégica com a China. Confirmar as alianças tradicionais com europeus e japoneses.

E, sobretudo, procurou explorar um quadro multilateral, tirando as consequências da emergência de novas potências, como a China, a Rússia, o Brasil e a Índia.

"Os Estados Unidos não podem resolver todos os problemas do mundo", disse em Copenhaga. Não é uma afirmação ideológica, é uma constatação da realidade que a própria Administração Bush começou a fazer a partir de 2006.

Resultados? Não são ainda vistosos, da Coreia do Norte ao Irão. No entanto, no caso iraniano, a iniciativa teve um resultado que ultrapassou todas as expectativas, abrindo uma crise no regime dos mullah. Mas bloqueou também, por efeito dessa mesma crise, a negociação sobre o nuclear.
Na frente israelo-palestiniana é patente a impotência americana. E as guerras - ou as retiradas - do Iraque e do Afeganistão são uma perigosa incógnita. A opinião pública americana está a cansar-se muito rapidamente.

Que significou para os EUA este primeiro ano? "Obama recolocou Washington no circuito das negociações internacionais" e "dissipou muito do antiamericanismo que estava no ar", resume Leslie Gelb, antigo presidente do Council on Foreign Relations, em The American Interest. "Preparou o terreno para o relançamento da potência americana, o problema é que ainda não carregou no acelerador."

Ou, como reconhece Brzezinski, "até agora, a política externa do Presidente suscitou mais expectativas do que avanços estratégicos". Ou seja, ainda não resolveu nenhum dos grandes problemas que encontrou.





Fonte: Público

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