Portugal vence o campeão do mundo


Na África do Sul, a Espanha provou de forma inequívoca que era a melhor selecção do mundo. Portugal apenas conseguiu provar que não estava sequer lá perto. Quando as duas selecções se defrontaram há mais de quatro meses na Cidade do Cabo, uma estava a caminho da glória, a outra esta a caminho do caos. Cumpriram o seu caminho e ontem, na Luz, foi Portugal a desejar que já tivesse sido inventada uma máquina do tempo para se poder exibir no Mundial como se exibiu esta quarta-feira. Deu espectáculo e foi melhor que os melhores do mundo. E venceu por 4-0. Pena que fosse apenas um particular e não um jogo de um Mundial ou de um Europeu.

Nada tinha mudado na Espanha. O treinador era o mesmo, Vicente del Bosque, e o “onze”, com uma diferença (David Silva em vez de Pedro), era o mesmo que vencera a final frente à Holanda. Já Portugal era um produto de um penoso processo de destruição e reconstrução, com treinador novo e novas soluções, recuperação de jogadores esquecidos (Postiga, Moutinho, Martins) e a aposta em caras novas (João Pereira). Mas, mais importante, a recuperação definitiva de Cristiano Ronaldo.

Foi ele o primeiro alvo da roja, logo aos 8’, quando o barcelonista Busquets teve uma entrada muito dura sobre o madridista Ronaldo e levou um cartão amarelo. Um minuto depois, foi Ronaldo a devolver o gesto, também ele a levar um cartão amarelo, o que parecia um eco do ainda relativamente distante Barcelona-Real Madrid. Deste duelo, Ronaldo ficou a coxear e já não voltaria para a segunda parte. Mas ele, tal como os restantes portugueses, não se atemorizou perante a teórica superioridade espanhola nem com os primeiros indícios daquele carrossel que havia desfeito a selecção portuguesa e todas as outras durante o Mundial.

Sinal de que a história seria diferente. Logo aos 2’, Nani obrigava Casillas a defesa apertada e, aos 4’, era Carlos Martins quem rematava ao lado. Portugal mostrava perigo e tentava assumir o jogo, tal como Paulo Bento havia pedido. Mas o técnico português também previu que a Espanha iria querer mandar e que era preciso defender com inteligência. Os espanhóis estiveram perto do golo aos 31’, quando David Silva cabeceia ao lado após cruzamento de Capdevilla, mas foi uma amostra solitária dos campeões do mundo e da Europa.

Portugal mostrava dinâmica de meio-campo, com Moutinho a mostrar na sua habitual omnipresença e Meireles a mostrar que também é competente como médio mais defensivo. E depois havia Ronaldo, autor aos 37’ de um grande candidato ao melhor não golo da temporada. O avançado do Real Madrid leva a bola até à área, finta Piqué e pica a bola por cima de Casillas. A bola entra na baliza, mas é anulado por fora-de-jogo, porque Nani cabeceia quando a bola já lá estava dentro. O árbitro errou (não seria a única vez durante o jogo), mas Nani ajudou.

O empate não iria durar muito mais. Minuto 45, de novo Ronaldo pela esquerda, finta a Busquets, remate para defesa de Casillas, a bola sobra para Carlos Martins que remate sem hipóteses para o guardião do Real.

Portugal não perdeu ritmo na segunda parte e vincou a sua superioridade perante uma Luz meio-cheia. Minuto 49’, Moutinho escapa-se pela direita, Postiga dá um toque de calcanhar e Sérgio Ramos confirma o segundo golo na baliza espanhola.

O avançado do Sporting foi de novo protagonista aos 68’, quando voltou a bater Casillas, mas foi o outro ponta-de-lança português, Hugo Almeida, quem transformou esta na maior vitória de sempre de Portugal sobre a Espanha e apenas a oitava em 37 jogos. A 26 de Janeiro de 1947, no Estádio Nacional, José Travassos e António Araújo marcavam dois golos cada no triunfo português por 4-1, também um particular. Ontem, aos 90’, Almeida, em contra-ataque após passe de Pepe, fez o 4-0 e transformou um jogo de união ibérica em torno da candidatura a um mundial numa partida memorável para Portugal.




Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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