Pilotos dos EUA disparam contra fotógrafo da Reuters


Um vídeo secreto colocado no site Wikileaks mostra um helicóptero norte-americano a disparar contra um fotógrafo da Reuters e o seu motorista em Junho de 2007, num raide que fez 12 mortos em Bagdad.

A agência Reuters pedia há muito a divulgação deste vídeo – 38 minutos de gravações aéreas e das conversas entre os pilotos de dois helicópteros Apache enquanto estes abriam fogo contra uma rua de Bagdad. A agência tentou consegui-lo através da lei da liberdade de informação, mas o Pentágono conseguiu bloquear essas tentativas. Agora foi o site Wikileaks que o divulgou, numa edição de 17 minutos.

Segundo o Exército norte-americano, os helicópteros tinham sido chamados para ajudar tropas que estariam expostas a fogo de armas ligeiras e de um lança-granadas. “Não há qualquer dúvida que as forças da coligação estavam envolvidas em operações de combate contra uma força hostil”, disse na altura o coronel Scott Bleichwehl, porta-voz das forças na capital iraquiana.

Mas no vídeo agora divulgado não há sinal de forças hostis. Na rua vêem-se várias pessoas, incluindo, de acordo com a descrição do Wikileaks, o fotógrafo Namir Noor-Eldeen, de 22 anos, e o seu condutor, Saeed Chmagh, de 40. No ar, os pilotos discutem o que se passa lá em baixo. Um afirma ter visto seis pessoas armadas com AK-47 e uma com um lança-granadas. É impossível confirmar se há alguém armado na rua, mas Eldeen pode ser visto com uma máquina fotográfica, enquanto Chmagh fala ao telefone.

Outro piloto afirma em seguida que alguém está a disparar, mas no vídeo não se vê ninguém a apontar qualquer arma. Os pilotos decidem então disparar. “Ah, ah, ah, ah, acertei-lhe”, grita um americano. “Olha para aqueles desgraçados mortos”, responde outro. “Fixe”, ouve-se ainda. Há depois um homem ferido, aparentemente Saeed Chmagh, que tenta arrastar-se e os pilotos desejam impacientes que ele tenta disparar contra eles para poderem voltar a atingi-lo: “Tudo o que tens de fazer é pegar numa arma”.

Duas crianças feridas

Pouco depois chega à rua uma carrinha que se aproxima dos feridos. Iraquianos saem da viatura e começaram a carregar as vítimas. Os pilotos disparam então contra a carrinha. Mais tarde chegam à rua forças americanas e descobrem duas crianças feridas no interior da viatura: “Bem, a culpa é deles por trazerem miúdos para o campo e batalha”, comenta um membro da tripulação de um dos helicópteros. “É isso mesmo”, diz outro.

Em resposta à divulgação do vídeo, o Comando Central dos EUA, que supervisiona as guerras do Iraque e do Afeganistão, divulgou um relatório sobre o ataque, incluindo fotos do que diz serem metralhadoras e granadas encontradas junto aos corpos. Segundo os militares, a equipa da Reuters “não fez qualquer esforço para dar a conhecer o seu estatuto de imprensa e o seu comportamento familiar, e proximidade, a insurrectos armados, assim como as suas tentativas furtivas de fotografar as tropas no terreno, fê-los parecer combatentes hostis”.

O Wikileaks já anunciou que se prepara para divulgar um segundo vídeo secreto que mostra a morte de civis num ataque dos EUA no Afeganistão. O Pentágono deverá agora aumentar a pressão para tentar impedir material classificado de ser divulgado no site, que já descreveu como uma ameaça à segurança nacional.

Criado em 2006, o Wikileaks tem por missão promover a transparência dos governos, instituições e empresas. É alimentado através de fugas de informação (leak, na gíria dos media), principalmente por fontes anónimas. Já tinha divulgado relatórios militares classificados sobre armas, unidades militares e estratégia de combate.





Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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