World Press Photo em Lisboa
São as melhores, entre as melhores, imagens captadas por fotojornalistas durante o ano passado. E eis que as fotografias premiadas estão, a partir de hoje, expostas ao público no Museu da Electricidade, em Lisboa. Um retrato do planeta para despertar consciências.
A sala é ampla. Suficientemente vasta para deixar respirar as fotografias que acolhe. Mais do que o óbvio, do que é acessível aos olhos, importa nelas reter os signos que escondem. A mostra do World Press Photo 2010, o mais prestigiante dos certames, que reconhece o trabalho levado a cabo pelos fotojornalistas à escala mundial, estará patente na cidade alfacinha até ao dia 23 de Maio.
O júri do certame atribuiu galardões compartimentados em dez categorias distintas, abarcando assim, 62 fotógrafos de 22 nacionalidades. Mas as fotografias eleitas, que perfazem um total de 167, não se circunscreverão à capital. Naquela que é uma iniciativa da revista Visão em parceria com Fundação EDP, a exposição itinerante passará pelo Funchal em Junho, Portimão em Julho, e por fim, pela Maia, em Novembro.
E não se destina apenas a profissionais, ou a aficcionados de fotografia. Fornece antes ferramentas a todos para um exercício de rememoração, para um passar em revista dos principais acontecimentos do ano que tenham marcado a agenda planetária.
Como não poderia deixar de ser, os conflitos, sobretudo os resultantes de protestos de rua, que fizeram jorrar sangue, constituem dos principais protagonistas das imagens. Há mesmo uma que, metáforas à parte, foca o rosto de um jovem iraniano, entrosado num cenário bélico, como se derramasse lágrimas vermelhas.
E é justamente sobre os embates em Teerão que versa a fotografia vencedora da edição de 2010 do World Press Photo, pertencente a um free-lancer italiano. As críticas de que foi objecto por facções puristas da fotografia foram refutadas pelo comissário holandês da exposição Jurre Janssen.
"De facto não é a típica foto icónica", diz. "Foi tirada por um fotógrafo de 29 anos que estivera preso três dias e proibido de circular na capital do Irão", conta em jeito de contextualização do momento em que a máquina foi disparada. Sozinho, Pietro Masturzo perpetuou, então um episódio deveras simbólico. Mulheres, que naquele país não gozam de liberdade, fazem ecoar o seu grito de revolta, curiosamente, o mesmo usado numa revolução em 1979.
"É como música. Demasiado alta não se percebe a letra, mas se baixarmos o som, aí se apreende o seu verdadeiro significado", salienta o holandês. Foi portanto um rasgo de silêncio poético que garantiu a esta imagem a distinção máxima. Quanto às acusações da alegada escassez de movimento, responde: "Não vejo que esse seja um critério. "Ela levanta dúvidas, provoca questões e não dá respostas". A história por detrás exige, pois, que se leia nas entrelinhas.
E Jurren é justamente a favor do misticismo das imagens e da sua opacidade. A vencedora não é a sua fotografia favorita. Elege outras para o pódio pessoal. Uma delas espelha uma espécie de "conto de fadas de terror", outra, um aparentemente simples retrato de uma criança destituída de expressão.
Fonte: JN
A sala é ampla. Suficientemente vasta para deixar respirar as fotografias que acolhe. Mais do que o óbvio, do que é acessível aos olhos, importa nelas reter os signos que escondem. A mostra do World Press Photo 2010, o mais prestigiante dos certames, que reconhece o trabalho levado a cabo pelos fotojornalistas à escala mundial, estará patente na cidade alfacinha até ao dia 23 de Maio.
O júri do certame atribuiu galardões compartimentados em dez categorias distintas, abarcando assim, 62 fotógrafos de 22 nacionalidades. Mas as fotografias eleitas, que perfazem um total de 167, não se circunscreverão à capital. Naquela que é uma iniciativa da revista Visão em parceria com Fundação EDP, a exposição itinerante passará pelo Funchal em Junho, Portimão em Julho, e por fim, pela Maia, em Novembro.
E não se destina apenas a profissionais, ou a aficcionados de fotografia. Fornece antes ferramentas a todos para um exercício de rememoração, para um passar em revista dos principais acontecimentos do ano que tenham marcado a agenda planetária.
Como não poderia deixar de ser, os conflitos, sobretudo os resultantes de protestos de rua, que fizeram jorrar sangue, constituem dos principais protagonistas das imagens. Há mesmo uma que, metáforas à parte, foca o rosto de um jovem iraniano, entrosado num cenário bélico, como se derramasse lágrimas vermelhas.
E é justamente sobre os embates em Teerão que versa a fotografia vencedora da edição de 2010 do World Press Photo, pertencente a um free-lancer italiano. As críticas de que foi objecto por facções puristas da fotografia foram refutadas pelo comissário holandês da exposição Jurre Janssen.
"De facto não é a típica foto icónica", diz. "Foi tirada por um fotógrafo de 29 anos que estivera preso três dias e proibido de circular na capital do Irão", conta em jeito de contextualização do momento em que a máquina foi disparada. Sozinho, Pietro Masturzo perpetuou, então um episódio deveras simbólico. Mulheres, que naquele país não gozam de liberdade, fazem ecoar o seu grito de revolta, curiosamente, o mesmo usado numa revolução em 1979.
"É como música. Demasiado alta não se percebe a letra, mas se baixarmos o som, aí se apreende o seu verdadeiro significado", salienta o holandês. Foi portanto um rasgo de silêncio poético que garantiu a esta imagem a distinção máxima. Quanto às acusações da alegada escassez de movimento, responde: "Não vejo que esse seja um critério. "Ela levanta dúvidas, provoca questões e não dá respostas". A história por detrás exige, pois, que se leia nas entrelinhas.
E Jurren é justamente a favor do misticismo das imagens e da sua opacidade. A vencedora não é a sua fotografia favorita. Elege outras para o pódio pessoal. Uma delas espelha uma espécie de "conto de fadas de terror", outra, um aparentemente simples retrato de uma criança destituída de expressão.
Fonte: JN