Enfermeiros admitem mais luta


A lei obriga a que o pré-aviso de greve seja feito com dez dias de antecedência, pelo que não está em cima da mesa a hipótese de se prolongar a paralisação de três dias dos enfermeiros. Contudo, segundo explicou ao PÚBLICO José Carlos Martins, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, se o Ministério da Saúde não revelar abertura, a classe prepara-se para "radicalizar a forma de luta".

Caso o ministério de Ana Jorge não atenda as suas "justas reivindicações", José Carlos Martins diz que o sindicato admite marcar mais greves ou até mesmo "suspender durante duas ou três semanas as cirurgias programadas". Uma "radicalização da forma de luta" que diz querer evitar, até porque, nesse caso, "os enfermeiros teriam de se juntar para compensar a perda de ordenado" dos colegas que desempenham este tipo de função.

Hoje, aministra da Saúde, Ana Jorge, apelou hoje ao “bom senso” dos enfermeiros. Em declarações aos jornalistas à margem das VII Jornadas de Doenças Infecciosas, que estão a decorrer em Lisboa, Ana Jorge, citada pela Lusa, lembrou que o país está a viver “um período difícil” do ponto de vista económico e financeiro.

Sobre o facto de os médicos estarem a desempenhar algumas das tarefas dos enfermeiros para reduzir o impacto da paralisação - o que poderá "mascarar" os efeitos da greve -, o sindicalista entende que "um dia de greve não pode ser um dia normal", mas compreende que o impulso seja pensar no bem-estar do doente.

No primeiro dia da greve que ontem começou, os resultados foram esmagadores. Os sindicatos dizem ter conseguido a maior paralisação desde o 25 de Abril e a mais longa dos últimos 22 anos, com uma adesão que ficou nos 89 por cento. Já o Ministério da Saúde fala em 80 por cento.

Muitas cirurgias desmarcadas

Os números de hoje poderão ser ainda mais elevados, segundo adiantou José Carlos Martins, apesar de ainda ser prematuro fazer um balanço do turno da manhã, que arrancou às 08h00. No que diz respeito ao turno da noite, o sindicalista informou que foram conseguidos números entre os 80 e os 100 por cento, sendo que a maioria das unidades hospitalares apenas prestou os cuidados mínimos, isto é, aqueles serviços que se não forem prestados colocam em risco a vida dos pacientes.

Na manhã de hoje, os dados preliminares apontam para os 100 por cento de adesão nos hospitais de Cantanhede, Fundão, Peniche e Sobral Cid, em Coimbra. Segue-se Aveiro, com 96 por cento; a Maternidade Daniel de Matos, em Coimbra, com 94 por cento; Covilhã, com 92 por cento; e Castelo Branco, com 84 por cento. Isto ao mesmo tempo em que em todo o país se realizam pequenas concentrações de enfermeiros à porta dos hospitais. No Porto, por exemplo, centenas de enfermeiros fizeram esta manhã uma marcha lenta em direcção ao Hospital de S. João que atrapalhou a circulação na VCI.

O sindicato confirmou também ao PÚBLICO que já foi contactado pela tutela para que na próxima semana seja marcada uma data para se retomarem as negociações sobre a carreira de enfermagem. Os profissionais reivindicam uma remuneração mais elevada para a entrada na carreira. Actualmente recebem 1020 euros - um valor abaixo dos 1200 dos licenciados de carreiras gerais da Administração Pública e dos 1500 euros dos licenciados de carreiras técnicas. Querem também uma actualização salarial para quem já exerce com uma licenciatura e recebe apenas como bacharel. Por outro lado, reivindicam mais vagas para enfermeiros generalistas e especialistas e o fim das quotas para acesso ao topo da profissão.




Fonte: Público

POSTED BY Mari
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