CP demoliu carruagens em bom estado
A CP mandou destruir em 2001 trinta carruagens de passageiros - muitas das quais em bom estado -, tendo a empresa de sucatas de Manuel Godinho (arguido no processo Face Oculta) procedido à sua demolição na Estação do Bombarral, onde foi montado um estaleiro provisório para esse efeito.
A maioria das carruagens era da marca Schindler e tinham sido importadas da Suíça nos anos cinquenta. Circularam em praticamente todo o país e fizeram as suas últimas viagens no Douro e no Minho, antes de a administração da CP, que na altura era presidida por Crisóstomo Teixeira, as ter enviado para demolição.
A medida não foi pacífica, tendo, na altura, merecido vigorosos protestos do director do Museu Ferroviário Nacional e da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro (APAC). Esta entidade, que constitui uma opinião pública especializada, criticou a companhia ferroviária por não ter feito os mínimos para vender ou salvar carruagens acabadas de sair das oficinas. Neste processo de manutenção, uma revisão de meia vida que "custou milhares de contos", as carruagens foram modernizadas com estofos novos e outros equipamentos. Em contrapartida, outras carruagens bem mais antigas eram mantidas em circulação pela empresa pública de transporte.
As carruagens demolidas representavam dez por cento da frota da CP, que na altura nunca respondeu às perguntas do PÚBLICO sobre o processo de desafectação de material circulante. Nove anos depois - e já após a descoberta das ligações do empresário de Aveiro Manuel Godinho a algumas áreas operativas da CP e da Refer - a mesma empresa não respondeu também às perguntas do PÚBLICO sobre este assunto.
Não se sabe, por exemplo, o montante desse negócio nem se a empresa vendeu as carruagens ao sucateiro que as demoliu no Bombarral, ou se este recebeu dinheiro para efectuar esse trabalho específico.
Recentemente, fóruns de discussão na Internet de entusiastas da ferrovia recuperaram esta questão por se darem conta de que carruagens Schindler com a mesma idade das demolidas pela CP circulam ainda hoje na Suíça.
Comenta-se, ironicamente, que a Confederação Helvética, um país pobre e subdesenvolvido, mantém ao serviço material circulante que os novos-ricos portugueses resolveram mandar para o sucateiro. Algumas das carruagens saíram directamente do serviço de passageiros para a demolição. Fotografias das Schindler na Suíça circulam na web, mostrando carruagens reabilitadas de aspecto confortável e design moderno.
"As redes ferroviárias geridas de forma mais prudente guardam material excedentário para dar resposta a inesperados acréscimos de tráfego em vez de o demolir", alertava na altura a APAC (que possui 1100 sócios) em carta dirigida a Crisóstomo Teixeira.Nas administrações seguintes, o abate de carruagens foi substituído por vendas de material circulante para a Argentina, mas o alerta dos amigos dos caminhos-de-ferro revelou-se algo premonitório: a CP já teve dificuldades em responder a pedidos de comboios especiais do Porto para o Algarve por falta de material e demorou, recentemente, três dias a reagir ao pico de procura provocado pelas restrições do espaço aéreo relacionadas com a erupção do vulcão islandês.
Neste caso, a companhia teve mesmo de ir buscar a composição recentemente desafectada do serviço internacional Sud Express por não ter mais carruagens disponíveis. Mas tivesse este problema ocorrido dentro de um ano, a companhia ferroviária já não teria material suficiente para fazer comboios especiais.
Fonte: Público
A maioria das carruagens era da marca Schindler e tinham sido importadas da Suíça nos anos cinquenta. Circularam em praticamente todo o país e fizeram as suas últimas viagens no Douro e no Minho, antes de a administração da CP, que na altura era presidida por Crisóstomo Teixeira, as ter enviado para demolição.
A medida não foi pacífica, tendo, na altura, merecido vigorosos protestos do director do Museu Ferroviário Nacional e da Associação Portuguesa dos Amigos dos Caminhos-de-Ferro (APAC). Esta entidade, que constitui uma opinião pública especializada, criticou a companhia ferroviária por não ter feito os mínimos para vender ou salvar carruagens acabadas de sair das oficinas. Neste processo de manutenção, uma revisão de meia vida que "custou milhares de contos", as carruagens foram modernizadas com estofos novos e outros equipamentos. Em contrapartida, outras carruagens bem mais antigas eram mantidas em circulação pela empresa pública de transporte.
As carruagens demolidas representavam dez por cento da frota da CP, que na altura nunca respondeu às perguntas do PÚBLICO sobre o processo de desafectação de material circulante. Nove anos depois - e já após a descoberta das ligações do empresário de Aveiro Manuel Godinho a algumas áreas operativas da CP e da Refer - a mesma empresa não respondeu também às perguntas do PÚBLICO sobre este assunto.
Não se sabe, por exemplo, o montante desse negócio nem se a empresa vendeu as carruagens ao sucateiro que as demoliu no Bombarral, ou se este recebeu dinheiro para efectuar esse trabalho específico.
Recentemente, fóruns de discussão na Internet de entusiastas da ferrovia recuperaram esta questão por se darem conta de que carruagens Schindler com a mesma idade das demolidas pela CP circulam ainda hoje na Suíça.
Comenta-se, ironicamente, que a Confederação Helvética, um país pobre e subdesenvolvido, mantém ao serviço material circulante que os novos-ricos portugueses resolveram mandar para o sucateiro. Algumas das carruagens saíram directamente do serviço de passageiros para a demolição. Fotografias das Schindler na Suíça circulam na web, mostrando carruagens reabilitadas de aspecto confortável e design moderno.
"As redes ferroviárias geridas de forma mais prudente guardam material excedentário para dar resposta a inesperados acréscimos de tráfego em vez de o demolir", alertava na altura a APAC (que possui 1100 sócios) em carta dirigida a Crisóstomo Teixeira.Nas administrações seguintes, o abate de carruagens foi substituído por vendas de material circulante para a Argentina, mas o alerta dos amigos dos caminhos-de-ferro revelou-se algo premonitório: a CP já teve dificuldades em responder a pedidos de comboios especiais do Porto para o Algarve por falta de material e demorou, recentemente, três dias a reagir ao pico de procura provocado pelas restrições do espaço aéreo relacionadas com a erupção do vulcão islandês.
Neste caso, a companhia teve mesmo de ir buscar a composição recentemente desafectada do serviço internacional Sud Express por não ter mais carruagens disponíveis. Mas tivesse este problema ocorrido dentro de um ano, a companhia ferroviária já não teria material suficiente para fazer comboios especiais.
Fonte: Público