Erdogan obtém vitória esmagadora
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, venceu as legislativas de ontem assegurando o terceiro mandato, tornando-se, como nota o britânico The Guardian, o primeiro-ministro com mais sucesso da Turquia multipartidária. Mas não conseguiu um objectivo importante: uma maioria que lhe permitisse alterar a Constituição sem negociar com a oposição.
Nas primeiras palavras após serem conhecidos os resultados preliminares - segundo a agência Reuters, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) do primeiro-ministro tinha obtido 49,9 por cento dos votos - Erdogan falou precisamente da necessidade de consultar a oposição. "O povo enviou-nos uma mensagem para construir a nova Constituição através do consenso e da negociação", disse no discurso de vitória, feito numa varanda da sede do seu partido na capital, Ancara. "Vamos discutir a Constituição com os partidos da oposição", prometeu.
O AKP teve mais votos ontem do que nas últimas eleições em 2007, em que tinha obtido 46,3 por cento. Mas, devido a novas regras de cálculo dos deputados, perdeu assentos no Parlamento, ficando agora provavelmente com 325 deputados - na legislatura anterior tinha 331, mais um do que o mínimo de 330 para fazer alterações constitucionais sem consultar a oposição sujeitando-as a referendo (o que, aliás, fez).
A "supermaioria" de 367 deputados entre os 550 do Parlamento turco dar-lhe-ia a possibilidade de fazer estas alterações sem negociar com a oposição e também sem referendo - algo que deixou muitos comentadores assustados, repetindo que o melhor cenário seria uma vitória do AKP sem esta "supermaioria". O que acabou por acontecer e que é também o cenário preferido dos mercados, nota a agência Reuters.
A necessidade de alterar a Constituição, que data de dois anos após o golpe militar de 1980 e ainda em vigor, é consensual entre os partidos. Mas a oposição temia que o chefe do Governo aproveitasse esta alteração para fazer com que o país passasse para um sistema presidencialista.
Suspeita-se de que, após ter sido presidente da Câmara de Istambul e primeiro-ministro, Erdogan esteja a considerar concorrer à Presidência, podendo assim manter-se no poder até 2024. Curiosamente, a campanha do AKP foi feita sob o lema "Objectivo 2023", quando se comemora o centenário da República.
Além disso, outros temiam a concentração de poder neste primeiro-ministro não só por este ser religioso (o seu AKP tem raízes num movimento islamista banido) mas sobretudo por ter, acusam, "tiques autoritários".
Jornalistas e juízes têm sido as principais vítimas destes "tiques", assim como alguns críticos do primeiro-ministro, que têm processado frequentemente pessoas invocando um artigo no Código Penal turco que criminaliza insultos à honra (segundo o Wall Street Journal, terão sido "centenas"). Ainda na semana passada, Erdogan perdeu um caso contra estudantes que lhe chamaram "vendedor de rua" numa alusão ao seu passado num bairro popular de Istambul.
Mais em: Público
Nas primeiras palavras após serem conhecidos os resultados preliminares - segundo a agência Reuters, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) do primeiro-ministro tinha obtido 49,9 por cento dos votos - Erdogan falou precisamente da necessidade de consultar a oposição. "O povo enviou-nos uma mensagem para construir a nova Constituição através do consenso e da negociação", disse no discurso de vitória, feito numa varanda da sede do seu partido na capital, Ancara. "Vamos discutir a Constituição com os partidos da oposição", prometeu.
O AKP teve mais votos ontem do que nas últimas eleições em 2007, em que tinha obtido 46,3 por cento. Mas, devido a novas regras de cálculo dos deputados, perdeu assentos no Parlamento, ficando agora provavelmente com 325 deputados - na legislatura anterior tinha 331, mais um do que o mínimo de 330 para fazer alterações constitucionais sem consultar a oposição sujeitando-as a referendo (o que, aliás, fez).
A "supermaioria" de 367 deputados entre os 550 do Parlamento turco dar-lhe-ia a possibilidade de fazer estas alterações sem negociar com a oposição e também sem referendo - algo que deixou muitos comentadores assustados, repetindo que o melhor cenário seria uma vitória do AKP sem esta "supermaioria". O que acabou por acontecer e que é também o cenário preferido dos mercados, nota a agência Reuters.
A necessidade de alterar a Constituição, que data de dois anos após o golpe militar de 1980 e ainda em vigor, é consensual entre os partidos. Mas a oposição temia que o chefe do Governo aproveitasse esta alteração para fazer com que o país passasse para um sistema presidencialista.
Suspeita-se de que, após ter sido presidente da Câmara de Istambul e primeiro-ministro, Erdogan esteja a considerar concorrer à Presidência, podendo assim manter-se no poder até 2024. Curiosamente, a campanha do AKP foi feita sob o lema "Objectivo 2023", quando se comemora o centenário da República.
Além disso, outros temiam a concentração de poder neste primeiro-ministro não só por este ser religioso (o seu AKP tem raízes num movimento islamista banido) mas sobretudo por ter, acusam, "tiques autoritários".
Jornalistas e juízes têm sido as principais vítimas destes "tiques", assim como alguns críticos do primeiro-ministro, que têm processado frequentemente pessoas invocando um artigo no Código Penal turco que criminaliza insultos à honra (segundo o Wall Street Journal, terão sido "centenas"). Ainda na semana passada, Erdogan perdeu um caso contra estudantes que lhe chamaram "vendedor de rua" numa alusão ao seu passado num bairro popular de Istambul.
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