Como se constrói um festival


Para o público, o Rock in Rio começa na próxima sexta-feira, mas a verdade é que a equipa de produção está a trabalhar há dois anos na criação do festival. Nos últimos meses, o Parque da Bela Vista, em Lisboa, foi-se transformando na Cidade do Rock - onde se trabalha intensamente das oito da manhã às oito da noite.

Antes de ser o homem que sabe tudo sobre a construção do Rock in Rio, Ricardo Escarduça era apenas mais um engenheiro civil que construía prédios atrás de prédios atrás de prédios. "Andava já há algum tempo a pensar em mudar" quando, em 2007, surgiu a oportunidade de se juntar à equipa do festival. "A mudança foi muito aliciante, queria um trabalho com uma maior vertente criativa. Na última edição apanhei o comboio já em andamento e foi complicado porque não tinha experiência nesta área, tive de aprender tudo e foi um enorme desafio", reconhece. "Mas eu gosto de desafios." Aprendeu a lição rapidamente e hoje é o coordenador de engenharia, ou seja, é a pessoa que coordena as várias equipas desde a concepção cenográfica do espaço aos projectos técnicos - estruturas, luz, som, vídeo, energia, tudo mas mesmo tudo passa por este engenheiro de 34 anos. Um trabalho a tempo inteiro. "A preparação deste Rock in Rio começou quando se fecharam as portas da última edição", diz. Para depois emendar: "Não, começou ainda durante a edição anterior, quando nos íamos apercebendo de erros que não podíamos voltar a cometer."

Com a pele bronzeada de quem passa os dias de um lado para o outro na chamada Cidade do Rock, Ricardo Escarduça reconhece que tem uma relação de amor-ódio com os 200 mil metros quadrados do Parque da Bela Vista. "Este cenário é fantástico. Estamos num jardim e queremos que as pessoas continuem a ter a ideia de que estão no jardim. O Rock in Rio não altera as características do jardim e integra-as na sua estrutura." As árvores, os espaços verdes, os arruamentos originais são incorporados nos cenários, é certo, mas isto significa um esforço acrescido, como explica o engenheiro. Por um lado, há o relevo acentuado e os vários desníveis no terreno, por outro lado há a questão das estradas muito estreitas: para que os camiões não danifiquem o relvado, dentro do recinto há um sentido de trânsito único, o que implica uma complicada gestão do tráfego. E este ano, para complicar, tem havido muita chuva, que tem trazido problemas acrescidos na estabilização do solo. "É o espaço mais difícil para fazer um festival, mas o resultado é muito compensador", garante Ricardo Escarduça. "Ter a Cidade do Rock encaixada num jardim e com este anfiteatro natural é um privilégio para o público." Para Ricardo, fazer parte do "maior festival do mundo" também é um privilégio: "O melhor de tudo é que, para além do prazer de pôr isto de pé, posso depois ver as pessoas a desfrutar do meu trabalho. Gosto muito de andar no meio da multidão e ouvir o que estão a dizer, perceber que estão a tirar partido espaço."

Falta pouco menos de uma semana para o festival arrancar, mas na Cidade do Rock há muito tempo que se trabalha de sol a sol. "Funciona como uma autêntica cidade", explica o director de produção Nuno Sousa Pinto. "Há um departamento de limpeza, um departamento de trânsito, um departamento de segurança. As casas de banho estão ligadas à rede pública. Temos lojas, restaurantes e postos médicos. E este ano até vamos ter um hotel." Por estes dias, ainda não há música, mas há muitas máquinas a trabalhar, martelos a bater, gente de fato-macaco a pôr de pé os vários palcos e todas as infra-estruturas. São nove mil as pessoas acreditadas, entre artistas, produção, fornecedores, patrocinadores, voluntários.





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POSTED BY Joana Vieira
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