O fenómeno Ricardo Araújo Pereira
Ricardo Araújo Pereira, de 35 anos, é um fenómeno de popularidade da televisão portuguesa. O humorista, guionista e actor principal do programa que esmiuçou os políticos e deu grandes audiências à SIC. Ele é o ‘cabeça de cartaz’ de ‘Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios’ e as opiniões são unânimes: “Ricardo Araújo Pereira é inteligente, culto, tem sorte e talento.” E tem a particularidade de ser desconcertante. Mas já foi um rapaz acanhado, talvez fruto da sua educação católica, no Externato da Luz, no Colégio São João de Brito e na Universidade Católica Portuguesa, onde se licenciou em Comunicação Social e Cultural com a nota final 13.
“Conheço o Ricardo há muitos anos, quando me fez uma entrevista para um jornal de faculdade. Muito tímido e muito simpático a falar do trabalho das Produções Fictícias (PF). Foi-me recomendado pelo Rui Zink, de quem julgo que foi aluno [curso de Escrita Criativa, na Universidade Nova]. Quando o conheci, vi o trabalho dele, gostei imenso e desafiei-o para trabalhar aqui. Passado pouco tempo ele estava com a equipa do ‘Herman 98’ (RTP 1)”, diz Nuno Artur Silva, fundador e director-geral das Produções Fictícias. E foi assim que começou a ‘desenhar-se’ o fenómeno, que se define como um homem de esquerda, benfiquista ferrenho e que preserva a vida privada. Ainda assim, sabe-se que nasceu em Lisboa, é casado com a produtora de rádio Maria José Areias, com quem tem duas filhas, Rita e Maria Inês, de 6 e 2 anos. Foi jornalista no ‘Jornal de Letras’, vive na Margem Sul e só aos 5 anos conseguiu fazer rir a avó.
“Quando o Ricardo entrou nas PF sabíamos que era militante do PCP. Chegou a ir para a Festa do Avante! servir cervejas (risos). O Ricardo era um cocktail engraçado: militante do PCP, aluno da Católica e adepto do Benfica”, recorda Nuno Artur Silva. E continua: “Julgo que terá saído do Partido Comunista pouco tempo depois de ter entrado nas PF mas penso que continua a ter a mesma cor política.” O que nunca abandonou foi mesmo o seu clube da Luz. “O Ricardo é um benfiquista ferrenho. Encontro-o diversas vezes no estádio e sei que vive intensamente os jogos”, conta Francisco Penim, ex-director da SIC e actual colunista do CM.
O reconhecimento do engenho de Ricardo Araújo Pereira como escritor de humor nas Produções Fictícias foi imediato. É ele que leva Miguel Góis e Tiago Dores para a produtora. A primeira criação do quarteto aconteceu em 2001 com ‘O Programa da Maria’. É nesse ano que Ricardo começa a fazer ‘stand-up comedy’, juntamente com Zé Diogo, e mais tarde fazem sketches para o programa ‘O Perfeito Anormal’ (SIC), de Nuno Markl e Fernando Alvim. Terá sido na sequência desta participação que chegam a Francisco Penim, então director da SIC Radical, que os desafia a fazerem um programa no canal. Criam um blogue com o mesmo nome, Gato Fedorento, inspirado no tema ‘Smelly Cat’, interpretado pela personagem Phoebe (Lisa Kudrow), na série ‘Friends’. Recebem 1500 euros por programa. “A transmissão abusiva do sketch que fez o País repetir a frase ‘eles falam, falam...’ catapultou Araújo Pereira para a fama”, diz Penim. O fenómeno aumentou na internet, onde eram muito procurados por públicos que excediam o da SIC Radical.
“O Ricardo é um artista muito completo: escreve, representa... É a figura principal do quarteto, que tem uma forma de trabalhar muito partilhada”, diz Nuno Artur Silva. A crítica política esteve sempre presente em todos os seus programas mas as caricaturas a personalidades da política e do futebol são das mais peculiares. Nem todas correram bem. Pinto da Costa, presidente do FCP, não gostou do ‘retrato’ e processou os ‘Gato’ por difamação. Já Paulo Bento, treinador do SCP, percebeu a dica de Ricardo e passou a evitar dizer “com tranquilidade”. Também Alberto João Jardim achou “piada à imitação” e Paulo Portas, líder do CDS-PP – cuja entrevista, na SIC, foi a mais vista – considera Ricardo “muito talentoso”.
GATO
Trabalham em equipa mas é Ricardo o mais mediático. Eles são autores e actores dos próprios textos e em ‘Esmiúça os Sufrágios’ têm quatro jornalistas a fazer pesquisa.