Inter conquista a Champions



O Inter de Milão treinado por José Mourinho venceu este sábado a final da Liga dos Campeões e fez a “tripla”. O argentino Diego Milito foi a grande figura, com dois golos.

Massimo Moratti, presidente do Inter, já tem uma fotografia como a do seu pai Ângelo, a sorrir agarrado ao troféu da maior competição de clubes europeia. Em 1964 e 1965, o presidente Ângelo agradeceu-o a Helenio Herrera. Moratti deve-o a José Mourinho, uma espécie de reencarnação do argentino que um dia disse “evita a monotonia nos discursos, no treino e nas refeições”.

Mou-ratti. O treinador e o presidente que acreditou nele para fazer renascer o Grande Inter, que o seu pai, presidente entre 1955 e 1968, vira nascer às mãos do extravagante Helenio Herrera. Era o “habla-habla” por falar muito e um dos reinventores do catenaccio (um ferrolho, mas uma estratégia com toda a elasticidade do contra-ataque).

Herrera foi um dos primeiros a chamar 12.º jogador aos espectadores. Foi ele que um dia suspendeu um jogador por dizer “viemos aqui jogar” em vez de “viemos aqui ganhar”. Da sua boca saiu a frase “Quem não dá tudo, não dá nada”. Podia ter sido José Mourinho.

A noite do português também fica para a história. Em Madrid. Logo em Madrid.

O Inter, o novo Grande Inter, concluiu o seu Grand Slam. Depois do campeonato e da taça, a desejada Liga dos Campeões. A tripla conquistada numa final imprevisível, para muitos um espectáculo distorcido. Para outros, o jogo estava nos bancos (o de Mourinho vazio, o de Van Gaal ocupado) e não no relvado.

E a primeira parte ameaçou. Mais paciente o Bayern, mais sôfrego o Inter. Foi decorrendo assim um jogo onde às tantas parecia fazer falta aquela regra do andebol que obriga as equipas a atacar. Como nenhum árbitro levantou o braço em sinal de sonolência, as duas equipas estudaram-se, observaram-se, não se comprometeram.

Robben, tudo menos alemão, foi azucrinando Chivu (amarelado aos 30’), mas a energia do holandês não conseguiu contagiar os seus colegas. Aí, já o Bayern tinha ganho o prémio posse de bola, perante a indiferença do Inter, calculista. Todos para a esquerda, direita, esquerda, direita. Pautado por Zanetti e Cambiasso, os homens de Mourinho não têm pressa. Seguem a bola e o adversário com a concentração de um sniper e esperam pelo momento certo.

E o momento certo aconteceu aos 35’. Pontapé longo de Júlio César, recepção imediata de Milito, triangulação com Sneijder e conclusão do argentino, o homem do jogo no relvado – pelo menos até Mourinho ter invadido o relvado.

Na véspera, Van Bommel, habituado a reviravoltas, avisara. Desta vez é diferente. É o Inter. Foi mesmo. Foi a febre de sábado à noite. O Bayern não parecia deste campeonato. Cabeça baixa, pernas pesadas. Aos 19 segundos da segunda metade, Júlio César deteve o remate de Müller. Altintop (54’) também raspou a sua sorte. E aos 65’, Robben, inconformado, nada alemão, tentou equilibrar aquela que também era a sua final. Brilhante pé esquerdo (vemo-nos no Mundial) para enorme estirada do guarda-redes brasileiro.

A espaços, o Bayern conseguia penetrar nos labirintos da pirâmide defensiva dos italianos (sem italianos). Mas deu sempre a ideia que o destino estava traçado, que era a noite dos passes sem olhar (de Sneijder) e dos roubos de bola só com o olhar (de Cambiasso). E de Milito, o príncipe. Aos 70’, o seu sexto golo em 11 jogos de Champions. Só dele. Pé ante pé, um nó em Van Buyten, dois remates e dois golos. Por fora, Mourinho aconselhou calma. Por dentro já saboreava uma temporada redonda.

Só ele seria capaz de cumprimentar Van Gaal ainda antes do apito final, segundos antes de a UEFA mandar gravar o nome Inter no troféu. No final, quando o árbitro apitou, o treinador português ficou uns segundos sozinho a olhar para os adeptos (Herrera foi um dos primeiros a chamar-lhes 12.º jogador). Em pleno Santiago Bernabéu, acenou-lhes. Addio.




Fonte: Público

POSTED BY Mari
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