Gays nos casamentos de Santo António
Santo António, padroeiro gay? Nem tanto, mas a Câmara de Lisboa vai autorizar a inscrição de homossexuais nos seus casamentos de Santo António, uma cerimónia destinada a promover o matrimónio na cidade, e a que acorrem habitualmente casais carenciados que querem beneficiar dos apoios associados à iniciativa.
Não é, porém, certo que isso ocorra já em Junho deste ano, uma vez que ainda não está em vigor a lei aprovada no Parlamento que permite uniões entre pessoas do mesmo sexo, e as inscrições para os casamentos de Santo António terminam a 13 de Março.
Por outro lado, uma vez que a Igreja não celebra uniões entre gays e esta iniciativa se destina sobretudo a matrimónios católicos, aos homossexuais interessados resta concorrerem aos cinco lugares que a autarquia disponibiliza para cerimónias de carácter civil. Para a Câmara de Lisboa, “não é correcto criar um número de vagas específico para os homossexuais”, que “devem entrar como os outros casais” na iniciativa “e serem sujeitos exactamente aos mesmos critérios de selecção dos casais heterossexuais”, “sem discriminação nem pela negativa, nem pela positiva”.
A hierarquia da Igreja ainda não reagiu a esta decisão. Mas, em declarações à edição on-line do jornal "A Bola", o padre franciscano Vítor Melícias considerou a notícia “infundada”, além de “inadequada e abusiva”. E mostrou-se indignado com uma eventual “utilização da figura de Santo António” para este fim, uma vez que a doutrina católica se opõe ao casamento homossexual.
Mudar de nome
Já para a porta-voz do movimento a favor do referendo ao casamento gay, Isilda Pegado, a Câmara de Lisboa “tem toda a legitimidade” para incluir estas uniões na iniciativa. “É uma das consequências da lei”, observa. “Devemos é deixar de lhes chamar casamentos de Santo António”, sublinha.
“Santo António já é património mundial”, refuta o coordenador nacional do movimento de católicos homossexuais Rumos Novos, José Leote, defendendo que a Igreja não detém a exclusividade do santo casamenteiro. Esta associação veria com bons olhos que, na cerimónia civil, estivesse um padre que, mesmo não celebrando o casamento entre dois homens ou entre duas mulheres, pudesse abençoá-los. Mas sabe que não é fácil isso acontecer, “acima de tudo por os sacerdotes terem receio de represálias” dos seus superiores.
“Os casamentos de Santo António são um evento que passou a ser inclusivo quando deixou de ser exclusivamente religioso”, opina, por seu turno, o líder da Ilga Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero, Paulo Corte-Real. “Por isso, é natural que todos tenham acesso a ele.”
Seja como for, não há perigo de Santo António se tornar num ícone gay: os homossexuais adoptaram há muito, à revelia da Igreja, o mártir São Sebastião, embora não existam quaisquer indícios de ele ter sentido atracção por outros homens. Mas a forma como terá assumido a sua condição de cristão em pleno império romano e toda a iconografia ligada à sua figura granjearam-lhe a admiração dos homossexuais.
Fonte: Público
Não é, porém, certo que isso ocorra já em Junho deste ano, uma vez que ainda não está em vigor a lei aprovada no Parlamento que permite uniões entre pessoas do mesmo sexo, e as inscrições para os casamentos de Santo António terminam a 13 de Março.
Por outro lado, uma vez que a Igreja não celebra uniões entre gays e esta iniciativa se destina sobretudo a matrimónios católicos, aos homossexuais interessados resta concorrerem aos cinco lugares que a autarquia disponibiliza para cerimónias de carácter civil. Para a Câmara de Lisboa, “não é correcto criar um número de vagas específico para os homossexuais”, que “devem entrar como os outros casais” na iniciativa “e serem sujeitos exactamente aos mesmos critérios de selecção dos casais heterossexuais”, “sem discriminação nem pela negativa, nem pela positiva”.
A hierarquia da Igreja ainda não reagiu a esta decisão. Mas, em declarações à edição on-line do jornal "A Bola", o padre franciscano Vítor Melícias considerou a notícia “infundada”, além de “inadequada e abusiva”. E mostrou-se indignado com uma eventual “utilização da figura de Santo António” para este fim, uma vez que a doutrina católica se opõe ao casamento homossexual.
Mudar de nome
Já para a porta-voz do movimento a favor do referendo ao casamento gay, Isilda Pegado, a Câmara de Lisboa “tem toda a legitimidade” para incluir estas uniões na iniciativa. “É uma das consequências da lei”, observa. “Devemos é deixar de lhes chamar casamentos de Santo António”, sublinha.
“Santo António já é património mundial”, refuta o coordenador nacional do movimento de católicos homossexuais Rumos Novos, José Leote, defendendo que a Igreja não detém a exclusividade do santo casamenteiro. Esta associação veria com bons olhos que, na cerimónia civil, estivesse um padre que, mesmo não celebrando o casamento entre dois homens ou entre duas mulheres, pudesse abençoá-los. Mas sabe que não é fácil isso acontecer, “acima de tudo por os sacerdotes terem receio de represálias” dos seus superiores.
“Os casamentos de Santo António são um evento que passou a ser inclusivo quando deixou de ser exclusivamente religioso”, opina, por seu turno, o líder da Ilga Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero, Paulo Corte-Real. “Por isso, é natural que todos tenham acesso a ele.”
Seja como for, não há perigo de Santo António se tornar num ícone gay: os homossexuais adoptaram há muito, à revelia da Igreja, o mártir São Sebastião, embora não existam quaisquer indícios de ele ter sentido atracção por outros homens. Mas a forma como terá assumido a sua condição de cristão em pleno império romano e toda a iconografia ligada à sua figura granjearam-lhe a admiração dos homossexuais.
Fonte: Público