Massacre na Guiné-Conacri faz 157 mortes
Tiros sobre multidão encerrada no interior de um estádio, violações, ocultação de cadáveres para tentar esconder a dimensão do massacre. À medida que são conhecidos pormenores, a repressão de milhares de manifestantes em Conacri, segunda-feira, assume contornos de barbárie. Os últimos dados apontavam ontem para 157 mortos e 1253 feridos.
“Os nossos elementos circularam um pouco por toda a Conacri e foram aos hospitais, mas não puderam ver tudo”, disse o presidente da Organização Guineense de Defesa dos Direitos do Homem (OGDH), Thierno Maadjou Sow, que fez o balanço aos media internacionais.
O mesmo responsável disse à Reuters que o número não incluía pessoas baleadas no estádio que não foram conduzidas aos hospitais. Trata-se de um dos piores massacres cometidos num único dia no último quarto de século na Guiné-Conacri, observou a AFP. Segundo as agências internacionais, as perseguições de militares continuaram hoje e foram mortos, pelo menos, três adolescentes.
O massacre de segunda-feira reprimiu uma manifestação não-autorizada de oposicionistas à junta militar, que protestavam contra uma eventual candidatura de Moussa Dadis Camara às eleições presidenciais previstas para Janeiro, o que quebraria um compromisso anterior. Camara tomou o poder depois da morte do Presidente Lansana Conté, em Dezembro de 2008.
Na versão da oposicionista União das Forças Republicanas (UFR), os militares montaram uma armadilha: deixaram que o Estádio 28 de Setembro — alusivo à data em que, em 1958, os cidadãos da Guiné-Conacri votaram pela separação da França — se enchesse e começaram a disparar. “Os soldados dispararam sobre as pessoas e os que tentavam sair foram agarrados e mortos com baionetas”, disse à Reuters o activista dos direitos humanos Souleymane Bah.
Uma testemunha que se encontrava entre as dezenas de milhares de manifestantes, Abdoulaye Bineta Diallo, contou à AFP que “os militares cercaram o estádio e os Boinas Vermelhas [guarda presidencial] começaram a disparar. Ao princípio pensámos que era para intimidar, mas as pessoas começaram a cair, houve pânico e mais de cem mortos”. “Os manifestantes estavam desarmados”, garantiu.
“Isto vai provocar uma guerra civil, porque as pessoas não estão dispostas a perdoar aos militares, eles ultrapassaram os limites”, disse Diallo.
Soldados, “publicamente e em plena luz do dia, violaram mulheres”, disse Diallo — uma informação confirmada por diversas fontes de organizações humanitárias citadas pelos media internacionais. O presidente do ramo guineense da organização africana de defesa dos direitos humanos Raddho, Mamadi Kaba, disse também ter informações de que mulheres detidas foram violadas.
Ocultar carnificina
A UFR acusou a junta militar de pretender ocultar a dimensão da carnificina. “Foram vistos militares a recolher corpos nas ruas para os levar para o campo Alpha Yaya Diallo, sede da junta, provavelmente para evitar uma contagem precisa do número de mortos”, referiu em comunicado.
O massacre no país de 9,6 milhões de habitantes, dirigido por militares desde a independência, foi condenado pelas Nações Unidas, União Europeia, União Africana, que ameaça com sanções, e por diferentes países, designadamente a França, que suspendeu a cooperação militar e está a reexaminar o auxílio ao país. Numa declaração à Radio France International, Moussa Dadis Camara declarou-se “desolado” com a situação. “É dramático [...] Muito francamente estou muito desolado, muito desolado.”
Fonte: Público
“Os nossos elementos circularam um pouco por toda a Conacri e foram aos hospitais, mas não puderam ver tudo”, disse o presidente da Organização Guineense de Defesa dos Direitos do Homem (OGDH), Thierno Maadjou Sow, que fez o balanço aos media internacionais.
O mesmo responsável disse à Reuters que o número não incluía pessoas baleadas no estádio que não foram conduzidas aos hospitais. Trata-se de um dos piores massacres cometidos num único dia no último quarto de século na Guiné-Conacri, observou a AFP. Segundo as agências internacionais, as perseguições de militares continuaram hoje e foram mortos, pelo menos, três adolescentes.
O massacre de segunda-feira reprimiu uma manifestação não-autorizada de oposicionistas à junta militar, que protestavam contra uma eventual candidatura de Moussa Dadis Camara às eleições presidenciais previstas para Janeiro, o que quebraria um compromisso anterior. Camara tomou o poder depois da morte do Presidente Lansana Conté, em Dezembro de 2008.
Na versão da oposicionista União das Forças Republicanas (UFR), os militares montaram uma armadilha: deixaram que o Estádio 28 de Setembro — alusivo à data em que, em 1958, os cidadãos da Guiné-Conacri votaram pela separação da França — se enchesse e começaram a disparar. “Os soldados dispararam sobre as pessoas e os que tentavam sair foram agarrados e mortos com baionetas”, disse à Reuters o activista dos direitos humanos Souleymane Bah.
Uma testemunha que se encontrava entre as dezenas de milhares de manifestantes, Abdoulaye Bineta Diallo, contou à AFP que “os militares cercaram o estádio e os Boinas Vermelhas [guarda presidencial] começaram a disparar. Ao princípio pensámos que era para intimidar, mas as pessoas começaram a cair, houve pânico e mais de cem mortos”. “Os manifestantes estavam desarmados”, garantiu.
“Isto vai provocar uma guerra civil, porque as pessoas não estão dispostas a perdoar aos militares, eles ultrapassaram os limites”, disse Diallo.
Soldados, “publicamente e em plena luz do dia, violaram mulheres”, disse Diallo — uma informação confirmada por diversas fontes de organizações humanitárias citadas pelos media internacionais. O presidente do ramo guineense da organização africana de defesa dos direitos humanos Raddho, Mamadi Kaba, disse também ter informações de que mulheres detidas foram violadas.
Ocultar carnificina
A UFR acusou a junta militar de pretender ocultar a dimensão da carnificina. “Foram vistos militares a recolher corpos nas ruas para os levar para o campo Alpha Yaya Diallo, sede da junta, provavelmente para evitar uma contagem precisa do número de mortos”, referiu em comunicado.
O massacre no país de 9,6 milhões de habitantes, dirigido por militares desde a independência, foi condenado pelas Nações Unidas, União Europeia, União Africana, que ameaça com sanções, e por diferentes países, designadamente a França, que suspendeu a cooperação militar e está a reexaminar o auxílio ao país. Numa declaração à Radio France International, Moussa Dadis Camara declarou-se “desolado” com a situação. “É dramático [...] Muito francamente estou muito desolado, muito desolado.”
Fonte: Público