Benfica e Braga ainda sonham
Pela 27.ª vez, o título vai decidir-se na última jornada do campeonato. Apenas uma vez o líder não foi campeão.
Não é o cenário mais frequente, mas também não é inédito o título de campeão português de futebol decidir-se na última jornada. Aconteceu logo no ano de estreia do campeonato, em 1934/35, em que o FC Porto conquistou o título graças a um empate (2-2) com o Sporting na última jornada. No Campo da Constituição, a 12 de Maio de 1935, os "leões" estiveram bem perto de conquistar o título, mas um golo de Soeiro a cinco minutos do fim manteve o FC Porto no topo. Aliás, das 26 vezes que o título se decidiu na última jornada, apenas uma não beneficiou quem ia à frente. Duas equipas entram hoje em campo com hipóteses de ser campeãs, as duas únicas que ocuparam o primeiro lugar esta época: o Benfica, que está no topo, quer que se cumpra a tradição; o Sporting de Braga, o perseguidor, está a contar com a excepção.
Para ambos, as contas são fáceis de fazer. O Benfica só precisa de um ponto para ser campeão, seja ele conquistado na Luz frente ao Rio Ave, seja ele perdido pelo Sp. Braga na Choupana frente ao Nacional. Para os minhotos, que foram oito vezes quarto classificado mas nunca ficaram acima desse lugar, é imperioso vencer e contar com um resultado que nunca aconteceu, um triunfo vilacondense em casa "encarnada" - em 15 jogos, 11 vitórias do Benfica e quatro empates. Mas é no inédito que Domingos Paciência, técnico do Sp. Braga, acredita. Se as contas do título não estão já fechadas, diz o antigo avançado, é porque algo irá acontecer.
É um misto de afirmação de crença e jogo psicológico o discurso de Domingos, atirando a responsabilidade e pressão para o outro lado. "O Benfica tem a equipa mais forte dos últimos 30 anos, tem mais de 100 golos marcados e se ainda não é campeão à entrada para a última jornada é porque alguma coisa está para acontecer, algo está reservado para nós", acredita Domingos, que já sabe o que é ser campeão, mas como jogador.
Aliás, todo o discurso de Domingos, que substituiu esta época Jorge Jesus no banco do Sp. Braga, parece ser dirigido ao líder do campeonato, misturando elogios com críticas na hora de fazer um resumo da temporada. "Perdemos no Dragão e o Benfica também, perdemos na Luz e o Benfica perdeu em Braga. A única diferença é o jogo em Guimarães. O Benfica ganhou no último minuto de um livre que não existiu e nós perdemos", frisou o técnico, referindo ainda a suspensão de Vandinho como um momento importante na definição da época do Sp. Braga: "A forma de jogar mudou completamente."
A excepção
A única vez que o líder à entrada para a última jornada não foi campeão aconteceu em 1955. A vítima foi o Belenenses, a quem o Sporting tirou o título, não em proveito próprio, mas para o Benfica. O campeonato, nesse ano, também se jogava em dois campos, nas Salésias, onde o Belenenses recebia o Sporting, e na Luz, onde o Benfica recebia o Atlético. A vitória do Belenenses esteve quase a acontecer, o triunfo parecia assegurado, depois dos golos de Perez e Matateu a que o Sporting respondera apenas com um remate certeiro de Albano. Mas aos 86", Martins esvaziou a festa dos homens de Belém, ao marcar o empate, enquanto na Luz o Benfica vencia por 3-0. Conquista inesperada para os "encarnados", grande frustração do Belenenses, que nunca mais estaria assim tão perto de conquistar um título.
O Benfica, por seu lado, nunca foi apanhado desprevenido quando se trata de defender a liderança na última ronda. Já o fez em nove ocasiões, a última das quais em 2005, ano do último título "encarnado". Apesar de apenas bastar um ponto, o técnico Jorge Jesus diz que o Benfica não vai jogar para o empate porque tal seria desvirtuar a vocação ofensiva da equipa. "O Benfica nunca jogou nem vai jogar para o empate, não é essa a minha filosofia de jogo. Vamos jogar no risco calculado, como sempre fazemos, para vencer o jogo. Estamos muito fortes nesta ponta final", declarou o treinador do Benfica à Benfica TV.
