A noite do adeus no OptimusAlive!


Os Pearl Jam disseram adeus por uns tempos num concerto emocional e os LCD Soundsystem fizeram o mesmo num espectáculo eficaz. Foi o adeus do festival OptimusAlive!, ontem, que contou com 112 mil espectadores em três dias.

Foi noite de despedidas, ontem, no OptimusAlive! Despediu-se o festival com o balanço de 112 mil espectadores nos três dias – o último, de lotação esgotada, levou 45 mil – e promessas de regresso no próximo ano, no mesmo local, de 7 a 9 de Julho.

Despediram-se os Pearl Jam, com o vocalista Eddie Vedder a ler uma missiva ao público, dizendo que seria o último concerto do grupo em muito tempo, naquilo que parece vir a ser um longo intervalo na sua actividade. E despediram-se também, indirectamente, os LCD Soundsystem porque o mentor James Murphy não quer ser, nas suas palavras, “um profissional do rock”, e esta deverá ser a sua última digressão neste formato.

Foi uma noite de nostalgia, para quem cresceu a ouvir Pearl Jam nos anos 90, com todas as propriedades que fazem os concertos de rock para multidões em momentos de comunhão entre palco e plateia. Houve juras de amor de Veeder – “Portugal é o melhor lugar do mundo para terminar digressões” disse, enaltecendo ao longo da noite a aptidão vocal do público no acompanhamento das canções – e saída de palco com bandeira portuguesa.

Houve momentos emocionais com baladas acústicas. Canções entoadas pela multidão. Momentos de intensidade roqueira. Algum virtuosismo teatral, com Mike McCready a tocar guitarra atrás da cabeça. Canções que quase toda a gente conhecia, como “Even flow”, “Daughter”, “Nothing man”, “Alive” ou “Why go”. Um ‘encore’, “Betterman”, que a assistência cantou quase na totalidade. E até uma canção cujo refrão era “Portugal, Portugal.” E, claro, uma resposta afectuosa do público. Foi um bom concerto? Foi emotivo, pelo menos. Existiu calor e identificação mútua entre plateia e palco e vice-versa.

Para muita gente, como James Murphy, a década de 90 não foi propriamente rica em termos de rock & roll. Foi uma altura em que o rock cresceu para os lados, tornou-se grandiloquente, perdeu criatividade. Talvez por isso a base de inspiração dos seus LCD sejam os anos pós-punk dos anos 80. Ele, que até está com ar anafado, defende uma música esguia e nervosa em concertos concisos, onde a dinâmica rítmica é mais valorizada que o virtuosismo, onde a forma como se diz é muitas vezes mais importante do que tentar dizer de forma perfeita.

Numa frase: os LCD Soundsystem foram a antítese dos Pearl Jam. E foi bom? Foi, mas já lhes vimos melhor. O som estava algo deficiente ao início, a voz de Murphy não estava nos seus dias e a sobreposição de camadas rítmicas, capaz de levar qualquer assistência ao delírio, apenas funcionou a espaços. Para resultar na plenitude tem que haver total disponibilidade dos músicos e ficou a ideia de que estavam algo cansados.

O alinhamento passou pelo último álbum, “This Is Happening”, com “Drunk girls”, “I can change” ou “Pow wow”, mas também recuperou temas de anteriores discos como “Daft punk is playing in my house”, “All my friends” ou “Tribulations”.

Encerraram com “Yeah”, súmula de todo o seu percurso, com uma letra repetitiva aparentemente sem conteúdo, mas onde parecem estar condensadas, de forma simples, todas as emoções indizíveis que apenas a música parece conseguir expor. Hora e meia antes, a assistência acompanhava as letras místicas de Veeder, agora gritava de punho erguido “yeah, yeah, yeah” e tudo parecia fazer sentido. É preciso estar lá para perceber.

Mas nem só de Pearl Jam e LCD foi feito o último dia. Antes já a canadiana Peaches tinha proporcionado a habitual dose de extravagância, andando em pé por cima do público, ou jorrando champanhe para cima do mesmo. Quanto à música, a habitual dose de saturação electrónica, que já conheceu melhores dias.

Minutos antes de entrar em palco, a canadiana tinha estado num outro espaço a cantar ao lado de Paulo Furtado (Legendary Tiger Man), em noite de apresentação de “Femina”, com quase todas as convidadas femininas do disco, excepção a Asia Argento, que terá perdido o avião. Os duetos (Rita Redshoes, Maria de Medeiros, Cibelle, Phoebe Killdear ou Cláudia Efe) resultaram mas o concerto acabou por ser um pouco prejudicado pelas transições, que acabaram por retirar ritmo ao espectáculo.

Antes, no mesmo espaço, a brasileira Cibelle fez o que pode, sozinha, sem a sua banda, para manter a assistência interessada, mas não foi fácil. A sua apresentação vive dos detalhes, das subtis provocações sonoras e líricas. Ali perderam-se. O que não significa que quem aposte no traço grosso vingue. É isso que os Gogol Bordello fazem, miscelânea de rock barroco com sonoridades ciganas, mas a fórmula parece esgotada e necessita de ser revista rapidamente. Quem também desiludiu foram os ingleses Big Pink, com um rock de contornos épicos sem nervo.

Vimos apenas excertos, mas o concerto dos dançantes Simian Mobile Disco – na linha daquilo que os Daft Punk ou Chemical Brothers fazem – parece ter sido excitante, o mesmo acontecendo com o dos suecos Mike Snow. Com três palcos a funcionar em simultâneo essa foi a imagem de marca do festival: público a andar pelos espaços, às vezes desfrutando apenas de meia dúzia de temas e circulando novamente.

Ao longo dos três dias não houve propriamente um concerto inesquecível, mas existiram excelentes momentos proporcionados por Florence and the Machine, The xx, Devendra Banhart, Faith No More, Matias Aguyao Band, The Gossip, Paus, LCD Soundsystem ou Pearl Jam. Nada mau.




Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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