Exportações cada vez mais para fora da Europa


Em quatro anos, os mercados de UE e EUA compraram menos 2200 milhões de euros a Portugal. Mas os PALOP, com destaque para Angola, quase compensaram a queda.

Foi mais uma questão de necessidade do que de estratégia, mas a verdade é que, com as economias ocidentais a atravessarem a maior crise dos últimos 60 anos, Portugal registou em 2008 e 2009, pela primeira vez na última década, um peso inferior a 80 por cento das suas exportações para a União Europeia e os Estados Unidos. As exportadoras nacionais estão, numa conjuntura difícil, a diversificar os seus mercados-alvo, procurando alternativas para o menor fulgor dos seus destinos mais tradicionais.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), durante o ano passado o peso das exportações de mercadorias de Portugal para os seus parceiros da UE foi de 74,9 por cento do total. Um valor que é elevado - mostrando a dependência que as empresas portuguesas ainda têm face ao mercado europeu - mas que representa uma das poucas vezes em que não foi ultrapassada a barreira dos 75 por cento.

Já em 2008, o ano em que as economias mais desenvolvidas entraram em crise profunda, isto tinha acontecido, com a percentagem de vendas para a UE a ficar-se nos 73,8 por cento. Para trás ficam os anos em que a dependência face à UE superava largamente os três quartos das exportações totais. Basta recuar para 2005, para verificar que, nesse ano, este indicador foi de 79,7 por cento. Em paralelo, para os Estados Unidos passou-se de um peso das exportações de 5,4 por cento em 2005 para apenas três por cento em 2009.

No total, UE e EUA, como destinos das exportações portuguesas, perderam no espaço de quatro anos 7,2 pontos percentuais de quota de mercado, qualquer coisa como 2200 milhões de euros de vendas. Quais foram então as alternativas encontradas pelos exportadores portugueses? África, principalmente, com especial destaque para Angola. Para esse país registaram-se durante esta década crescimentos muito fortes das exportações e nem a crise mundial de 2009 fez os exportadores nacionais recuarem, apesar de uma ligeira inflexão negativa (ver texto ao lado). É por isso que o peso dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) nas exportações nacionais passou de 3,5 por cento em 2005 para 8,5 por cento em 2009. Outros mercados em crescimento têm sido o dos países do Norte de África e do Sudeste asiático.

O "amigo" Chávez

Em 2009, o país para onde as exportações portuguesas mais cresceram foi a Venezuela, um sinal de que os acordos políticos entre as autoridades de Caracas e Lisboa estão a produzir efeitos económicos.

Esta diversificação de destinos feita pelas empresas portuguesas foi em grande parte o resultado da crise que atingiu de forma mais grave as economias europeias e a norte-americana. Países muito importantes para as exportações portuguesas como a Espanha ou a Alemanha sofreram contracções muito fortes da economia.

No entanto, para os sectores exportadores portugueses é neste momento muito claro que o tema da diversificação vai muito além da actual crise. Em primeiro lugar porque não se esperam, para EUA e Europa, taxas de crescimento económicas elevadas nos próximos anos. E em segundo lugar, porque, depois de uma crise que está a penalizar os países mais endividados, a estratégia económica da maior parte dos governos passa por uma aposta no reequilíbrio das contas externas, o que para Portugal pode significar mais dificuldades em encontrar a procura externa do passado em alguns países.

A diversificação do destino das exportações para regiões do mundo em que se façam sentir menos estes fenómenos deverá ser por isso uma tendência de futuro para as empresas portuguesas. A alternativa seria uma estagnação das vendas ao estrangeiro.




Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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