Se o Benfica nunca perdeu em casa frente ao Rio Ave, há também outro dado que reforça as aspirações benfiquistas à conquista do seu 32.º título de campeão nacional, a invencibilidade na Luz esta temporada, com apenas um empate cedido frente ao Marítimo, logo na primeira jornada. Já na ronda anterior o Benfica teve a oportunidade de festejar o título no Estádio do Dragão, mas perdeu por 3-1 com o FC Porto, e Jesus não quer deixar nada ao acaso, até porque reconhece qualidade ao seu adversário de hoje: "Não sofre golos há três jogos e sabe sair no contra-golpe."
Os adversários
Nenhum dos protagonistas convidados para a discussão do título querem facilitar. Nem o Rio Ave, que tem a permanência assegurada, nem o Nacional, que ainda luta por um lugar na Liga Europa. Primeiro, palavra a Carlos Brito, que diz que o seu Rio Ave vai estar na Luz sem pressão, mas com vontade de discutir a vitória: "Temos as nossas ambições. Queremos proporcionar um bom jogo, criar problemas ao Benfica e não jogar apenas no erro do adversário. Temos de obrigá-lo a errar."
Agora Manuel Machado, que deverá hoje cumprir o seu último jogo como técnico do Nacional, antes de rumar ao Vitória de Guimarães. "O quinto lugar passa necessariamente pela vitória e é por esse objectivo que nos vamos bater, reconhecendo o potencial do adversário, que tem feito uma época diferenciada das outras equipas", diz o técnico da equipa madeirense, que, em 11 confrontos com os minhotos no seu estádio, apenas perdeu uma vez.
Nesta última jornada, os jogos que decidem o título serão à mesma hora (18h) e cada uma das equipas saberá o que se passa em cada minuto do jogo do adversário. Domingos sabe que o Sp. Braga não depende de si para ser campeão, mas quer, pelo menos, pôr o adversário mais nervoso: "Se marcarmos cedo, cada ataque do Rio Ave vai pôr os corações a bater mais rápido."
Fonte. Público
Não é o cenário mais frequente, mas também não é inédito o título de campeão português de futebol decidir-se na última jornada. Aconteceu logo no ano de estreia do campeonato, em 1934/35, em que o FC Porto conquistou o título graças a um empate (2-2) com o Sporting na última jornada. No Campo da Constituição, a 12 de Maio de 1935, os "leões" estiveram bem perto de conquistar o título, mas um golo de Soeiro a cinco minutos do fim manteve o FC Porto no topo. Aliás, das 26 vezes que o título se decidiu na última jornada, apenas uma não beneficiou quem ia à frente. Duas equipas entram hoje em campo com hipóteses de ser campeãs, as duas únicas que ocuparam o primeiro lugar esta época: o Benfica, que está no topo, quer que se cumpra a tradição; o Sporting de Braga, o perseguidor, está a contar com a excepção.
Para ambos, as contas são fáceis de fazer. O Benfica só precisa de um ponto para ser campeão, seja ele conquistado na Luz frente ao Rio Ave, seja ele perdido pelo Sp. Braga na Choupana frente ao Nacional. Para os minhotos, que foram oito vezes quarto classificado mas nunca ficaram acima desse lugar, é imperioso vencer e contar com um resultado que nunca aconteceu, um triunfo vilacondense em casa "encarnada" - em 15 jogos, 11 vitórias do Benfica e quatro empates. Mas é no inédito que Domingos Paciência, técnico do Sp. Braga, acredita. Se as contas do título não estão já fechadas, diz o antigo avançado, é porque algo irá acontecer.
É um misto de afirmação de crença e jogo psicológico o discurso de Domingos, atirando a responsabilidade e pressão para o outro lado. "O Benfica tem a equipa mais forte dos últimos 30 anos, tem mais de 100 golos marcados e se ainda não é campeão à entrada para a última jornada é porque alguma coisa está para acontecer, algo está reservado para nós", acredita Domingos, que já sabe o que é ser campeão, mas como jogador.
