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"O estranho caso de Angélica" é o novo filme de Manoel de Oliveira que ontem, quinta-feira, foi apresentado no Festival de Cannes.

Projecto com cerca de 60 anos mas agora recuperado, devido ao entusiasmo do seu produtor francês, o filme encerra uma deliberada dimensão intemporal e uma reflexão filosófica universalista, na trágica história que nos propõe.

Ricardo Trêpa, neto do realizador e seu habitual actor durante a ultima década, é aqui um jovem fotógrafo judeu que uma noite é chamado a casa de uma família importante da cidade do Douro onde está instalado, para fotografar a filha da família, que acabou de falecer. Mas Isaac, através da sua câmara fotográfica e das fotografias que se vão revelando, é o único que vê Angélica viva, sendo consumido por esta paixão do outro mundo.

Numa das sequências do filme, Isaac e Angélica, interpretada pela actriz espanhola Pilar Gomez de Ayala, sobrevoam abraçados as águas do Douro, de onde o apaixonado fotógrafo retira uma flor para dar à sua amada.

Na conferência de imprensa, Oliveira foi confrontado com a ideia da morte. "A morte é uma condição absoluta", disse. "Quando nascemos, a única certeza que temos é a morte. O resto é incerto. Não tenho medo da morte, apenas do sofrimento", admitiu.

Sobre o facto do projecto não ter sido realizado quando o escreveu pale primeira vez, nos anos 50, admitiu que o regime não gostou muito da ideia, até pela referência aos judeus. "Agora juntei a poluição, a crise económica, as chuvas que destruíram a Madeira ou o Rio de Janeiro", referiu.

Confrontado com a ideia de que o seu novo filme seria muito pessimista, Oliveira contrapôs que "o filme não é pessimista, a vida é que é pessimista."




Fonte: JN

POSTED BY Joana Vieira
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