Quando a Apple voltar a revolucionar


Especialistas e analistas de mercado, profissionais da tecnologia, jornalistas, entusiastas e consumidores mais atentos - todos estão à espera que a Apple faça hoje a proeza de mudar o rumo de uma ou duas indústrias, tal como já fez com o mundo da música, quando lançou o iPod e a loja iTunes. Desta feita, as expectativas centram-se na indústria livreira e, sobretudo, na imprensa. Mas espera-se que o aparelho toque quase todas as áreas do consumo de informação e do entretenimento doméstico.

É certo que ainda não há sequer uma nesga de informação oficial sobre o produto que a Apple vai lançar esta tarde (às 18h de Lisboa), em S. Francisco, nos EUA. Mas há meses que toda a gente dá como certo que será um tablet - ou seja, um computador pequeno, fino, sem teclado, com um ecrã sensível ao toque e vocacionado para a navegação na Web e para o consumo de livros, videojogos, jornais, revistas e filmes - é aquilo que já foi chamado um "computador de sofá".

Os rumores na blogosfera e os artigos na imprensa com base em fontes anónimas já renderam milhares em publicidade gratuita (de resto, nada a que a Apple não esteja habituada). E as expectativas estão muito altas, até porque a companhia liderada por Steve Jobs não faz um grande anúncio há três anos, altura em que mostrou o iPhone, que rapidamente se tornou num ícone do mundo dos telemóveis (muito embora não seja sequer líder de mercado). Foi, aliás, precisamente o iPhone que começou a abrir caminho para o aparelho que deverá ser hoje revelado.

Todas as indicações (oriundas sobretudo de pequenas fugas de informação por parte de empresas que têm estado a trabalhar com a Apple no desenvolvimento de serviços para o novo computador) apontam para um ecrã a rondar as dez polegadas (o tamanho típico de um ecrã dos pequenos netbooks) e equipado com uma evolução do sistema operativo que actualmente integra o iPhone e o iPod Touch (o Touch é um iPod semelhante ao iPhone, mas sem o telefone e a câmara).

Não são, contudo, as características técnicas a fazer com que a Apple seja vista como a empresa mais bem colocada para comercializar um tablet com sucesso (até porque muitos outros fabricantes já o tentaram). E também não é a capacidade mediática da marca e de Steve Jobs, com a sua legião de consumidores fiéis, o factor decisivo. O grande trunfo, têm notado muitos analistas, é o iTunes, com o seu sistema de venda de conteúdos (música, séries, filmes), e a loja de aplicações que a Apple montou em torno do iPhone.

Agora, no grande ecrã

A loja de aplicações da Apple está aberta a qualquer pessoa ou empresa que queira desenvolver programas para o iPhone. Muito à frente dos números da concorrência, a loja ronda as 100 mil aplicações disponíveis.

Da mesma forma que é possível descarregar canções, podcasts e audiolivros do iTunes, estas aplicações podem ser transferidas directamente para o telemóvel, gratuitamente ou por preços que vão dos 79 cêntimos às dezenas de euros. E há aplicações para todos os gostos e necessidades: videojogos (que têm sido uma aposta forte), aplicações para interagir com as redes sociais, dicionários e enciclopédias, programas de edição de texto, listas de farmácias de serviço, diagramas de redes de transportes públicos, guias turísticos. Em princípio, é possível transpor tudo isto para o novo aparelho - com os benefícios de um ecrã muito maior.

"A Apple tem toda a vantagem em usar esta infra-estrutura que já tem montada", explica Benjamim Junior, co-fundador do Sapo e responsável pelo desenvolvimento de aplicações multiplataforma deste portal.

Frisando que ainda nada se sabe de concreto, Junior observa que, "se lançar um tablet", a Apple vai beneficiar dos canais de distribuição de conteúdos que já tem instalados em dezenas de países e dos muitos programadores que têm desenvolvido aplicações para o iPhone ou mesmo para outras plataformas móveis.

Com o iPhone, a Apple aprendeu também a criar ecrãs tácteis com interfaces de utilização muito simples, nota Junior. "Um utilizador pode não estar no segmento do iPhone [que custa centenas de euros]. Mas, depois de alguns dias de uso, tem de se render à facilidade de utilização". Da mesma forma, um tablet da Apple será, previsivelmente, fácil de usar. "Toda a questão vai centrar-se em torno da usabilidade e de quão fashion o produto será".

Benjamim Junior defende ainda que um computador deste género não substituirá os portáteis convencionais nem os smartphones. "Servirá para quando for de comboio e quiser ler um livro, ou para uma ligação ocasional à Internet".

A leitura de livros electrónicos é precisamente um dos sectores onde se espera que a Apple aposte. Já há quem leia no pequeno ecrã do iPhone e tanto a Amazon como a gigante livreira Barnes & Noble desenvolveram aplicações para este telemóvel.

A Amazon, de resto, e para amortecer o choque de um tablet com funcionalidades de leitor electrónico, anunciou a semana passada que ia abrir uma loja de aplicações para o Kindle. Este leitor, contudo, tem a vantagem de ter um ecrã de tinta electrónica, a preto e branco, o que significa menos cansaço para os olhos, um menor gasto de energia e uma melhor leitura ao ar livre e noutros ambientes de grande luminosidade. Mas também significa que não serve para muito mais do que a leitura de texto.

Há também muitas aplicações que permitem ler revistas e jornais. Todos os grandes jornais mundiais têm uma aplicação própria para o iPhone. Revistas (como a americana Esquire) já vendem uma versão específica para o telemóvel da Apple, mais barata do que a edição impressa.

O presidente da Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social, João Palmeiro, acredita que a imprensa poderá usar este género de plataformas para rentabilizar os produtos jornalísticos - seja através de um sistema de pagamentos (como algumas publicações já usam no iPhone), seja através de publicidade, algo que muitos títulos (como o New York Times, por exemplo) já estão a fazer no telemóvel da Apple.




Fonte: Público

POSTED BY Joana Vieira
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