Aliás, todo o discurso de Domingos, que substituiu esta época Jorge Jesus no banco do Sp. Braga, parece ser dirigido ao líder do campeonato, misturando elogios com críticas na hora de fazer um resumo da temporada. "Perdemos no Dragão e o Benfica também, perdemos na Luz e o Benfica perdeu em Braga. A única diferença é o jogo em Guimarães. O Benfica ganhou no último minuto de um livre que não existiu e nós perdemos", frisou o técnico, referindo ainda a suspensão de Vandinho como um momento importante na definição da época do Sp. Braga: "A forma de jogar mudou completamente."
A excepção
A única vez que o líder à entrada para a última jornada não foi campeão aconteceu em 1955. A vítima foi o Belenenses, a quem o Sporting tirou o título, não em proveito próprio, mas para o Benfica. O campeonato, nesse ano, também se jogava em dois campos, nas Salésias, onde o Belenenses recebia o Sporting, e na Luz, onde o Benfica recebia o Atlético. A vitória do Belenenses esteve quase a acontecer, o triunfo parecia assegurado, depois dos golos de Perez e Matateu a que o Sporting respondera apenas com um remate certeiro de Albano. Mas aos 86", Martins esvaziou a festa dos homens de Belém, ao marcar o empate, enquanto na Luz o Benfica vencia por 3-0. Conquista inesperada para os "encarnados", grande frustração do Belenenses, que nunca mais estaria assim tão perto de conquistar um título.
O Benfica, por seu lado, nunca foi apanhado desprevenido quando se trata de defender a liderança na última ronda. Já o fez em nove ocasiões, a última das quais em 2005, ano do último título "encarnado". Apesar de apenas bastar um ponto, o técnico Jorge Jesus diz que o Benfica não vai jogar para o empate porque tal seria desvirtuar a vocação ofensiva da equipa. "O Benfica nunca jogou nem vai jogar para o empate, não é essa a minha filosofia de jogo. Vamos jogar no risco calculado, como sempre fazemos, para vencer o jogo. Estamos muito fortes nesta ponta final", declarou o treinador do Benfica à Benfica TV.
Se o Benfica nunca perdeu em casa frente ao Rio Ave, há também outro dado que reforça as aspirações benfiquistas à conquista do seu 32.º título de campeão nacional, a invencibilidade na Luz esta temporada, com apenas um empate cedido frente ao Marítimo, logo na primeira jornada. Já na ronda anterior o Benfica teve a oportunidade de festejar o título no Estádio do Dragão, mas perdeu por 3-1 com o FC Porto, e Jesus não quer deixar nada ao acaso, até porque reconhece qualidade ao seu adversário de hoje: "Não sofre golos há três jogos e sabe sair no contra-golpe."
Os adversários
Nenhum dos protagonistas convidados para a discussão do título querem facilitar. Nem o Rio Ave, que tem a permanência assegurada, nem o Nacional, que ainda luta por um lugar na Liga Europa. Primeiro, palavra a Carlos Brito, que diz que o seu Rio Ave vai estar na Luz sem pressão, mas com vontade de discutir a vitória: "Temos as nossas ambições. Queremos proporcionar um bom jogo, criar problemas ao Benfica e não jogar apenas no erro do adversário. Temos de obrigá-lo a errar."
Agora Manuel Machado, que deverá hoje cumprir o seu último jogo como técnico do Nacional, antes de rumar ao Vitória de Guimarães. "O quinto lugar passa necessariamente pela vitória e é por esse objectivo que nos vamos bater, reconhecendo o potencial do adversário, que tem feito uma época diferenciada das outras equipas", diz o técnico da equipa madeirense, que, em 11 confrontos com os minhotos no seu estádio, apenas perdeu uma vez.
Nesta última jornada, os jogos que decidem o título serão à mesma hora (18h) e cada uma das equipas saberá o que se passa em cada minuto do jogo do adversário. Domingos sabe que o Sp. Braga não depende de si para ser campeão, mas quer, pelo menos, pôr o adversário mais nervoso: "Se marcarmos cedo, cada ataque do Rio Ave vai pôr os corações a bater mais rápido."
Fonte. Público